sábado, 30 de maio de 2009

"Wilderness"



"Some wild fires
Searchout
a dry quiet kiss on leaving"

(James Douglas Morrison)
hoje eu sonhei com o próprio...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

sobre rendas, arabescos e sentidos

E ponho conta dos meus prós e contras, logo de cara, uma renda rasgada. Uma só, dentre tantas, não há de ser nada... a preferida... antes a renda, que outras tenho em reserva, do que o velho amor, guardado em conserva... Único. E uma meia dúzia de palavras tortas e afiadas, perguntas sem resposta, entrelinhas ignoradas...
Acolho no peito, outro querer desfeito - este guardo no cofre violado, com dono e sem rumo, a cambalear descompensado.
Na pele os lembretes que trago estampados aos olhos dos outros são meros enfeites - arabescos ocultos, segredos velados.
Da boca me saem palavras vazias, ambíguas de sentido... algumas mentiras, vez ou outra um gemido... histórias mal contadas, contos sem fim... verdades inventadas... veneno e cura de mim.
Pelos olhos penetram-me mundos etéreos, desfeitos em névoa, de sonhos interrompidos.
Absorvo com os tímpanos melodias desconhecidas, levadas perdidas, sons abafados...
Inspiro vontade - prendo a respiração, satifaço minha verdade - e exalo inquietação.
E espalho meus versos ao sabor vento... Palavras, que não ditas, habitam meu pensamento... Frases, que esquecidas, se perdem no firmamento...

"...sou quem pode mais que Amor..."


"Eu sou o deus poderoso
no firmamento e na terra,
e no vasto mar undoso
e em tudo o que o abismo encerra
no seu báratro espantoso.
Nunca soube o que era medo;
tenho o mágico segredo
de conquistar o impossível,
e em tudo quanto é possível
mando, tiro, ponho e vedo.
Sou quem pode mais que Amor,
mas é o Amor que me guia.
Eu sou da estirpe maior,
que o céu cá no mundo cria,
mais conhecida e melhor.
(...)
Em mil conceitos discretos
a dulcíssima Poesia
a alma cheia de afetos,
vivos, suaves, te envia,
envolta entre mil sonetos.

(...)
Chamam Liberalidade
ao dar, quando se recusa
a ser prodigalidade
e ao contrário ser, que acusa
tíbia e tímida vontade.
Mas eu, por te engrandecer,
hoje pródiga hei-de ser,
que, se é vício, é vício honrado,
e de peito enamorado
que no dar se deixa ver.

(Miguel de Cervantes, em "Dom Quixote") - e a imagem é do Picasso...

quinta-feira, 28 de maio de 2009



- de volta ao abajour de lírios, aquele de onde vem os devaneios...

ela, que achava que sabia de tudo o que queria, quis um dia e não soube o quê... e sabendo só querer, quis muito, sem querer saber por quê...

agora ela não quer mais... talvez queira se não tiver... porque à luz branca dessa tarde, ela só sabe do que não quer...
voltaram, voltaram!
meus versos voltaram para mim!
acho que foi a lua...

que levou-os quando minguou...
quando nova, bem os guardou...
e agora no céu, linda, crescendo
trouxe-os de volta - me devolvendo!

de fazer chover



Que o céu fique negro!
E raios cortem a escuridão!
Quero ouvir cada timbre,
no som de cada trovão.

Tempestade, me leve embora,
que não quero mais ficar...
Venha buscar-me agora,
que não sei mais esperar...

Chuva de verão atrasada,
de deixar a rua molhada,
de fazer a menina pensar...

E ao fim dessa tarde pesada
dessa água cair derramada
eu possa enfim descansar...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

(...e para não deixar faltar sonho...)


"Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
Mas, quando despertei da confusão,
Vi que esta vida aqui e este universo
Não são mais claros do que os sonhos são

Obscura luz paira onde estou converso
A esta realidade da ilusão
Se fecho os olhos, sou de novo imerso
Naquelas sombras que há na escuridão.

Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
É a mesma mistura de entre-seres
Ou na noite, ou ao dia transferida.

Nada é real, nada em seus vãos moveres
Pertence a uma forma definida,
Rastro visto de coisa só ouvida."

(Fernando Pessoa, 1933)

terça-feira, 26 de maio de 2009

global-warming / quadras em série

("global warming" - Lobão)





.
para não deixar faltar arte... nem fogo!
(talvez só um pouco de fôlego)
.












... silêncio...
imã na escuridão
noite fora do tempo
conto de outro verão
...

intento, mais que vontade
encontra - não procura
do nada à necessidade
instinto - coisa pura...

sentido não faz falta
onde sobra intuição,
em horas de maré alta
movendo a imensidão
.

ele faz onda,
eu chamo de arte
...
mas esse conto é muito antigo,
e também é um caso à parte....

("quadras em série" vai se chamar...)



em branco...

Apagaram as flores! As flores que não eram flores! Vai ver, não gostaram, acharam quadradas demais para serem flores... Eu gostava... Quadradas, coloridas, todas iguais, bem parecidas... Porque eu ia andando despreocupada, e às vezes olhava para elas, e me sentia num jardim. Ainda encontro uma ou outra escondida, espalhada pelas redondezas, em alguma rua onde não ando. Mas aquelas eram diferentes, eram das minhas cores... Agora só tem um muro branco, branquíssimo, branco puríssimo... E a única coisa que traz alguma cor para ele são os gatos, quando estão. Não estavam hoje. Era dia; gato sai à noite... Só estava o velho muro, branco e silencioso. Talvez ele esteja esperando as cores (o muro). Talvez ele esteja esperando a tinta branca secar (do muro). Quem sabe amanhã, semana que vem, mês que vem, um dia qualquer que vem (e virá), quando eu passar, verei novas flores... alguma palavra ao contrário?... Quem sabe?... E serão de outras cores... talvez ainda das minhas cores... Ou não. Que esse dia que vem venha logo! Porque o muro está vazio, e os fins de tarde também... E o inverno se aproxima. E eu não gosto daquele tom de branco... Quero o jardim de volta! Imaginário, só eu sabia ser jardim... Vai, desenha de novo ele pra mim!

