sábado, 30 de maio de 2009
"Wilderness"
"Some wild fires
Searchout
a dry quiet kiss on leaving"
(James Douglas Morrison)
hoje eu sonhei com o próprio...
sexta-feira, 29 de maio de 2009
sobre rendas, arabescos e sentidos
Acolho no peito, outro querer desfeito - este guardo no cofre violado, com dono e sem rumo, a cambalear descompensado.
Na pele os lembretes que trago estampados aos olhos dos outros são meros enfeites - arabescos ocultos, segredos velados.
Da boca me saem palavras vazias, ambíguas de sentido... algumas mentiras, vez ou outra um gemido... histórias mal contadas, contos sem fim... verdades inventadas... veneno e cura de mim.
Pelos olhos penetram-me mundos etéreos, desfeitos em névoa, de sonhos interrompidos.
Absorvo com os tímpanos melodias desconhecidas, levadas perdidas, sons abafados...
Inspiro vontade - prendo a respiração, satifaço minha verdade - e exalo inquietação.
E espalho meus versos ao sabor vento... Palavras, que não ditas, habitam meu pensamento... Frases, que esquecidas, se perdem no firmamento...
"...sou quem pode mais que Amor..."
- "Eu sou o deus poderoso
- no firmamento e na terra,
- e no vasto mar undoso
- e em tudo o que o abismo encerra
- no seu báratro espantoso.
- Nunca soube o que era medo;
- tenho o mágico segredo
- de conquistar o impossível,
- e em tudo quanto é possível
- mando, tiro, ponho e vedo.
- Sou quem pode mais que Amor,
- mas é o Amor que me guia.
- Eu sou da estirpe maior,
- que o céu cá no mundo cria,
- mais conhecida e melhor.
- Em mil conceitos discretos
- a dulcíssima Poesia
- a alma cheia de afetos,
- vivos, suaves, te envia,
- envolta entre mil sonetos.
- (...)
- Chamam Liberalidade
- ao dar, quando se recusa
- a ser prodigalidade
- e ao contrário ser, que acusa
- tíbia e tímida vontade.
- Mas eu, por te engrandecer,
- hoje pródiga hei-de ser,
- que, se é vício, é vício honrado,
- e de peito enamorado
- que no dar se deixa ver.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
- de volta ao abajour de lírios, aquele de onde vem os devaneios...
ela, que achava que sabia de tudo o que queria, quis um dia e não soube o quê... e sabendo só querer, quis muito, sem querer saber por quê...
agora ela não quer mais... talvez queira se não tiver... porque à luz branca dessa tarde, ela só sabe do que não quer...
de fazer chover
Que o céu fique negro!
E raios cortem a escuridão!
Quero ouvir cada timbre,
no som de cada trovão.
Tempestade, me leve embora,
que não quero mais ficar...
Venha buscar-me agora,
que não sei mais esperar...
Chuva de verão atrasada,
de deixar a rua molhada,
de fazer a menina pensar...
E ao fim dessa tarde pesada
dessa água cair derramada
eu possa enfim descansar...
quarta-feira, 27 de maio de 2009
(...e para não deixar faltar sonho...)
"Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
Mas, quando despertei da confusão,
Vi que esta vida aqui e este universo
Não são mais claros do que os sonhos são
Obscura luz paira onde estou converso
A esta realidade da ilusão
Se fecho os olhos, sou de novo imerso
Naquelas sombras que há na escuridão.
Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
É a mesma mistura de entre-seres
Ou na noite, ou ao dia transferida.
Nada é real, nada em seus vãos moveres
Pertence a uma forma definida,
Rastro visto de coisa só ouvida."
terça-feira, 26 de maio de 2009
global-warming / quadras em série
.
... silêncio...
imã na escuridão
noite fora do tempo
conto de outro verão...
intento, mais que vontade
encontra - não procura
do nada à necessidade
instinto - coisa pura...
sentido não faz falta
onde sobra intuição,
em horas de maré alta
movendo a imensidão.
ele faz onda,
eu chamo de arte...
mas esse conto é muito antigo,
e também é um caso à parte....
("quadras em série" vai se chamar...)
em branco...
