terça-feira, 31 de agosto de 2010

azulão

Custou acreditar, quando viu a menina entrar, e sentar - suave e doce - quando antes, lá fora, sentia que havia um guerreiro. Foi jogando, interessado. E dizendo tudo que via, enquanto ela, só ouvia.... Mas quando ela pergunta, tímida, a concha cai certeira. Diz que pode ser só por agora, mas era ele, o que vem primeiro.
Na gira, quando ela chega, mandam chamar o vento - ora pra soprar pra longe, ora pra ser brisa leve. E quando chega muito aflita, cantam logo o Tempo, pra curar outra interpérie... Tempo, Tempo, Tempo, Tempo... Vez ou outra pra chover de novo, fazer arco-íris, para ela escolher uma cor... Gira ela para um lado, gira para o outro... Ensina a contar certo, sem tropeçar nas vírgulas... Banho de ervas, flores, moedas, búzios, pedrinhas... presentes do Tempo...
Dançam com ela.
Por fora, o que se vê, é só o que o espelho que ela carrega reflete. Assim, doce mesmo...
Por trás da suavidade é que habita o cavaleiro. Com o reflexo do espelho, dissimula o alfange na outra mão. Como que na espreita, de tocaia. E que ninguém acenda sua fúria! Infantaria, linha de frente. Venha o que vier, ele já espera, quente.
O colar dele é o primeiro, e vai cruzado. Depois vem os outros. Os dela, de sempre, e essa noite, escondido, o emprestado. O pano da costa, um dia, também vai atravessado. É dele.
Ela é dele. Está mais que confirmado.
É da guerra por excelência, nunca soube o que era paz. E quando não há motivo, inventa um, tanto faz.

domingo, 29 de agosto de 2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

do sal

vou pro mar...
levo minhas lágrimas:
7, contadas,
quero vê-las todas
uma por uma
cair dos meus olhos
e afundar

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

costas quentes dentes acesos olhos de espelho cabeça de leão


.

dançando o perigo na ponta do enfeite

estica o caminho quem manda no chão

terça-feira, 24 de agosto de 2010

enquanto durmo

de olhos abertos
eram pessoas
de olhos bem abertos

de olhos fechados
eram felinos
de olhos mais abertos
aos meus olhos despertos

Hoje, Lua Cheia

"Lua vermelha
quase sem amor
minha luz alheia
brilho sem calor

Lua vermelha
branca lua preta
lambe a minha orelha
com a sua cor

Lua vermelha
10 da madrugada
sapos na calçada
de nenhum país

(...)

Lua vermelha
noite que menstrua
lua lua lua
por cima de mim

Lua vermelha
pedra que flutua
que ilumina o poste
que ilumina a rua

Lua vermelha
ave flecha pluma
pérola madura
sono do dragão

Lua vermelha
só uma centelha
dura enquanto dura
bolha de sabão

(...)

Arnaldo Antunes / Carlinhos Brown

69 Année Erotique

Ambiciosa

Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O vôo dum gesto para os alcançar...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar!

Minh'alma é como uma pedra funerária
Erguida na montanha solitária,
Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem? - Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor dum Deus!...
.
(Florbela Espanca)

Oraieieô! Odoyá! (haja água)

um dia nascendo

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

MEU TEMPO É HOJE

eu não vivo no passado
o passado vive em mim




eu sou assim...

OGUNHÊ!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"tem que saber flutuar"


.
.
baixar o ritmo da sua voz
e aumentar o ritmo do seu pensamento


.


.
.
arrume a sua casa para receber o céu
o céu vai chegar
.
.

DA NOITE

IV

Dirás que sonho o dementado sonho de um poeta
Se digo que me vi em outras vidas
Entre claustros, pássaros, de marfim uns barcos?
Dirás que sonho uma rainha persa
Se digo que me vi dolente e inaudita
Entre amoras negras, nêsperas, sempre-vivas?
Mas não. Alguém gritava: acorda, acorda Vida.
E se te digo que estavas a meu lado
E eloqüente e amante e de palavras ávido
Dirás que menti? Mas não. Alguém gritava:
Palavras... apenas sons e areia. Acorda.
Acorda Vida.

