sexta-feira, 15 de maio de 2009

da leitura de ontem a noite...

Rimbaud, "Uma Temporada no Inferno"

prosa...
fui ao limbo e voltei - ilesa...
ele foi ao inferno e por lá ficou - e escreveu:

"Oh, todos os vícios, cólera, luxúria - magnífica, a luxúria - , sobretudo a mentira e a preguiça. (...) Sem me servir para viver de fato do meu corpo (...) tenho vivido por toda parte. (...) A quem me alugar? Que animal é preciso que adore? Que santa imagem nos agredirá? Que corações partirei? Que mentira devo sustentar? Em que ânimo avançar? (...) Recebi no coração o golpe da graça. Ah! não tinha previsto isso. Não fiz o mal. Os dias me serão leves, o arrependimento poupado. (...) Rápido! existem outras vidas? (...) O tédio já não é meu amor. As raivas, as farras, a loucura, de que sei todos os ímpetos e os desastres - larguei meu fardo inteiro. Vejamos sem vertigem a medida da minha inocência. (...) Não sou prisioneiro da minha razão. (...) Não sinto falta da moda dos corações sensíveis. Cada um tem sua razão, desprezo e caridade: mantenho o lugar no topo dessa angélica escada de bom senso. Quanto à felicidade estabelecida, doméstica ou não... não, não posso. Sou dissipado demais, fraco demais. A vida floresce pelo trabalho, velha verdade: eu, minha vida não é tão pesada, se alça e flutua longe acima da ação, essa apreciada exigência do mundo. (...) Farsa permanente! Minha inocência me fará chorar. A vida é a farsa a levar por todos. (...) Ah! Os pulmões ardem, as fontes pulsam! A noite me passa pelos olhos, neste sol! (...) Fogo! fogo em mim! Aqui! ou me rendo. (...) - Me acostumarei."

(em Mau Sangue) tradução de Paulo Hecker Filho

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