"Uma Temporada no Inferno"
(Rimbaud, em fragmentos de "Mau sangue", "Noite do inferno", "Delírios I - Virgem louca", "Delírios II - Alquimia do verbo", "O impossível" e "Adeus" / poemas em prosa, reunidos em "Uma Temporada no Inferno" do outono de 1873)
e para não dizer que faltou verso:
"Mon ême éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.
Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...
- Jamais l'espérance.
Pais d'orietur."
(em "Faim", da Alchimie du Verbe , do mesmo livro, do mesmo outono...)
E isso de precisar das coisas?
Sábado de um sapato novo,
Domingo de um tricot preto...
Tudo me foi dado.
Segunda precisei de qualquer coisa que não tinha
sem saber o que era, continuei precisando...
E não senti o cheiro da chuva chegando,
e me molhei, e dormi, e sonhei...
Hoje é terça; preciso de livros novos
que os meus velhos já não me servem mais
mesmo os que ainda não li...
Preciso ressucitar um poeta morto
ou algum suicidado
um amigo assassinado
Pra me dizer coisas novas,
cantar alguma coisa incendiada,
recitar uma poesia malacabada,
contar as novidades do além,
essas coisas...
Eu não quero, eu preciso...
E se eu não tenho, invento outra,
mas querer não é comigo...
Só querer é muito pouco,
dá uma idéia de não ter...
Quem muito quer, muito fica sem.
Eu preciso logo,
que precisar é quase ser.
Se eu não tiver, posso morrer.
Mas não morro assim tão cedo,
que de não ter não morre ninguém.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
play it louder II
if you don't I won't hear you...
Scream with me honey,
you can hit me if you need.
But please break this silence...
I was wondering if you know...
Pretend just for a moment that you know...
Let me see how it would be,
if you drag out these words from my mouth...
Ask me darling, ask me again
and again, and again, and again
until I say everything that I shouldn't
everything you don't need to know
until I expose all I want to hide...
And go asking me all the time,
don't let me forget to tell you my things...
Make me be like I was before,
when you used to be the only one
and there wasn't no space to any other
and you were always by my side...
And please, forgive me love...
For all those things I've been doing...
Forgive me about the things I'll keep doing
Beacuse I think I can't stop it now...
I'm afraid I can't stop, and you can't understand
Close your eyes to this mistakes
Put the blame on me, even when it is yours...
And play it louder, babe...
As louder as you can!
Play me louder honey...
Let's make a lot of noise,
don't let nobody sleep,
but don't wake up yet love
Play it louder again,
play me louder,
just one more time.
domingo, 24 de maio de 2009
play it louder I
Em alta velocidade - é como estamos quando me dou por mim, e o carro quente corta as avenidas, suave, como se fossem manteiga, deslizando por entre os outros carros, tirando da nossa frente um por um... a música, como sempre sempre, alta... tanto faz se é a minha ou a dele, está muito alta... e a velocidade também... e como quem abre os olhos depois de um sono profundo, começo a perceber então, passando por mim as ruas, a cidade, o relógio digital mostrando horas gêmeas de novo, e o vento frio encanado que entra da janela oposta me dá um arrepio e bagunça meu cabelo... volto por um instante para aquela hora, para aquela cena, para mais um ou dois tragos... mais um ou dois devaneios... mais dez ou vinte ultrapassagens... e chegamos. Um gato se esconde em baixo do carro da frente, mas eu ainda vejo seus olhinhos brilhando no escuro... Aonde chegamos? Aonde íamos mesmo? Eu não estava... Estava longe, muito longe, voando em algum céu distante... E quando descemos do carro, está mais frio. Estamos longe, e viemos rápido... E a noite é negra e sem lua... Completamente negra, como o carro do qual saímos, como os olhos e o cabelo dele, e a minha roupa e o meu sapato novo... Façamos mais fumaça, para tentar enxergar alguma coisa através dela! A música então fica mais alta, e começa a repetir, no frenesi do ritmo inacabado ainda, incompleto... E cada vez mais, no meio de tanto barulho, eu fico sem saber, não onde estou, mas por quê estou... outra noite