"Uma Temporada no Inferno"

"(...) Antes, se lembro bem, minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, todos os vinhos corriam. Uma noite, fiz a Beleza sentar no meu colo. E achei amarga. Injuriei. Me preveni contra a justiça. (...) Aguardo deus com gula. (...) Por hora sou maldito, tenho horror da pátria. O melhor é um sono bêbado na praia. (...) A gente não parte. Retoma o caminho, e carregando meu vício, o vício que lançou raízes de dor ao meu lado desde a idade da razão, e sobe ao céu, me bate, me derruba, me arrasta. (...) Engoli um senhor gole de veneno. - Três vezes abençoado seja o conselho que me deram! - As entranhas me ardem. A violência do veneno torce meus mebros, me torna disforme, me prostra. Morro de sede, sufoco, não consigo gritar. É o inferno, a pena eterna! Vejam como o fogo se ergue! Queimo como deve ser. (...) Pobre inocente! - O inferno não pode acometer os pagãos. - É a vida ainda! Mais tarde, as delícias da danação vão ser mais profundas. (...) Sinto cheiro de queimado, é certo. As alucinações são inumeráveis. É bem o que eu sempre tive: não mais fé na história, o esquecimento dos princípios. Não falo deles: poetas e visionários teriam inveja. Sou mil vezes mais rico, sejamos avaros como o mar. (...) Ah isto! o relógio da vida parou há pouco. Não estou mais no mundo. - A teologia é séria, o inferno é sem dúvida embaixo - e o céu, no alto. - Êxtase, pesadelo, sono num ninho de chamas. (...) Minha fraqueza, a crueldade do mundo! - Estoiu oculto e não estou. É o fogo que cresce, com seu condenado. (...) Ah! Sofro, grito. Sofro realmente. Mas tudo me é permitido, cheia de desprezo pelos corações desprezíveis. (...) Para mim. A história das minhas loucuras. (...) Foi primeiro um experimento. Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens. (...) Tive razão em desprezar os bons sujeitos que não perderiam a ocasião de uma carícia. (...) Tive razão em todos os desdéns; pois vou me evadir! (...) Uma vantagem é que posso rir dos falsos amores e causar vergonha a esses casais mentirosos - vi o inferno das mulheres - e me será lícito possuir a verdade numa alma e num corpo."

(Rimbaud, em fragmentos de "Mau sangue", "Noite do inferno", "Delírios I - Virgem louca", "Delírios II - Alquimia do verbo", "O impossível" e "Adeus" / poemas em prosa, reunidos em "Uma Temporada no Inferno" do outono de 1873)

e para não dizer que faltou verso:

"Mon ême éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.

Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...

- Jamais l'espérance.
Pais d'orietur."

(em "Faim", da Alchimie du Verbe , do mesmo livro, do mesmo outono...)

E isso de precisar das coisas?

Sexta precisei de um namorado,
Sábado de um sapato novo,
Domingo de um tricot preto...
Tudo me foi dado.
Segunda precisei de qualquer coisa que não tinha
sem saber o que era, continuei precisando...
E não senti o cheiro da chuva chegando,
e me molhei, e dormi, e sonhei...
Hoje é terça; preciso de livros novos
que os meus velhos já não me servem mais
mesmo os que ainda não li...
Preciso ressucitar um poeta morto
ou algum suicidado
um amigo assassinado
Pra me dizer coisas novas,
cantar alguma coisa incendiada,
recitar uma poesia malacabada,
contar as novidades do além,
essas coisas...
Eu não quero, eu preciso...
E se eu não tenho, invento outra,
mas querer não é comigo...
Só querer é muito pouco,
dá uma idéia de não ter...
Quem muito quer, muito fica sem.
Eu preciso logo,
que precisar é quase ser.
Se eu não tiver, posso morrer.
Mas não morro assim tão cedo,
que de não ter não morre ninguém.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

play it louder II

Play it louder babe,
if you don't I won't hear you...

Scream with me honey,
you can hit me if you need.
But please break this silence...

I was wondering if you know...
Pretend just for a moment that you know...
Let me see how it would be,
if you drag out these words from my mouth...

Ask me darling, ask me again
and again, and again, and again
until I say everything that I shouldn't
everything you don't need to know
until I expose all I want to hide...

And go asking me all the time,
don't let me forget to tell you my things...
Make me be like I was before,
when you used to be the only one
and there wasn't no space to any other
and you were always by my side...

And please, forgive me love...
For all those things I've been doing...
Forgive me about the things I'll keep doing
Beacuse I think I can't stop it now...
I'm afraid I can't stop, and you can't understand
Close your eyes to this mistakes
Put the blame on me, even when it is yours...

And play it louder, babe...
As louder as you can!
Play me louder honey...
Let's make a lot of noise,
don't let nobody sleep,
but don't wake up yet love
Play it louder again,
play me louder,
just one more time.

