terça-feira, 30 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

dos espinhos

Como escrever quando falta amor?

Apenas deixando as palavras caírem, assim como caem as folhas na estação que começa... Como caem as lágrimas quando não seguro o choro.

Como as árvores se desfazem do que já não serve, me desfaço aqui desses meus versos...

Hoje, e somente hoje, dispenso o supérfluo.

Fico apenas com o que é meu, de certo. Sem dúvidas e oscilações, sem medo e sem vaidade. Sem máscara e sem maquiagem.

Escrevo hoje só espinhos, esquecendo que sou flor.

Perdi minhas frases doces pelo caminho... Fingi ser arte o que sabia ser dor.

E mesmo que hoje me falte, sei que ainda assim, é o amor...

Primeiros Conselhos do Outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
- Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em asperrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devesa,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da ilusão!

Mais valera a tua alma visionária,
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba varia,

(Sem ver uma só flor das mil, que amaste,)
Com ódio e raiva e dor - que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!

(Antero de Quental)

quinta-feira, 18 de março de 2010

song around the world


Um poema nunca é terminado, apenas abandonado.

(Paul Valéry)

Solemnia Verba

Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura, fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...

Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E a noite, onde foi luz a Primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!

Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do pensar tornado crente,

Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se isto é vida,
Nem foi demais o desengano e a dor.

(Antero de Quental, in "Sonetos")

terça-feira, 16 de março de 2010

22:55

Sêmen



"one ejaculation
contains the same amount of
proteins, vitamins, minerals
and amino acids as
eight ounces of steak,
ten eggs, six oranges
and two lemons"

toda mafalda

segunda-feira, 15 de março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

e a caravana se vai...

fechando a corrente


"O adeus de uma feiticeira é como a poeira da estrada; ele se fixa nela quando alguém tenta soltá-lo."

(Florinda Donner Grau)

PEÇONHA:

s. f.1. Secreção venenosa de alguns animais.2. Por ext. Veneno.3. Fig. Coisa nociva à saúde, prejudicial aos bons costumes.


quarta-feira, 10 de março de 2010

La Gozadera

"Eu sempre estive entre aspas. Ficar triste é um sentimento tão legítimo quanto a alegria. Reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira pra fazer alguma coisa que nunca foi feita. Queria não me sentir tão responsável pelo que acontece em meu redor. Felicidade é a combinação de sorte com escolhas bem feitas. Pessoas com vidas interessantes, interessam-se por gente que é o oposto delas. Emoção nenhuma é banal se for autêntica. Dar certo não está relacionado ao ponto de chegada, mas ao durante. O prazer está na invenção da própria alegria, porque é do erro que surgem novas soluções, os desacertos nos movimentam, nos humanizam, nos aproximam dos outros. Enquanto o sujeito nota 10, nem consegue olhar pro lado, sob pena de ver seu mundo cair. O mundo já caiu baby, só nos resta dançar sobre os destroços."

(Martha Medeiros)

o homem de chapéu II


sempre na espreita...

terça-feira, 9 de março de 2010

O Morcego

Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vêde:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.


“Vou mandar levantar outra parede…”
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!


Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!


A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!


(Augusto dos Anjos)

segunda-feira, 8 de março de 2010

seo sete

Agora entendi! Era ele lá, rindo, de chapéu... Antes de eu conhecê-lo pelo nome, por esse nome que o conheço hoje. Estava me avisando... Ele falou, ele me mostrou tudo antes de acontecer e me avisou... Teimosa! Do jeito que ele me mostrou...

outra rosa


"LINDA MORENA FORMOSA

ME DIGA QUEM VOCE É,


TU ÉS A DONA DA ROSA..".