daquelas... Do lado de dentro a fumaça como um véu, se tornou visível, densa, e as paredes cobertas de sonex e ondas de som reverberam o kick, o baixo, a bateria, cada sampler, a cento e quarenta e tantos bpm... as notas vão aparecendo e se conectando umas nas outras em uma das telas coloridas, escolhidas a esmo até soar bem aos ouvidos, numa escala estranha, que no fim sempre lembra um espiral... E assim, outra melodia vai surgindo... Imagino um vocal para esta melodia, alguma coisa sussurrada, voz de mulher, quase uma súplica, quase um gemido... Canto para mim mesma algumas vezes tentando achar o tom... Canto para ele... E logo hoje, que estou cheia de idéias, estamos sem microfone... Saio para respirar, e do lado de fora, lá longe, no alto do morro, aquela palmeira solitária chama meu olhar de novo... Porque será que aquele é o primeiro lugar onde os olhos alcançam quando vejo aquele morro? Não sei, mas estou de volta. Os cachorros estão presos no canil, mas o gato continua escondido... Volto para dentro, para o barulho. E estou presa de novo, como os cachorros... Como a fumaça e o som, que não podem sair e acordar os vizinhos, hora dessas. Como a minha voz, presa nesse instante sem microfone, nesse fragmento de música sem começo meio e fim ainda... É o que temos para hoje... So, play it louder! So please, play me louder...
(continua...)
the next time around
That measure out your worth
To seek your weight in gold
Sat by the ivory sill
The further out you look
The further out you'll be
It's not enough to set the terms
If nothing ventured, nothing earned
Though odds are set against
In time, I'll belong to you
It's how it's meant to be
Settled on your own
Sweeping dust from stones
With a letter home
Back where the hour's long
The simplest things invite a thrill
If just by noticing at will
It's not enough to set the terms
If nothing ventured, nothing earned
It's how it's always been
E onde a sorte há de te levar
Saiba, o caminho é o fim, mais que chegar
E queira o dia ser gentil
À tua mão aberta pra quem é
In time, I'll belong to you
That's how it's meant to be
And how it's always been
sábado, 23 de maio de 2009
sexta-feira, 22 de maio de 2009
volátil
E não deixar evaporar
Isso que tão etéreo como o álcool
Me consome embriagado em olhos e palavras
Que enxergam esse mesmo etéreo
Estaria outra vez, dentro a costurar
Fatos que ainda não vi
...
(Cibelle)
etéreo
quinta-feira, 21 de maio de 2009
fragmento
(continua...)
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Keep Me In Mind
hold the feelings which are crossing the brain
Strips the chord of a sensible word
And what's worse?
She left her mark
Indelible
Oh the nature of her scripted verse
Keeps my eyes
Set on the page
And it says
(...)
Keep me in mind"
(R. Amarante / F. Moretti - do Little Joy)
terça-feira, 19 de maio de 2009
Unwritten Stories
and for you, all the gates are open.
Come and bring me your smell...
Take me out from this sweet hell!
Tell her everything I won't tell
Show me why did you come, as well
And there will be no more "I don't knows"
Let the world spin, undress our souls!
And I'll write our late nite tales
Like last autumn's endless night
Say in my words our secret details
Because now, after all these times,
I know that my scenes are still in your head,
and you know that is you, here, in my rhymes.
Verde I
(III, da série idéia fixa, dazantigas) a continuar...
*
"Cabeça a Prêmio"
até o próximo ciclo...
(E que assim seja - pelo menos até o próximo ciclo...)
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
(FERNANDO PESSOA) não sei em qual pessoa...
domingo, 17 de maio de 2009
o soneto improvisado
faltando bem uma metade...
O mar subia, revolto, estourando
cheio de onda, todo vaidade...
Um gato ruivo observando a espuma
de cima d'um toco, hipnotizado...
Soltando a fumaça, perdi na bruma
um soneto pronto, improvisado...
Noite fria, aquela, de outono
Noite vazia, aquela, sem sono
Contei estrelas até ficar dia...
Algumas caíram, e eu peguei!
Não pude dormir, mas sonhei
Madrugada fria na praia vazia...
sexta-feira, 15 de maio de 2009
"Para Cobrir o Silêncio"
o soneto equilibrista
Eis-me agora, no arame.