domingo, 24 de maio de 2009

play it louder I





Em alta velocidade - é como estamos quando me dou por mim, e o carro quente corta as avenidas, suave, como se fossem manteiga, deslizando por entre os outros carros, tirando da nossa frente um por um... a música, como sempre sempre, alta... tanto faz se é a minha ou a dele, está muito alta... e a velocidade também... e como quem abre os olhos depois de um sono profundo, começo a perceber então, passando por mim as ruas, a cidade, o relógio digital mostrando horas gêmeas de novo, e o vento frio encanado que entra da janela oposta me dá um arrepio e bagunça meu cabelo... volto por um instante para aquela hora, para aquela cena, para mais um ou dois tragos... mais um ou dois devaneios... mais dez ou vinte ultrapassagens... e chegamos. Um gato se esconde em baixo do carro da frente, mas eu ainda vejo seus olhinhos brilhando no escuro... Aonde chegamos? Aonde íamos mesmo? Eu não estava... Estava longe, muito longe, voando em algum céu distante... E quando descemos do carro, está mais frio. Estamos longe, e viemos rápido... E a noite é negra e sem lua... Completamente negra, como o carro do qual saímos, como os olhos e o cabelo dele, e a minha roupa e o meu sapato novo... Façamos mais fumaça, para tentar enxergar alguma coisa através dela! A música então fica mais alta, e começa a repetir, no frenesi do ritmo inacabado ainda, incompleto... E cada vez mais, no meio de tanto barulho, eu fico sem saber, não onde estou, mas por quê estou... outra noite daquelas... Do lado de dentro a fumaça como um véu, se tornou visível, densa, e as paredes cobertas de sonex e ondas de som reverberam o kick, o baixo, a bateria, cada sampler, a cento e quarenta e tantos bpm... as notas vão aparecendo e se conectando umas nas outras em uma das telas coloridas, escolhidas a esmo até soar bem aos ouvidos, numa escala estranha, que no fim sempre lembra um espiral... E assim, outra melodia vai surgindo... Imagino um vocal para esta melodia, alguma coisa sussurrada, voz de mulher, quase uma súplica, quase um gemido... Canto para mim mesma algumas vezes tentando achar o tom... Canto para ele... E logo hoje, que estou cheia de idéias, estamos sem microfone... Saio para respirar, e do lado de fora, lá longe, no alto do morro, aquela palmeira solitária chama meu olhar de novo... Porque será que aquele é o primeiro lugar onde os olhos alcançam quando vejo aquele morro? Não sei, mas estou de volta. Os cachorros estão presos no canil, mas o gato continua escondido... Volto para dentro, para o barulho. E estou presa de novo, como os cachorros... Como a fumaça e o som, que não podem sair e acordar os vizinhos, hora dessas. Como a minha voz, presa nesse instante sem microfone, nesse fragmento de música sem começo meio e fim ainda... É o que temos para hoje... So, play it louder! So please, play me louder...

(continua...)

the next time around


One too many goals
That measure out your worth
To seek your weight in gold

Sat by the ivory sill
The further out you look
The further out you'll be

It's not enough to set the terms
If nothing ventured, nothing earned
Though odds are set against

In time, I'll belong to you
It's how it's meant to be

Settled on your own
Sweeping dust from stones
With a letter home

Back where the hour's long
The simplest things invite a thrill
If just by noticing at will

It's not enough to set the terms
If nothing ventured, nothing earned
It's how it's always been

E onde a sorte há de te levar
Saiba, o caminho é o fim, mais que chegar
E queira o dia ser gentil
À tua mão aberta pra quem é

In time, I'll belong to you
That's how it's meant to be
And how it's always been

(Fabrizio Moretti)

de dançar em volta da fogueira:









...the men don't know, but the little girl understand...






...


sábado, 23 de maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

"A Kiss for the Whole World"

(Gustav Klimt)

volátil

Se eu pudesse chegar em pensamento
E não deixar evaporar
Isso que tão etéreo como o álcool
Me consome embriagado em olhos e palavras
Que enxergam esse mesmo etéreo
Estaria outra vez, dentro a costurar
Fatos que ainda não vi








...

(Cibelle)

etéreo

E o que é o fim, se não um novo começo? Outra mania besta essa de pensar que ponto final é fim de linha. As coisas tem um começo e um meio, e uma hora, cedo ou tarde, hão de ter um fim também. O ponto final é o limite entre uma frase e outra e não necessariamente o fim do conto, da história. E uma vida é feita de muitas frases, muitos contos, muitas histórias... No entanto é difícil encontrar a linha tênue do limite entre elas... De onde começa uma, onde termina outra, ou onde ambas se encontram e se misturam, quando assim deve ser. Quando assim pode ser. E ir começando histórias, e juntando os meios, e embaralhando os fins? Não, acho que não serve... Mas de que é feita uma história? De fatos somente? E do que são feitos os fatos, de que matéria? Engana-se quem tenta entender as coisas dessa maneira, porque não, não são feitos só de matéria, mas também de sutilezas, da parte etérea que em dado momento se tornou palpável... ou então evaporou... E é a parte que evapora, que paira no ar, que flutua, que se sente mas não se explica, que na maioria das vezes é a mais importante... Porque então, contraditoriamente, é sempre relevada, esquecida, deixada passar despercebida? Não sei... (Mais um não sei...) Se como já disse Lispector, "Pensar é um ato. Sentir é um fato." , porque ainda complicamos tudo pensando, ao invés de sentir apenas? Porque sentir é tão mais fácil, natural... Enquanto que pensar é um esforço vão, já que o que pensamos nem sempre pode ser compreendido, e quase nunca, precisa ser. Deixemos o pensar para as coisas sólidas do dia-a-dia, para a rotina entediante das obrigações (quando não se puder fugir delas), para quando o ócio não puder confortavelmente fazer-se presente, para as coisas materiais e as que demandam realmente de pensamentos, interpretações e até escolhas. Sintamos com leveza os fatos, deixemo-nos levar por eles, sentindo apenas, e às vezes até evaporando com eles, quando assim nos for conveniente. Deixemos que nosso corpo todo, e não somente nossos olhos, vejam os detalhes sutis do infinito que nos envolve! Troquemos então os pontos finais por reticências... Que podem ser usadas no começo, no meio ou no fim das frases... Deixemos espaços nas entrelinhas, para quem quiser subentender seu prório etcetera, seu próprio algo mais... Flutuemos, suave e delicadamente, entre tudo que é etéreo. Porque um dia seremos também... voltaremos a ser... como nos sonhos somos...


