sexta-feira, 22 de maio de 2009

etéreo

E o que é o fim, se não um novo começo? Outra mania besta essa de pensar que ponto final é fim de linha. As coisas tem um começo e um meio, e uma hora, cedo ou tarde, hão de ter um fim também. O ponto final é o limite entre uma frase e outra e não necessariamente o fim do conto, da história. E uma vida é feita de muitas frases, muitos contos, muitas histórias... No entanto é difícil encontrar a linha tênue do limite entre elas... De onde começa uma, onde termina outra, ou onde ambas se encontram e se misturam, quando assim deve ser. Quando assim pode ser. E ir começando histórias, e juntando os meios, e embaralhando os fins? Não, acho que não serve... Mas de que é feita uma história? De fatos somente? E do que são feitos os fatos, de que matéria? Engana-se quem tenta entender as coisas dessa maneira, porque não, não são feitos só de matéria, mas também de sutilezas, da parte etérea que em dado momento se tornou palpável... ou então evaporou... E é a parte que evapora, que paira no ar, que flutua, que se sente mas não se explica, que na maioria das vezes é a mais importante... Porque então, contraditoriamente, é sempre relevada, esquecida, deixada passar despercebida? Não sei... (Mais um não sei...) Se como já disse Lispector, "Pensar é um ato. Sentir é um fato." , porque ainda complicamos tudo pensando, ao invés de sentir apenas? Porque sentir é tão mais fácil, natural... Enquanto que pensar é um esforço vão, já que o que pensamos nem sempre pode ser compreendido, e quase nunca, precisa ser. Deixemos o pensar para as coisas sólidas do dia-a-dia, para a rotina entediante das obrigações (quando não se puder fugir delas), para quando o ócio não puder confortavelmente fazer-se presente, para as coisas materiais e as que demandam realmente de pensamentos, interpretações e até escolhas. Sintamos com leveza os fatos, deixemo-nos levar por eles, sentindo apenas, e às vezes até evaporando com eles, quando assim nos for conveniente. Deixemos que nosso corpo todo, e não somente nossos olhos, vejam os detalhes sutis do infinito que nos envolve! Troquemos então os pontos finais por reticências... Que podem ser usadas no começo, no meio ou no fim das frases... Deixemos espaços nas entrelinhas, para quem quiser subentender seu prório etcetera, seu próprio algo mais... Flutuemos, suave e delicadamente, entre tudo que é etéreo. Porque um dia seremos também... voltaremos a ser... como nos sonhos somos...


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