Equilibrista entre as minhas
duas vidas - sina infame,
me explicando nessas linhas...
Quero estar onde não vou;
Penso muito, então desisto
e sem querer, não me dou.
Balançando, assim existo...
Sou uma grande interrogação,
algum lugar entre o sim e o não,
o nada feito, a escolha nenhuma...
Pássaro que voa sem direção.
Mergulho profundo na escuridão.
A onda que foi, restou só espuma...
da leitura de ontem a noite...
prosa...
fui ao limbo e voltei - ilesa...
ele foi ao inferno e por lá ficou - e escreveu:
"Oh, todos os vícios, cólera, luxúria - magnífica, a luxúria - , sobretudo a mentira e a preguiça. (...) Sem me servir para viver de fato do meu corpo (...) tenho vivido por toda parte. (...) A quem me alugar? Que animal é preciso que adore? Que santa imagem nos agredirá? Que corações partirei? Que mentira devo sustentar? Em que ânimo avançar? (...) Recebi no coração o golpe da graça. Ah! não tinha previsto isso. Não fiz o mal. Os dias me serão leves, o arrependimento poupado. (...) Rápido! existem outras vidas? (...) O tédio já não é meu amor. As raivas, as farras, a loucura, de que sei todos os ímpetos e os desastres - larguei meu fardo inteiro. Vejamos sem vertigem a medida da minha inocência. (...) Não sou prisioneiro da minha razão. (...) Não sinto falta da moda dos corações sensíveis. Cada um tem sua razão, desprezo e caridade: mantenho o lugar no topo dessa angélica escada de bom senso. Quanto à felicidade estabelecida, doméstica ou não... não, não posso. Sou dissipado demais, fraco demais. A vida floresce pelo trabalho, velha verdade: eu, minha vida não é tão pesada, se alça e flutua longe acima da ação, essa apreciada exigência do mundo. (...) Farsa permanente! Minha inocência me fará chorar. A vida é a farsa a levar por todos. (...) Ah! Os pulmões ardem, as fontes pulsam! A noite me passa pelos olhos, neste sol! (...) Fogo! fogo em mim! Aqui! ou me rendo. (...) - Me acostumarei."
(em Mau Sangue) tradução de Paulo Hecker Filho
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Beijos Mortos
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa, por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos ao passado.
Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei, outrora, quanto pude,
porém mais deveria ter amado.
Choro. O remorso os nervos me sacode.
e, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero, inconsolado, explode.
E a causa desta horrível agonia,
é ter amado, quanto amar se pode,
sem ter amado, quanto amar devia."
(Martins Fontes)
quarta-feira, 13 de maio de 2009
soneto da princesa moderna
vem me ver em nave espacial
do tempo de ensonho, espiral
princesa moderna eu, quem diria!
veio em sonho, me entreter
e eu ardi, numa fissura
e sutilmente, e com doçura
fiz dele ser meu novo querer
o príncipe enlouqueceu!
não sai do meu pensamento
e dentre todo o firmamento
o lugar dele agora sou eu...
príncipe estranho, homem alado
homem de sonho, príncipe encantado
mais quintana...
Os Parceiros
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.
Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste...
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.
Insiste em quê? Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro... eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se
numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...
Como também disfarce é a minha vida!
(Mário Quintana)
A Rua dos Cataventos II
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos
Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha... Não há nada...
Só os meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração...
(Mário Quintana)
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê."
(Luis de Camões)
soneto inesperado
Quis vê-la da rua, não da janela!
Não lembro onde foi que me perdi.
Nem sei se era eu ou se foi ela...
As palavras guardadas, eu que escrevi.
Mas os versos de acender são dela.
Procurei qualquer estrela mas não vi...
E ele, fingindo que não, pensava nela...
Inesperado, veio e ficou, sem dizer nada...
Pensamento dos outros não faz barulho.
Ela mudou de rumo e partiu pra estrada...
E depois, sem entender nada, eu voltei...
Então, ele quis os presentes sem embrulho!
A essa hora ela já sonhava - e eu acordei...