quinta-feira, 21 de maio de 2009

fragmento

"(...) Ele sempre pede desculpas, e eu nunca entendo o motivo... acho que é porque ele pensa que fico brava, mesmo eu não estando. Ele nunca responde no dia. E eu nunca atendo na hora. E é de propósito... E quando eu quero ele não pode, e quando ele pode eu que não quero. De propósito também... É assim, complicado... Porque é pouco e só de vez em quando. Ele é aquele para quem você oferece um banquete, digno de todos os talheres e taças; Ele, sem pudor nenhum, come com as mãos, bebe no gargalo, e fica satisfeito logo com a entrada. Ele te leva para casa, mas se perde no caminho. Você faz uma surpresa e na hora ele nem percebe. Mas te conta um mês depois que adorou a surpresa aquele dia. E nunca faz perguntas cujas respostas não quer saber. E ri de todas as minhas piadas... Ri até quando não é piada. E quando quer alguma coisa, me leva para comer um doce, ou então em qualquer lugar onde eu queira ir - e assiste meu tempo (aquele que é quando). Me lê poesia, me leva à vernissages, museus, restaurante... Mas também me leva ao estádio, ao boteco, me leva pra casa no cano da bike... E me pede ajuda quando precisa, e escolhe por mim quando estou indecisa. Sempre diz que eu estou bonita, principalmente quando eu não acho... Aqueles dias em que o cabelo está horrível, o esmalte já lascou, e não deu tempo de fazer maquiagem; quando acabo de acordar, quando tomei toda a chuva de verão... ou depois de horas de skate, ou de pintar uma parede, essas coisas... Diz que nunca pode ir em casa, e quando eu chamo não vai... Escreve coisas de mim e não me deixa ler... Me faz um desenho e perde antes de me entregar... Está sempre calado. Ou cantando. Ou batucando, sonorizando qualquer coisa... é de longe, o menino mais bonito que eu já vi! E o mais sincero também, "sincericida" até eu o chamaria... Mas às vezes faz doce... Diz que sonha comigo, mas não lembra o enredo (duvido!) e quando viaja pra longe parece que volta com saudades urgentes... E vive arrumando pretextos para me levar pra casa dele, e uma vez estando lá, arruma outros tantos para não me deixar sair. Pode ser um filhote de cachorro, um filme antigo, a música nova ou o quadro velho, tanto faz... Me diz, como que querendo me ensinar, que amores antes de qualquer coisa, são amigos (...)"

(continua...)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Keep Me In Mind

"Read from start to end and again
hold the feelings which are crossing the brain
Strips the chord of a sensible word
And what's worse?
She left her mark
Indelible
Oh the nature of her scripted verse
Keeps my eyes
Set on the page
And it says
(...)
Keep me in mind"



(R. Amarante / F. Moretti - do Little Joy)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Unwritten Stories

Now, that old chains was broken,
and for you, all the gates are open.
Come and bring me your smell...
Take me out from this sweet hell!

Tell her everything I won't tell
Show me why did you come, as well
And there will be no more "I don't knows"
Let the world spin, undress our souls!

And I'll write our late nite tales
Like last autumn's endless night
Say in my words our secret details

Because now, after all these times,
I know that my scenes are still in your head,
and you know that is you, here, in my rhymes.


Verde I

Verde, da cor do mar em dia de tempestade. Triste e misterioso. Sombrio até eu diria... E eu sinto o peso desse olhar verde. Mesmo quando não o via, sabia que estava a me olhar, nesse verde azul cinza* escuro... Que me escolheu na chuva e no vento, fingiu dormir por um momento, riu da minha autoridade, achou graça ao me ver sem graça... Quebrou todas as regras, despiu minha vaidade! Tão verde ainda, tão simples... Como os acordes repetidos nas cordas que choram. E que se repetem, se repetem, e repetem, num transe quase sem fim. E quando acaba, fez-se a mágica! E a mágica é sempre uma melodia triste... E essa tristeza combina com o olhar verde, que a essa altura, já perdido e vermelho, por sua vez, combina comigo. E se esconde de novo... E eu já não procuro... Mas daria o meu reino, todos os meus reinos, em troca de algumas linhas daquelas...

(III, da série idéia fixa, dazantigas) a continuar...

*

"Cabeça a Prêmio"

não sei o nome de verdade desse desenho... mas eu gosto muito, e chamo de "Cabeça a Prêmio"... é do Raphael Kirchner, lá dos anos 20... O "inventor" das pin'ups...

ps: seria ela Salomé, com a cabeça de João Batista???

até o próximo ciclo...

É lindo ser mulher... Mas dói, e não é só no começo... Dói sempre. Dói quando tem de sangrar, a cada vez, todo mês. Dói quando tem de sorrir querendo chorar, dói quando tem de ir e na verdade se quer ficar... Dói porque eles sempre querem mais do que se quer dar. Dói, porque eles fingem não saber que fazem sofrer... Dói quando tem medo de escolher... Dói tanto que eu faço escrever, para tentar descrever, sem nem ao menos querer entender... Dói ser mulher... Mas é lindo, é sempre lindo... Poder chorar sem ninguém estranhar, passar na frente sem ter que esperar, comer um doce no lugar do jantar... E mesmo que doa, me é fácil... Porque a dor nasceu com a mulher, é parte nossa, castigo de Eva, culpa de Adão! É lindo sofrer assim... E viver de ciclos, infinitos ciclos, um começando onde o outro tem fim! E ser sempre a tentação, o olho do furacão, o relâmpago de cada trovão! É de causar inveja em qualquer garanhão! Há quem diga que é mais fácil ser homem - discordo em parte... Pode até ser mais fácil, mas deve ser mais sem graça, sem sal, sem pimenta! Por mais dolorido que seja ser fêmea, dói, mas a gente aguenta! Eles nunca saberão o que é um cio, ou um parto... Nem se as suas lágrimas são sinceras ou só teatro. Nunca poderão fingir um orgasmo, e nunca terão a certeza do seu. Nem se você é só dele, ou de mais um ou outro, que te mereceu. É fácil agradar um homem... Eles querem sempre as mesmas coisas... Logo, é fácil agradar dois homens... É tão fácil que eu acho mesmo que deve ser muito fácil agradar a todos os homens! Quem dera eu ser simples assim! Quem dera eu poder mandar em mim... Quem dera... Quem dera... Quem dera que nada! Sou mais ser mulher, viver de quimera! Que graça tem, viver sem mistério, sem dúvida, sem contradição? E ser sempre igual, sempre certo, sim ou não? Eu sou do talvez, do quem sabe outra vez, hoje na pista certa, amanhã na contramão. E vivo com emoção! Que eu bem gosto das minhas fases... De mudar de idéia, de ficar em dúvida, de brigar pra depois fazer as pazes... De ser eu e ainda ser ela, e ter o meu, o nosso, e o dela, sem se nem senão... E a cada ciclo uma nova inspiração... E a cada idéia uma nova inquietação... Tem sido assim desde a primeira menstruação... E se eu posso, me diz, porque não?