O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono.
Para a mulher, um altar.
O trono exalta.
O altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz; o coração produz Amor.
A luz fecunda.
O Amor ressuscita.
O homem é forte pela razão.
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence.
As lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos.
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece.
O martírio sublima.
O homem tem a supremacia.
A mulher, a preferência.
A supremacia significa a força.
A preferência representa o direito.
O homem é um gênio; a mulher, um anjo.
O gênio é imensurável; o anjo, indefinível.
Contempla-se o infinito.
Admira-se o inefável.
A aspiração do homem é a suprema glória.
A aspiração da mulher é a virtude extrema.
A glória faz tudo grande.
A virtude faz tudo divino.
O homem é um código.
A mulher, um evangelho.
O código corrige.
O evangelho aperfeiçoa.
O homem pensa.
A mulher sonha.
Pensar é ter no crânio uma larva.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é um oceano.
A mulher um lago.
O oceano tem a pérola que adorna.
O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa.
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.
O homem é um templo.
A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos.
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
E a mulher onde começa o céu.

(Victor Hugo)

em homenagem ao Dia da Mulher



domingo, 7 de março de 2010

pergunta:


(Cacau Brasil / omistériootempoempoesias)



Carry me, caravan take me away....



...yes, I know you can

sábado, 6 de março de 2010

Por que eu quero-te beber!


(foto - e unhas - da Prica)


Dá-me pois olhos e lábios;
Da-me os seios, da-me os bracos;
Da-me a garganta de lírio;
Dá-me beijos, dá-me abracos!

Empresta-me a voz ingênua
Para eu com ela orar
A oração de meus cantos
De teu seio no altar!

Empresta-me os pés, gazela,
Para que eu possa correr
O vasto mundo que se abre
Num teu rir, num teu dizer!

Presta-me a tua inocência,
Para eu ir ao ceu voar...
Mas acende cá teus olhos
Para que eu possa voltar!

Por Deus to peço, senhora,
Que tu mo queiras fazer;
Da-me os cílios de teus olhos
Para eu adormecer;

Por que, enquanto os tens abertos,
Sempre para aqui a olhar,
Nao posso fechar os meus,
E sempre estou a acordar!

Pela Santa-Virgem peço
Que tu me queiras sorrir;
Por que eu tenho um lírio d'ouro
Há três anos por abrir,

E, se Ihe deres um riso,
Há-de cuidar que e a aurora...
E talvez que o lírio se abra,
Talvez que se abra nessa hora!

Por Alá, minha palmeira!
Quando ao sol me for deitar,
Faze sombra do meu lado...
Por que eu quero-te abracar!

D'amor te requeiro, ondina,
Quando te fores a erguer,
Ver-te no espelho das fontes...
Por que eu quero-te beber!


(Antero de Quental)


sexta-feira, 5 de março de 2010

Plenilúnio

Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse alampadário.

E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vário.

Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.

Ah! como a branca e merencórea lua,
Também envolta num sudário — a Dor,
Minh'alma triste pelos céus flutua!

(Augusto dos Anjos)

e da Morte e do Amor...

("The End of Days" / CALMA)


"Mors - Amor"

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: “Eu sou a Morte!”
Responde o cavaleiro: “Eu sou o Amor!”

(Antero de Quental)

mais do Medo

Medo

Quem dorme à noite comigo?
É meu segredo, é meu segredo!
Mas se insistirem lhes digo.
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo!

E cedo, porque me embala
Num vaivém de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.

Que farei quando, deitado,
Fitando o espaço vazio,
Grita no espaço fitado
Que está dormindo a meu lado,
Lázaro e frio?

Gritar? Quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.

(Reinaldo Ferreira)

quinta-feira, 4 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

Too Hot to Handle

It's just another day...

Every day she takes a morning bath, she wets her hair
Wraps a towel around her as she's heading for the bedroom chair
It's just another day

At the office where the papers grow she takes a break
Drinks another coffee and she finds it hard to stay awake
It's just another day

As she posts another letter to the sound of five
People gather 'round her and she finds it hard to stay alive
It's just another day


abrindo a corrente cigana...

