E foi assim que a princesa acordou presa, na torre do castelo. Despertou de um sono profundo, que já devia durar muito tempo.
Sentou-se então, e escreveu umas poucas palavras manchadas de vinho da noite anterior.
Era como se organizasse as palavras, para parecerem bonitas ao olhar. Como fazer um arranjo de flores, ou pintar uma parede, dispor as coisas numa ordem para exaltar sua beleza - há também uma arte em dispor palavras, além das rimas. Permaneceu, brincando de frases, trocando-as de lugar, girando, sem pressa.
Começou a achar que não era de todo ruim estar ali, presa. Era belo o canto dos pássaros, e era bela a imagem que se formava da fumaça branca ao sol. E havia um perfume...
Arranjou mais algumas frases, trocou-as de lugar, e então voltou a dormir.
E lá de cima, vendo tudo com mais beleza, percebeu que não era pricesa, nem tampouco havia castelo. E que a torre era ela mesma.
E só por hoje decidiu ficar presa.
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"Não há cavalo, nem moço,
nem torre, príncipe, nada
porque tudo foi sonhado...
porque tudo foi sonhado...
Estranho é tudo o que vejo...
Tudo que sinto e respiro...
É espanto o que admiro...
é tanto que já não creio...
(...)
Não sonho? Ou sim? É Engano.
Bem sei que estou acordado.
(...)
Céu... o que é que foi mudado?
Que fez minha fantasia?
O que fizeram de mim?
O que houve enquanto eu dormia?
Isto que eu sou terá fim?
Não sei... não posso saber...
Já não quero discutir...
Melhor deixar-me servir...
E seja o que há de ser."
(Pedro Calderón de La Barca, en La Vida Es Sueño, 1635)
"¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño :
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son."
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