(E que assim seja - pelo menos até o próximo ciclo...)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

(FERNANDO PESSOA) não sei em qual pessoa...

domingo, 17 de maio de 2009

4 mãos


as 4 mãos que aqui escrevem

o soneto improvisado

A lua caía, triste, minguando
faltando bem uma metade...
O mar subia, revolto, estourando
cheio de onda, todo vaidade...

Um gato ruivo observando a espuma
de cima d'um toco, hipnotizado...
Soltando a fumaça, perdi na bruma
um soneto pronto, improvisado...

Noite fria, aquela, de outono
Noite vazia, aquela, sem sono
Contei estrelas até ficar dia...

Algumas caíram, e eu peguei!
Não pude dormir, mas sonhei
Madrugada fria na praia vazia...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Para Cobrir o Silêncio"


"Eu andarei vestido e armado com as armas de Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar."
(a foto é da Rachel, na Pinacoteca - exposição "Para Cobrir o Silêncio", de Marcelo Rangel)

o soneto equilibrista


Eis-me agora, no arame.
Equilibrista entre as minhas
duas vidas - sina infame,
me explicando nessas linhas...

Quero estar onde não vou;
Penso muito, então desisto
e sem querer, não me dou.
Balançando, assim existo...

Sou uma grande interrogação,
algum lugar entre o sim e o não,
o nada feito, a escolha nenhuma...

Pássaro que voa sem direção.
Mergulho profundo na escuridão.
A onda que foi, restou só espuma...

da leitura de ontem a noite...

Rimbaud, "Uma Temporada no Inferno"

prosa...
fui ao limbo e voltei - ilesa...
ele foi ao inferno e por lá ficou - e escreveu:

"Oh, todos os vícios, cólera, luxúria - magnífica, a luxúria - , sobretudo a mentira e a preguiça. (...) Sem me servir para viver de fato do meu corpo (...) tenho vivido por toda parte. (...) A quem me alugar? Que animal é preciso que adore? Que santa imagem nos agredirá? Que corações partirei? Que mentira devo sustentar? Em que ânimo avançar? (...) Recebi no coração o golpe da graça. Ah! não tinha previsto isso. Não fiz o mal. Os dias me serão leves, o arrependimento poupado. (...) Rápido! existem outras vidas? (...) O tédio já não é meu amor. As raivas, as farras, a loucura, de que sei todos os ímpetos e os desastres - larguei meu fardo inteiro. Vejamos sem vertigem a medida da minha inocência. (...) Não sou prisioneiro da minha razão. (...) Não sinto falta da moda dos corações sensíveis. Cada um tem sua razão, desprezo e caridade: mantenho o lugar no topo dessa angélica escada de bom senso. Quanto à felicidade estabelecida, doméstica ou não... não, não posso. Sou dissipado demais, fraco demais. A vida floresce pelo trabalho, velha verdade: eu, minha vida não é tão pesada, se alça e flutua longe acima da ação, essa apreciada exigência do mundo. (...) Farsa permanente! Minha inocência me fará chorar. A vida é a farsa a levar por todos. (...) Ah! Os pulmões ardem, as fontes pulsam! A noite me passa pelos olhos, neste sol! (...) Fogo! fogo em mim! Aqui! ou me rendo. (...) - Me acostumarei."

(em Mau Sangue) tradução de Paulo Hecker Filho

quinta-feira, 14 de maio de 2009



e o pesadelo da menininha... em todas as suas cores

"little nemo in slumberland"



o menininho que sonha!!!

Beijos Mortos

"Amemos a mulher que não ilude,
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa, por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos ao passado.

Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei, outrora, quanto pude,
porém mais deveria ter amado.

Choro. O remorso os nervos me sacode.
e, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero, inconsolado, explode.

E a causa desta horrível agonia,
é ter amado, quanto amar se pode,
sem ter amado, quanto amar devia."

(Martins Fontes)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

soneto da princesa moderna

meu príncipe não tem montaria
vem me ver em nave espacial
do tempo de ensonho, espiral
princesa moderna eu, quem diria!

veio em sonho, me entreter
e eu ardi, numa fissura
e sutilmente, e com doçura
fiz dele ser meu novo querer

o príncipe enlouqueceu!
não sai do meu pensamento
e dentre todo o firmamento
o lugar dele agora sou eu...

príncipe estranho, homem alado
homem de sonho, príncipe encantado

mais quintana...


Os Parceiros

Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.

Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste...
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.

Insiste em quê? Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro... eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se

numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...
Como também disfarce é a minha vida!

(Mário Quintana)

A Rua dos Cataventos II

Dorme, ruazinha... E tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos

Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...

O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha... Não há nada...

Só os meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração...

(Mário Quintana)
"Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê."

(Luis de Camões)

soneto inesperado

Lua Cheia no céu chamou - e eu saí...
Quis vê-la da rua, não da janela!
Não lembro onde foi que me perdi.
Nem sei se era eu ou se foi ela...

As palavras guardadas, eu que escrevi.
Mas os versos de acender são dela.
Procurei qualquer estrela mas não vi...
E ele, fingindo que não, pensava nela...

Inesperado, veio e ficou, sem dizer nada...
Pensamento dos outros não faz barulho.
Ela mudou de rumo e partiu pra estrada...

E depois, sem entender nada, eu voltei...
Então, ele quis os presentes sem embrulho!
A essa hora ela já sonhava - e eu acordei...

"Vamos fazer um filme?"

"(...) Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta (...)"
(renato russo / vamos fazer um filme?)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Verde?


(Gilberto Freyre)

verde, como sempre, e para sempre!

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
(...)
cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

(Drummond)

de volta aos felinos...



"Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu."

(Fernando Pessoa 1931) e a foto é do quadro do Lito...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Agora tragam-me ferros em brasa
e marquem meu corpo que eu estou forte.
Estabeleçam leis, e eu as transgredirei todas
e determinem padrões que eu os romperei.
Cortem minha cabeça.
Eu sobreviverei apenas com o coração."

(Glória Horta )
"O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos."

(João Cabral de Melo Neto)

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

(Cecília Meireles, 1962)

Pardalzinho


O pardalzinho nasceu

Livre.

Quebraram-lhe a asa.

