domingo, 19 de abril de 2009

De como ele matou o amor

Não, nem sempre foi assim. Nem sempre fui dele. Só depois dele me roubar para ele. E me guardar a sete chaves, assim como se guarda uma coisa linda e cara, uma coisa especial e rara, que a gente tem só para saber que é nossa e olhar para ela de vez em quando. Uma louça fina que não se usa, por medo de quebrar. No começo, achei bom ser de louça... Achei que era zelo, medo de espatifar. Mas aos poucos fui me cansando do armário, da porta trancada, da chave. Ele, foi esquecendo de me tirar de lá. Esqueceu que a coisa era viva, e precisva ser cuidada, como uma planta que morre se não for regada, como um cachorro que tem de passear... E a culpa também foi minha, porque não pedi para sair de lá. Talvez eu pensasse, mas pensar não faz barulho - ele não poderia adivinhar. E eu sei que ele me ama, mas não bastou, porque ele também esqueceu de demonstrar. Às vezes eu fugia. Mas talvez por medo, talvez por amor (que amar também é se dar) ou até por preguiça... Eu acabava por voltar. Fui indo e vindo, sempre meio dormindo, e ele sem nem notar... Não aguou as plantas, nem levou os cachorros para passear. Não trouxe o café-da-manhã, e no barulho do som dele nem me ouviu chorar. Saiu, bateu a porta, não esperou eu acordar. Pronto! Estava morto - e eu custei a acreditar... Fingi para mim mesma que não queria sair, e até parei de tentar... E por um tempo acreditei. Só que agora eu me cansei - vou sair para arejar! Vou por as plantas para tomar chuva e soltar os cães para cheirarem o ar. Talvez eles não voltem... Se não quiserem não têm de voltar. Que é bom também ser livre. Sei que vou sentir saudades, ficar triste, até chorar... Vou demorar pra acostumar. Vai ser difícil - posso até querer voltar... Mas vou ser minha agora um pouco, ou de quem me souber levar...

c'est fini!

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