terça-feira, 21 de junho de 2011

Anoitecer

É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo

É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.

É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.

Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Quase Azulão

Sobre minhas rendas brancas
caíram umas flores azulão
se ajeitaram nas minhas ancas
e me prenderam ao chão

Eu No Sol

Fiquei distante. Estava no Sol...
Se era manhãzinha, eu de olhos entreabertos, absorvia a luz, e tudo que eu via eram os cílios dourados do Sol roçando os meus. Bom dia. Assim, de um sonho para outro. Logo estava quente. E os dias eram quentes, todos...