Sacha lhe deu uma casa,

Água, comida e carinhos.

Foram cuidados em vão:

A casa era uma prisão,

O pardalzinho morreu.

O corpo Sacha enterrou

No jardim; a alma, essa voou

Para o céu dos passarinhos!


(Manuel Bandeira)


que saudades do meu psyrinho... meu pardalzinho...

Daniel na Cova dos Leões

"Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então salgado ficou doce,

Assim que o teu cheiro forte e lento

Fez casa nos meus braços e ainda leve
Forte, cego e tenso fez saber

Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero

E desafio o instinto dissonante.

A insegurança não me ataca quando erro

E o teu momento passa a ser o meu instante.

E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão

Teu corpo é meu espelho e em ti navego

E eu sei que a tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco

A motor e insistir em usar os remos,

É o mal que a água faz quando se afoga

E o salva-vidas não está lá porque

Não vemos"

(Renato Russo)


é que sonhei de novo... e viajei nas pinturas na rua...
"É difícil perder-se. É tão difícl que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
(and again, and again...)

onde estará o grande guardinha de chuvas?


?????????????????????????????????????????????????????????????????????

Queria ouvir música o dia inteiro! Música, música, muita música, "la musique avant toute chose" Que estou carente de ritmo... Ouvir os mesmos acordes de violão, perder no xadrez, desenhar junto no mesmo papel, e ler poesia... Ainda mais depois que me sei naqueles escritos... Meu reino em troca de ler aquele caderno! Mas não, ele jamais deixaria... Não estou ali para mim, nem para ninguém além dele mesmo... Hoje faz sol, mas eu bem queria saber onde estará o guardinha de chuvas? Eu sempre esqueço, mas depois vejo as flores que nem chegam a ser flores, e as palavras ao contrário nos muros do bairro, e sinto saudades... de todos os "eu nunca"... de brincar de "um finge dizer a verdade e o outro finge acreditar" e estar sempre tudo bem... De ver filme só até a metade, e ouvir música antiga e música de desenho, de criança... E dormir marcando o tempo da bateria, do baixo, de sei lá o quê... E acordar no meio da noite e ir embora sem dizer tchau... encontrar o tchau escrito em algum lugar, meses depois... Tão fácil que era. E a gente se perdia de madrugada voltando pra casa, e rodava a cidade inteira, sem rumo, sem hora, sem nada... Como se fôssemos os dois donos da noite, e a cidade inteira dormisse e só restassem nas ruas o vento e a fumaça, para nos fazer companhia e nos perdermos em paz...


quinta-feira, 7 de maio de 2009

"E não mentir é um dom que o mundo não merece..."

"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."

(Lispector, again...)

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,

Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.

Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,

Coração de ninguém.

(Fernando Pessoa, 1923)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Up from the skies

"I just want to talk to you. I won't do you no harm,
I just want to know about your different lives, on
this here people farm.

I heard some of you got your families, living in
cages tall & cold,
And some just stay there and dust away, past the
age of old.
Is this true? Please let me talk to you.

I just wanna know about, the rooms behind
your minds,
Do I see a vacuum there, or am I going blind?
Or is it just remains from vibrations and echoes
long ago,
Things like 'Love the World' and 'Let your fancy
flow',
Is this true? Please let me talk to you. Let me
talk to you.

I have lived here before, the days of ice,
And of course this is why I'm so concerned,
And I come back to find the stars misplaced
and the smell of a world that has burned.

The smell of a world that has burned.

Well, maybee, maybe it's just a change of
climate.
I can dig it, I can dig it baby, I just want to see.

So where do I purchase my ticket,
I would just like to have a ringside seat,
I want to know about the new Mother Earth,
I want to hear and see everything,
I want to hear and see everything,
I want to hear and see everything."

(Hendrix, Jimi Hendrix) adoro essa!




.

A arte de fazer escolhas


Queria saber quem inventou a idéia de que a "vida é feita de escolhas". Porque tem sempre que ser "ou" isto "ou" aquilo, "ou" ainda aquele outro. Porque a gente tem sempre que saber se casa ou se compra uma bicicleta... Será que não dá pra se ser feliz casado e andando de bike? A natureza nunca vi escolher nada... As coisas são e pronto. Eu acho que fazer escolhas é uma arte, que eu, particularmente, não domino... Tive de nessa vida, nascer libriana, e incorporar a balança! Só que a minha é um tanto quanto desajustada... Está sempre só pesando, ponderando... E eu termino escolhendo tudo, ou se preferir, não escolhendo nada... Porque escolher uma coisa implica em abrir mão de outra coisa. Essa é a parte difícil. "Ou" você fica do lado de dentro, "ou" você fica do lado de fora... Porra! E por que raios a porta não pode ficar aberta, para entrar e sair à mercê das vontades??? Agora faz calor, quero estar fora, mas depois, se esfriar, hei de querer estar dentro... Porque tem que escolher agora? E quando as opções são "o ruim" e o "pior ainda"? Eu morria de pena da Dorothy (do Mágico de Oz) que tinha que escolher entre a Bruxa Má do Leste e a Bruxa Má do Oeste... "- Dorothy, volta pra casa, dorme mais um pouco e depois você sai..." Mas depois fica tudo bem, porque ela acorda e vê que tudo não passou de um sonho...Um pesadelo - que seja - uma realidade paralela... Mas aqui no mundo não é assim... E são tantas as opções que eu nem sei o que querer, e quando eu penso que enfim escolhi, aparece ainda uma nova opção nova! Eu sou aquela que sai para comprar um sapato, mas no caminho se depara com uma loja de bolsas... Entra na loja, e compra uma bolsa, ou duas. Sai feliz da vida com a bolsa nova... esquecida do sapato. Sapato, que sapato? Aquele, que só vai lembrar quando chegar em casa, e for vestir aquela calça, que não tem um sapato (no meio dos sabe-se lá quantos pares) que combine! E vai querer o sapato. Mas que não vai se arrepender da bolsa, vai sair de novo e comprar o sapato... Mesmo já tendo gasto o $ na bolsa. Porque não dá para escolher entre sapato e bolsa. Assim como não dá para escolher "pé direito" ou "pé esquerdo", tem sempre que sair todo dia com os dois... Eu funciono (ou não) mais ou menos assim. Quero varar a noite em claro, e no dia seguinte, estar nova, como a que acorda de um sono profundo. Quero que faça sol quando chove muito e que chova quando está sol demais. Quero um chá bem quente e forte, de todos os sabores que tiver, só para no meio da mistura, separar cada aroma, um por um... Não dá pra ficar escolhendo entre uma coisa e outra, e eu assumo: sou da turma do "um é pouco, dois é bom, e três é melhor ainda". E, equanto eu puder, acho que vou continuar sendo... E quem não quiser que escolha por mim! Sem perguntas difíceis, nem explicações demoradas... Eu passo a bola - fico com a parte que me cabe... Seja ela qual for. E se não for também, tudo bem. Porque como já disse um dia a Florbela "o meu reino fica para além"!!!
E eu hoje vou passear!
"Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo."