O cigano desliza por encima da terra
não podendo acima dela, sobrepairado;
jamais a toca, sequer calçadamente,
senão supercalçado: de cavalo, carro.

O cigano foge da terra, de afagá-la,
dela carne nua ou viva, no esfolado;
lhe repugna, ele que pouco a cultiva,
o hálito sexual da terra sob o arado.

De o­nde, quem sabe, o cigano das covas
dormir na entranha da terra, enfiado;
dentro dela, e nela de corpo inteiro,
dentros mais de ventre que de abraço.
Contudo, dorme na terra uterinamente
dormir de feto, não o dormir de falo;
escavando a cova sempre, para dormir
mais longe da porta, do sexo inevitável.



(João Cabral de Melo Neto - Nas covas de Baza)

terça-feira, 2 de março de 2010

Sombras e Luz




(SESC Pompeia / Cité des sciences et de l’industrie)

Ontem à noite - CENA 1


São Paulo, Centro

Uma mulher acorda.


É muito cedo ainda, e ela está sozinha.
A cama, tão pequena durante a noite, agora parece enorme. Fria.
Lugar estranho, sórdido. Não lembra de como pegou no sono.
Um misto de medo e alívio... Medo, por ter dormido, ali, quietinha, chorando e bêbada. Alívio, por ter acordado, e por estar sozinha agora...
Atormentada pela noite passada, por tudo que aconteceu ela resolve começar a tentar entender...

Sem saber por onde começar, enrola um baseado... A fumaça há de ajudar!
Merda, não tem café-da-manhã... Não tem nada, nunca tem nada...
Percebe-se nua, e fecha a cortina - que ficou aberta a noite toda. Tranca a porta (ufa, ainda bem que tem a chave!).
Não quer nem em pensamento correr o risco de que alguém a veja em seu ataque de insanidade matinal.
Baseado aceso, resolve começar... Não sabe por onde... Foda-se, há que se começar por algum lugar!

Liga o som...

Vamos lá, vamos lá...
- "Deus! Que lugar é esse?" Está sóbria, e pensa: "Olha onde eu vim me enfiar..."
Gavetas! Comecemos pelo óbvio...
Nada. As gavetas ali não são nada óbvias.
Talevz encontre alguma coisa no alto... Onde subir? Hum... banco de rodinhas... meio perigoso... mas pra quem passou a noite aqui (outra noite) é matineé...
Nada no alto também... só teias de aranha. Aranha. Medo!
Que mais, que mais? "- Caralho, alguma coisa tem que ter, onde mais?"
Cesto de roupa suja!
- "Roupas ao chão!" (Ela canta e dança, se diverte sozinha com sua sua loucura...)
Revista todos os bolsos, dinheiro, documentos... Nada. Nada além dos vestígios dela mesma.
Sono e frio. Acabou o baseado e não tem cigarros. E agora tudo está ainda pior, com a bagunça que acaba de fazer... Merda, merda².

Tenta dormir mais um pouco, afinal é cedo ainda... Não consegue. Rola na cama, que de tanto frio chega a sentir calor! A luz atrapalha, e o barulho da rua, buzinas, freadas... Até o telefone, que tocou (no mudo) a noite inteira, agora está quieto, atrapalhando... Tão cedo...
Não tem mais nada para ela ali. Nem o sono.
Se veste, e se maquia, com minúncia. (Quem sai maquiada a essa hora da manhã?)
Chega, chega dessa loucura, chega desse lugar...
Procurou, procurou, virou e revirou, pôs do avesso, de cabeça pra baixo, e não encontrou. Nada. Frustração e alívio (de novo alívio)... frustração por ter chegado ao fim sem recompensa. Achou nada...
Alívio, porque no fim das contas, queria era não ter achado mesmo... E ai se tivesse achado...
Ai se tivesse...

O elevador chega.

(continua)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Um tordo avisou que é março

III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio líquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março


(Manoel de Barros)