"Vamos fazer um filme?"
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta (...)"
(renato russo / vamos fazer um filme?)
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Definitivo
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
(...)
cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...
(Drummond)
de volta aos felinos...
"Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu."
(Fernando Pessoa 1931) e a foto é do quadro do Lito...
sexta-feira, 8 de maio de 2009
É preciso não esquecer nada
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
(Cecília Meireles, 1962)
Pardalzinho
Daniel na Cova dos Leões
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
Forte, cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.
Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.
Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque
Não vemos"
(Renato Russo)
é que sonhei de novo... e viajei nas pinturas na rua...
onde estará o grande guardinha de chuvas?
Queria ouvir música o dia inteiro! Música, música, muita música, "la musique avant toute chose" Que estou carente de ritmo... Ouvir os mesmos acordes de violão, perder no xadrez, desenhar junto no mesmo papel, e ler poesia... Ainda mais depois que me sei naqueles escritos... Meu reino em troca de ler aquele caderno! Mas não, ele jamais deixaria... Não estou ali para mim, nem para ninguém além dele mesmo... Hoje faz sol, mas eu bem queria saber onde estará o guardinha de chuvas? Eu sempre esqueço, mas depois vejo as flores que nem chegam a ser flores, e as palavras ao contrário nos muros do bairro, e sinto saudades... de todos os "eu nunca"... de brincar de "um finge dizer a verdade e o outro finge acreditar" e estar sempre tudo bem... De ver filme só até a metade, e ouvir música antiga e música de desenho, de criança... E dormir marcando o tempo da bateria, do baixo, de sei lá o quê... E acordar no meio da noite e ir embora sem dizer tchau... encontrar o tchau escrito em algum lugar, meses depois... Tão fácil que era. E a gente se perdia de madrugada voltando pra casa, e rodava a cidade inteira, sem rumo, sem hora, sem nada... Como se fôssemos os dois donos da noite, e a cidade inteira dormisse e só restassem nas ruas o vento e a fumaça, para nos fazer companhia e nos perdermos em paz...
quinta-feira, 7 de maio de 2009
"E não mentir é um dom que o mundo não merece..."
(Lispector, again...)
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Up from the skies
I just want to know about your different lives, on
this here people farm.
I heard some of you got your families, living in
cages tall & cold,
And some just stay there and dust away, past the
age of old.
Is this true? Please let me talk to you.
I just wanna know about, the rooms behind
your minds,
Do I see a vacuum there, or am I going blind?
Or is it just remains from vibrations and echoes
long ago,
Things like 'Love the World' and 'Let your fancy
flow',
Is this true? Please let me talk to you. Let me
talk to you.
I have lived here before, the days of ice,
And of course this is why I'm so concerned,
And I come back to find the stars misplaced
and the smell of a world that has burned.
The smell of a world that has burned.
Well, maybee, maybe it's just a change of
climate.
I can dig it, I can dig it baby, I just want to see.
So where do I purchase my ticket,
I would just like to have a ringside seat,
I want to know about the new Mother Earth,
I want to hear and see everything,
I want to hear and see everything,
I want to hear and see everything."
(Hendrix, Jimi Hendrix) adoro essa!
.