(Alberto Caeiro) flutuando, pairando no ar...
Gozo Insatisfeito

Entre o gozo que aspiro, e o sofrimento
De minha mocidade, experimento
O mais profundo e abalador atrito...
Queimam-me o peito cáusticos de fogo
Esta ânsia de absoluto desafogo
Abrange todo o círculo infinito.

Na insaciedade desse gozo falho
Busco no desespero do trabalho,
Sem um domingo ao menos de repouso,
Fazer parar a máquina do instinto,
Mas, quanto mais me desespero, sinto
A insaciabilidade desse gozo!

(Augusto dos Anjos) to adorando de novo todos os malditos!

terça-feira, 5 de maio de 2009

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)
"O amor de uma mulher é incompatível com o amor da humanidade"
(Conde de Lautréamont, 1846 - 1870) - outro maldito...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

e por falar em gatos...



Oda Al Gato

Los animales fueron
imperfectos,
largos de cola, tristes
de cabeza.
Poco a poco se fueron
componiendo,
haciéndose paisaje, adquiriendo lunares, gracia, vuelo.
El gato,
sólo el gato
apareció completo
y orgulloso:
nació completamente terminado,
camina solo y sabe lo que quiere.

El hombre quiere ser pescado y pájaro,
la serpiente quisiera tener alas,
el perro es un león desorientado,
el ingeniero quiere ser poeta,
la mosca estudia para golondrina,
el poeta trata de imitar la mosca,
pero el gato
quiere ser sólo gato
y todo gato es gato
desde bigote a cola,
desde presentimiento a rata viva,
desde la noche hasta sus ojos de oro.

No hay unidad
como él,
no tienen la luna ni la flor
tal contextura:
es una sola cosa
como el sol o el topacio,
y la elástica línea en su contorno
firme y sutil es como
la línea de la proa de una nave.
Sus ojos amarillos
dejaron una sola
ranura
para echar las monedas de la noche.

Oh pequeño
emperador sin orbe,
conquistador sin patria,
mínimo tigre de salón, nupcial
sultán del cielo de las tejas eróticas,
el viento del amor
en la intemperie
reclamas
cuando pasas
y posas
cuatro pies delicados
en el suelo,
oliendo,
desconfiando
de todo lo terrestre,
porque todo
es inmundo
para el inmaculado pie del gato.

Oh fiera independiente
de la casa, arrogante
vestigio de la noche,
perezoso, gimnástico
y ajeno,
profundísimo gato,
policía secreta
de las habitaciones,
insignia
de un
desaparecido terciopelo,
seguramente no hay
enigma
en tu manera,
tal vez no eres misterio,
todo el mundo te sabe y perteneces
al habitante menos misterioso,
tal vez todos lo creen,
todos se creen dueños,
propietarios, tíos
de gatos, compañeros,
colegas,
discípulos o amigos
de su gato.

Yo no.
Yo no suscribo.
Yo no conozco al gato.
Todo lo sé, la vida y su archipiélago,
el mar y la ciudad incalculable,
la botánica,
el gineceo con sus extravíos,
el por y el menos de la matemática,
los embudos volcánicos del mundo,
la cáscara irreal del cocodrilo,
la bondad ignorada del bombero,
el atavismo azul del sacerdote,
pero no puedo descifrar un gato.
Mi razón resbaló en su indiferencia,
sus ojos tienen números de oro.

(Pablo Neruda, 1959)