(Hilda Hilst)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

lembranças de Belém e da Ilha do Marajó...

































mais andanças...
























7, meu Ori

no dia de Omulú...


Ogum veio primeiro. Como sempre, e não poderia ser diferente, é quem vem na frente, brandindo sua espada, implacável, abrindo o caminho. Patakori, Ogunhê!

Seguido de Oxum, seu doce reflexo, seu perfume de flor. Banhando de luz, nas águas de seu infinto amor. Ora iê iê ô!

Das matas, veio Oxóssi, com sua flecha única e certeira. É dele minha aldeia, Okê Arô!

Ventando e sem demora, Iansã é quem vem agora. Corajosa e arrebatadora. Apaixonada, como eu, como sempre. Fogo. Como eu, sempre. Eparrei Oyá!

Foi uma "noite bonita, estrelada"... Misteriosa...

Odocyá! que chegou Iemanjá, mãe d'água, mãe do mundo, Odoyá!

Oxalá, imenso, veio então fechar. Muito branco, purificar.
Ê Xauê Babá! Obrigada, por me guiar!




Atotô Obaluaê!

e por falar em andar...











7 luas

onde ando
é onde quero chegar

e por enquanto
que ainda não inventaram
um jeito de se estar
na mesma hora
em todo um lugar

ando devagar

se ficar em dúvida
paro para pensar

e mesmo se errar o caminho
sempre posso voltar

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

.
.
.
a noite me engole.
.
a seco.
.
.
.

sábado, 7 de agosto de 2010

da vontade

E ali dentro está a vontade, que não morre. Quem conhece os mistérios da vontade e do seu vigor? Pois Deus não é mais que uma grande vontade, penetrando todas as coisas pela qualidade da sua aplicação. O homem não se entrega aos anjos, nem se rende inteiramente à morte, se não pela fraqueza de sua débil vontade.
Joseph Glanvill
.
.
.
.perigo
não tem cheiro, tem perfume
.
.
.

"in spite of everything"

in spite of everything
which breathes and moves,since Doom
(with white longest hands
neatening each crease)
will smooth entirely our minds

-before leaving my room
i turn,and(stooping
through the morning)kiss
this pillow,dear
where our heads lived and were.

(e.e. cummings, 1931)

7 gatos e uma tesoura

faz de conta

faz-me sentir teu cheiro
o calor da tua pele
o gosto da tua boca
o peso do teu olhar
a urgência das tuas mãos

(que eu peço ao vento,
e ele traz teu recado...)

faz o atlântico menor,
ou os aviões mais rápidos,
dá um nó no fuso horário,
aproxima os continentes...

(faz um drink, por favor?)

e eu te faço todas vontades
agora, sem demora
e ainda peço a toda hora:
faz de novo?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Separação

"Outrora, entre nós estava o Atlântico,
Mas eu sentia a tua mão na minha;
Agora sinto a tua mão na minha,
Mas entre nós está o Atlântico."

Israel Zangwill (1864-1926)

"Just another girl that wants to rule the world"


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

POEMA DE AGOSTO

(...)

Mais uma vez lhe servi de pousada
E forasteiro o vento minh´alma invadiu
Na pressa bagagens de agruras e sonhos
Ficaram esquecidas quando êle partiu

Arquivados pra sempre em memória olfativa
Lembranças de cheiros que me fazem bem

(...)

.
.
(Iratiense Joel Gomes Teixeira)

mais do 3

.

Ah, cruéis Três! Naquele preguiçar,

sob um tempo ameno, estival,

Implorar uma história, e de tão leve alento

Que sequer uma pluma pudesse soprar!

Mas que pode uma pobre voz

Contra três línguas a trabalhar?

.

Imperiosa, Prima estabelece:

"Começar já"; enquanto Secunda,

Mais brandamente, encarece:

"Que não tenha pé nem cabeça!"

E Tertia um ror de palpites oferece,

Mas só um a cada minuto.

(...)

E sempre que a história esgotava

Os poços da fantasia,

E debilmente eu ousava insinuar,

Na busca de o encanto quebrar:

"O resto, para depois..." "Mas já é depois!"

Ouvia as três vozes alegres a gritar.

.

(Lewis Carroll, em Alice)

.