A arte de fazer escolhas
Queria saber quem inventou a idéia de que a "vida é feita de escolhas". Porque tem sempre que ser "ou" isto "ou" aquilo, "ou" ainda aquele outro. Porque a gente tem sempre que saber se casa ou se compra uma bicicleta... Será que não dá pra se ser feliz casado e andando de bike? A natureza nunca vi escolher nada... As coisas são e pronto. Eu acho que fazer escolhas é uma arte, que eu, particularmente, não domino... Tive de nessa vida, nascer libriana, e incorporar a balança! Só que a minha é um tanto quanto desajustada... Está sempre só pesando, ponderando... E eu termino escolhendo tudo, ou se preferir, não escolhendo nada... Porque escolher uma coisa implica em abrir mão de outra coisa. Essa é a parte difícil. "Ou" você fica do lado de dentro, "ou" você fica do lado de fora... Porra! E por que raios a porta não pode ficar aberta, para entrar e sair à mercê das vontades??? Agora faz calor, quero estar fora, mas depois, se esfriar, hei de querer estar dentro... Porque tem que escolher agora? E quando as opções são "o ruim" e o "pior ainda"? Eu morria de pena da Dorothy (do Mágico de Oz) que tinha que escolher entre a Bruxa Má do Leste e a Bruxa Má do Oeste... "- Dorothy, volta pra casa, dorme mais um pouco e depois você sai..." Mas depois fica tudo bem, porque ela acorda e vê que tudo não passou de um sonho...Um pesadelo - que seja - uma realidade paralela... Mas aqui no mundo não é assim... E são tantas as opções que eu nem sei o que querer, e quando eu penso que enfim escolhi, aparece ainda uma nova opção nova! Eu sou aquela que sai para comprar um sapato, mas no caminho se depara com uma loja de bolsas... Entra na loja, e compra uma bolsa, ou duas. Sai feliz da vida com a bolsa nova... esquecida do sapato. Sapato, que sapato? Aquele, que só vai lembrar quando chegar em casa, e for vestir aquela calça, que não tem um sapato (no meio dos sabe-se lá quantos pares) que combine! E vai querer o sapato. Mas que não vai se arrepender da bolsa, vai sair de novo e comprar o sapato... Mesmo já tendo gasto o $ na bolsa. Porque não dá para escolher entre sapato e bolsa. Assim como não dá para escolher "pé direito" ou "pé esquerdo", tem sempre que sair todo dia com os dois... Eu funciono (ou não) mais ou menos assim. Quero varar a noite em claro, e no dia seguinte, estar nova, como a que acorda de um sono profundo. Quero que faça sol quando chove muito e que chova quando está sol demais. Quero um chá bem quente e forte, de todos os sabores que tiver, só para no meio da mistura, separar cada aroma, um por um... Não dá pra ficar escolhendo entre uma coisa e outra, e eu assumo: sou da turma do "um é pouco, dois é bom, e três é melhor ainda". E, equanto eu puder, acho que vou continuar sendo... E quem não quiser que escolha por mim! Sem perguntas difíceis, nem explicações demoradas... Eu passo a bola - fico com a parte que me cabe... Seja ela qual for. E se não for também, tudo bem. Porque como já disse um dia a Florbela "o meu reino fica para além"!!!
E eu hoje vou passear!
Entre o gozo que aspiro, e o sofrimento
De minha mocidade, experimento
O mais profundo e abalador atrito...
Queimam-me o peito cáusticos de fogo
Esta ânsia de absoluto desafogo
Abrange todo o círculo infinito.
Na insaciedade desse gozo falho
Busco no desespero do trabalho,
Sem um domingo ao menos de repouso,
Fazer parar a máquina do instinto,
Mas, quanto mais me desespero, sinto
A insaciabilidade desse gozo!
(Augusto dos Anjos) to adorando de novo todos os malditos!
terça-feira, 5 de maio de 2009
segunda-feira, 4 de maio de 2009
e por falar em gatos...
Oda Al Gato
Los animales fueron
imperfectos,
largos de cola, tristes
de cabeza.
Poco a poco se fueron
componiendo,
haciéndose paisaje, adquiriendo lunares, gracia, vuelo.
El gato,
sólo el gato
apareció completo
y orgulloso:
nació completamente terminado,
camina solo y sabe lo que quiere.
El hombre quiere ser pescado y pájaro,
la serpiente quisiera tener alas,
el perro es un león desorientado,
el ingeniero quiere ser poeta,
la mosca estudia para golondrina,
el poeta trata de imitar la mosca,
pero el gato
quiere ser sólo gato
y todo gato es gato
desde bigote a cola,
desde presentimiento a rata viva,
desde la noche hasta sus ojos de oro.
No hay unidad
como él,
no tienen la luna ni la flor
tal contextura:
es una sola cosa
como el sol o el topacio,
y la elástica línea en su contorno
firme y sutil es como
la línea de la proa de una nave.
Sus ojos amarillos
dejaron una sola
ranura
para echar las monedas de la noche.