desconexas

Não quero escrever.... Não queria escrever agora... Eu nem gosto tanto assim de escrever, é mais uma necessidade. Como já disse uma vez, as palavras que me ocorrem têm peso, e eu preciso me livrar delas... Agora por exemplo: que peso infinito!!! E o pior é que não consigo ao menos organizar essas palavras, vou só escrevendo, vendo as letras enchendo o espaço branco da tela do computador, desconexas, assim como as minhas idéias. Que coisa mais louca... Escrever sem querer, sem gostar e ainda por cima sem ter propriamente o que escrever! Nenhuma história para contar... Nem meus versos, nem minhas rimas. Só essa prosa que sobra do dia... Eu vivo um dia... Um dia vivido é diferente de um dia pensado. Um dia pensado precisa sair, precisa de alguma forma existir, porque pesa muito. Um dia pensado, nem sempre foi pensando no dia que foi vivido. Não, na maioria das vezes não foi mesmo. E talvez seja por isso que pese tanto, como pesa o dia pensado de hoje agora. Estou com frio prá variar... O teclado essa hora é gelado, além disso minhas mãos também estão cansadas, de um dia inteiro vivido, a escrever coisas a esmo em outros teclados, talvez menos gelados, mas também menos meus, e menos minhas ainda eram as coisas que eu ia escrevendo horas a fio... Engraçado que aquelas palavras todas, que não eram minhas, não eram história, nem verso, nem rima, faziam sentido. E não tinham peso nenhum... Logo eu, tão cheia de palavras próprias, escrevendo palavras dos outros e para os outros, e fazendo-me entender e ser entendida... Palvras em outras línguas, quando eu não compreendo a minha... Agora, o vento entra pela janela e vem direto na minha nuca. Gelado. Como meu teclado a essa hora. Estou com sono também... Mas é só deitar que o peso de todas as palavras pensadas, não registradas, dobra. Triplica! E então piora tudo, porque ao invés de dormir, eu junto mais palavras, que no escuro não podem ser escritas, mal podem ser lidas por mim mesma ainda na idéia, e vão só fazendo peso... Elas ficam dançando, combinando-se umas com as outras e também descombinando. Parecem rir de mim... Parecem rir por eu não conseguir por ordem na minha própria criação...Levanto e pego um caderno. Minto, levanto e pego um livro. Mas quem consegue ler quando tudo que precisa é escrever? Pego o caderno... Leio umas coisas antigas, de repente dá vontade de rasgar tudo, jogar tudo fora... Mas não, não vou fazer isso de novo... O peso das palavras ficou maior depois que desfiz de algumas mais velhas, vai ver elas voltam mais pesadas mesmo. E escrevo... Escrevo então até a mão doer, até os olhos começarem a fechar, até as palavras pararem de dançar e começarem a faltar. E quando me dou conta, perdi o sono. Mas ele volta... Há de voltar, amanhã, lá pelas 11 e tanto, quando eu estiver ocupada demais vivendo para poder pensar nele. Queria ser igual... Ser igual a alguma coisa que não sei bem, mas que me soa normal. Poder dormir na hora de dormir, ter fome na hora de almoçar, sei lá, essa normalidade toda comum da vida. Mas não sou. Eu "pauso" a música para descer do ônibus. Eu sinto mais calor quando faz frio. Eu esqueço de almoçar. Eu passo noites em claro a tagarelar comigo mesma, sem assunto! Eu converso com gatos na rua, e acho que eles fogem à normalidade também, porque me respondem! Tem uns até que me seguem e eu elaboro planos incrivelmente complexos para despistá-los... Outra noite mesmo, teve um que me chamou. Eu parei, ele roçou. Falei com ele e ele miou. Eu disse tchau, e comecei a ir embora, mas ele me escalou! Sim, escalou, subiu pela minha perna com suas garrinhas de gato siamês e veio parar no meu colo. Eu teria roubado ele para mim, afinal, foi ele quem deu essa idéia. Mas não tinha para onde levá-lo... E também teve a vez que eu chamei um, vieram dez... E eu tive que sair correndo... É, eu gosto de gatos. Mas acho que antes de eu gostar deles, eles me gostam também. Se eu tivesse um gato, quem sabe, eu poderia conversar com ele ao invés de escrever... Os cachorros não tem paciência. Eles querem sempre comer, ou passear, ou sentar aonde você está, ou então que a gente fique com a mão neles... Eles querem tudo, e principalmente querem dar amor. Aquele amor besta de cachorro, fácil e gratuito. Os gatos não dão nada. Também não pedem nada. A não ser que realmente queiram, mas na maior parte do tempo eles se bastam. Com quem será que eles conversam? Será que eles conversam? Não sei... Por hora, cansei da tela, cansei dos gatos, cansei do sono. Vou pintar as unhas de pink e escolher uma roupa para vestir amanhã...

Chanson D'Automne

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

(Paul Verlaine, em "Poèmes Saturniens" - 1866)
poesia ritmada, quase para ser cantada... tão fluida, quase que se perde no ar... dos malditos um dos meus preferidos...

Meu sonho

EU


Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?


Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?


Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?


O FANTASMA


Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...


(Álvares de Azevedo)

domingo, 3 de maio de 2009

Outonal

Caem as folhas mortas sobre o lago;
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio... Olha, anoitece!
- Brumas longínquas do País Vago...

Veludos a ondear... Mistério mago...
Encantamento... A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago...

Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
- Vestes a terra inteira de esplendor!

Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor...

(Florbela Espanaca) em dose nada homeopática!
Só no ato do amor – pela límpida abstração de estrela do que se sente – capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si.




(???)
"quem quiser encontrar o amor...

rarohceuqretiav, rerfoseuqretiav

abraça o meu abraço e abre aspas e couraça e casca e roupa até o polpa o nervo a voz antes da boca aonde a mesma brasa ilesa siamesa dorme acesa embaixo dágua abraça o breu do meu abraço e sua o seu no meu suor na nossa massa mancha que absorve engole goma o seio soma o seu no meio meu aberto peito perto alcança o céu no vôo cego que amalgama à nossa sombra a escuridão que orbita em volta cruza a curva de um contorno que devolve ao mesmo a sua carne pele em forma líquida abraçada nesse agora que me abraça e que me abraça e que me abraça e que me abra... "

(Abraço - Arnaldo Antunes e Mitar Subotic)
ah, o Suba! porque será que os bons morrem jovens?

A Coruja

(Arnaldo Antunes, em OU/E)








"Jardim da Luz"

acho que nunca foi tão iluminado
(Instalação de Fogo da Virada Cultural)

essa noite!

e uma música, ou melhor "A MÚSICA", para combinar com todo esse fogo...



sexta-feira, 1 de maio de 2009

O Quintal de Casa (2 em 1)


Não teve choro nem vela,
fizeram o Quintal de Casa
e hoje ninguém mais brinca
na rua que um dia foi dela.

O Quintal, coitado...
nem é de todo mal...
mas ainda é limitado,
porque ainda é só um quintal.

E vem gente de toda gente
deslizar no Quintal de Casa,
gente presa - e ainda contente!

Lá tem música, dá pra ver a lua...
Mas eu, particularmente,
ainda prefiro brincar na rua!

...

Lá é dentro, e não tem ladeira...
Não esqueço aquele pedaço de asfalto,
Ah... aquilo sim era brincadeira!
Das madrugadas vistas do alto...

Uns e outros, desvairados
Tecendo, rasgando a descida
de adrenalina embriagados,
Ladeira abaixo, sem saída...

Voando, rápidos, livres
Cavando ondas no cimento,
Indo de encontro ao vento...

E era tão simples, tão fácil fluir:
Só parar o pensamento, e deixar o corpo ir
sozinho, em movimento...





(ao que um dia foi o quintal de muitas outras casas... e hoje não é mais quintal de ninguém / e ao novo Quintal de Casa... antes pouco do que sem)

Dose Homeopática II

"A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!"

(em A Noite Desce... / Florbela Espanca)