Oh pequeño
emperador sin orbe,
conquistador sin patria,
mínimo tigre de salón, nupcial
sultán del cielo de las tejas eróticas,
el viento del amor
en la intemperie
reclamas
cuando pasas
y posas
cuatro pies delicados
en el suelo,
oliendo,
desconfiando
de todo lo terrestre,
porque todo
es inmundo
para el inmaculado pie del gato.
Oh fiera independiente
de la casa, arrogante
vestigio de la noche,
perezoso, gimnástico
y ajeno,
profundísimo gato,
policía secreta
de las habitaciones,
insignia
de un
desaparecido terciopelo,
seguramente no hay
enigma
en tu manera,
tal vez no eres misterio,
todo el mundo te sabe y perteneces
al habitante menos misterioso,
tal vez todos lo creen,
todos se creen dueños,
propietarios, tíos
de gatos, compañeros,
colegas,
discípulos o amigos
de su gato.
Yo no.
Yo no suscribo.
Yo no conozco al gato.
Todo lo sé, la vida y su archipiélago,
el mar y la ciudad incalculable,
la botánica,
el gineceo con sus extravíos,
el por y el menos de la matemática,
los embudos volcánicos del mundo,
la cáscara irreal del cocodrilo,
la bondad ignorada del bombero,
el atavismo azul del sacerdote,
pero no puedo descifrar un gato.
Mi razón resbaló en su indiferencia,
sus ojos tienen números de oro.
(Pablo Neruda, 1959)
desconexas
Chanson D'Automne
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.
Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.
Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.
(Paul Verlaine, em "Poèmes Saturniens" - 1866)
poesia ritmada, quase para ser cantada... tão fluida, quase que se perde no ar... dos malditos um dos meus preferidos...
Meu sonho
EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...
(Álvares de Azevedo)
domingo, 3 de maio de 2009
Outonal
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio... Olha, anoitece!
- Brumas longínquas do País Vago...
Veludos a ondear... Mistério mago...
Encantamento... A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago...
Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
- Vestes a terra inteira de esplendor!
Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor...
(Florbela Espanaca) em dose nada homeopática!
rarohceuqretiav, rerfoseuqretiav
abraça o meu abraço e abre aspas e couraça e casca e roupa até o polpa o nervo a voz antes da boca aonde a mesma brasa ilesa siamesa dorme acesa embaixo dágua abraça o breu do meu abraço e sua o seu no meu suor na nossa massa mancha que absorve engole goma o seio soma o seu no meio meu aberto peito perto alcança o céu no vôo cego que amalgama à nossa sombra a escuridão que orbita em volta cruza a curva de um contorno que devolve ao mesmo a sua carne pele em forma líquida abraçada nesse agora que me abraça e que me abraça e que me abraça e que me abra... "
(Abraço - Arnaldo Antunes e Mitar Subotic)
ah, o Suba! porque será que os bons morrem jovens?
sexta-feira, 1 de maio de 2009
O Quintal de Casa (2 em 1)
Não teve choro nem vela,
fizeram o Quintal de Casa
e hoje ninguém mais brinca
na rua que um dia foi dela.
O Quintal, coitado...
nem é de todo mal...
mas ainda é limitado,
porque ainda é só um quintal.
E vem gente de toda gente
deslizar no Quintal de Casa,
gente presa - e ainda contente!
Lá tem música, dá pra ver a lua...
Mas eu, particularmente,
ainda prefiro brincar na rua!
...
Lá é dentro, e não tem ladeira...
Não esqueço aquele pedaço de asfalto,
Ah... aquilo sim era brincadeira!
Das madrugadas vistas do alto...
Uns e outros, desvairados
Tecendo, rasgando a descida
de adrenalina embriagados,
Ladeira abaixo, sem saída...
Voando, rápidos, livres
Cavando ondas no cimento,
Indo de encontro ao vento...
E era tão simples, tão fácil fluir:
Só parar o pensamento, e deixar o corpo ir
sozinho, em movimento...
(ao que um dia foi o quintal de muitas outras casas... e hoje não é mais quintal de ninguém / e ao novo Quintal de Casa... antes pouco do que sem)
Dose Homeopática II
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!"
(em A Noite Desce... / Florbela Espanca)