quinta-feira, 30 de abril de 2009

Let's swim to the moon,

let's climb through the tide.

Penetrate the,

evening that the,

city sleeps to hide.

Let's swim out tonight love,

it's our time to try.

Park besides the ocean,

on our moonlight drive.

Let's swim to the moon,

let's climb through the tide.

Surrender to the waking world,

that laps against our side

Nothing left open and no time to decide.

We'll stop into a river on our moonlight drive.

Let's swim to the moon.

Let's climb through the tide.

You'll reach your hand to hold me,

but I can't be your guide.

It's easy to love you as I watch you glide.

We're falling through wet forests on our moonlight drive.

Come on baby, gonna take a little ride.

Come on.

Down by the ocean side.

Get real close, get real tight.



(Moonlight Drive - do poema original "Moonlight Ride" :

"Come on baby, gonna take a little ride
Down, down by the ocean side
Gonna get real close
Get real tight
Baby gon' drown tonight, drown drown drown"

Todo Poderoso Jim Morrison)


não tem saído da minha cabeça esses dias...



O sexo das borboletas!

simples assim...
agora à tardinha,
no meio da rua,
em plena luz do dia!
lindas, não?

A Tábua de Esmeralda

Este texto foi referendado por todos os alquimistas e dificilmente um alquimista não o sabia de cor ou não o tinha anotado em local visível em seu laboratório, para constantes meditações. Este texto alquímico foi escrito em uma esmeralda por Hermes Trimegisto e apesar de muito reduzido contém todos os ensinamentos da alquimia, basta conseguir interpretá-lo.

Existem várias versões deste texto, porém com poucas distorções, isto deve ser devido as inúmeras traduções de idiomas distintos. Escolhi para postar esse, com um breves comentários entre parênteses, que fazem percorrer um périplo que vai da trindade humana (corpo, alma, espírito), a uma trindade cósmica (mundo natural, mundo humano, mundo divino) para terminar na trindade divina (Espírito, Essência, Energia-Vida).



I - "É verdadeiro, sem falsidade, certo e muito verdadeiro

(A verdade nos três mundos)

II - "que àquilo que está em cima é igual àquilo que está embaixo

(Lei da polaridade, da imantação)

e que àquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima,

(Lei da analogia, lei dos sinais de apoio)

para realizar os milagres de uma única coisa.

(Lei do Ternário e de série, lei das correspondências)

III - "E da mesma forma que todas as coisas foram e vieram do Um,

(Lei da unidade e da criação divinas, lei do Número)

assim todas as coisas nasceram desta coisa única por simples ato de adaptação.

(Lei da adaptação)

IV - "O Sol é seu pai, a Lua sua mãe, o vento a carregou em seu útero, a terra é sua ama de leite.

(Os quatro elementos: Fogo (Sol), Água (a Lua, elemento úmido), Ar (o vento); Terra)

O Telesma (perfeição) de todo o mundo está aí.
Seu poder não tem limites sobre a Terra.

V - "Separarás os elementos da Terra daqueles do Fogo, o sutil do grosseiro, cuidadosamente com grande habilidade.

(Arcano da salvação; separação do espírito (sutil) e da matéria (espesso); espiritualização)


Sobe da Terra para o Céu e torna a descer para a Terra e une para si próprio a força das coisas superiores e inferiores...

(Leis da involução e da evolução)

Desse modo, obterás a glória do mundo e toda obscuridade fugirá de ti.

VI - "É a força de toda força,

(Lei do amor e do sacrifício)

pois vencerá qualquer coisa sutil e penetrará em toda coisa sólida

(E pela lei do Amor que o Espírito move o universo)

VII - "Assim o mundo foi criado.

(Lei da realização. Amor e Sacrifício criam as obras duráveis)

VIII - "Conseqüentemente esta é a fonte das inúmeras e admiradas adaptações cujo meio está aqui.

IX - "Por esta razão sou chamado Hermes Trimegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal."

(Conhecimento absoluto dos três planos do universo: divino, astral, físico)


"O que eu disse a respeito da operação do Sol está realizado e aperfeiçoado."



Completo hein!

Dose Homeopática

Florbela Espanca, ainda o vol. II, em dose homeopática:

"Eu quero bem a tudo, a toda gente!...
Ando a amar assim, perdidamente,
A acalentar o mundo nos meus braços!"

(Em Vão)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

"Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério."

(ahhh... Pessoa) enquanto eu ainda não organizei as palavras de ontem... que vieram no meio do barulho e da fumaça, lá no "Quintal de Casa"...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Fogo do Inferno

Porque sempre acordo com alguém gritando, ou um violão desafinado, uma guitarra distorcida, um anarcopunk revoltado? Hoje foi o Marcelo Nova, com essa:

"Ouvi notícias de muito longe batendo na minha porta
Eu vi os garfos, eu vi as facas em cima da mesa posta.
Pra que mensagens e telegramas se você; chega e some
Tenho dinheiro e CPF, mas não me lembro o meu nome.
(...)
Pra que escolas e faculdades não há nada pra aprender
Eu já não vejo, eu já não penso, já não consigo escrever
Sou faixa preta, toco guitarra, um dia vou popular de asa
Durmo de dia, trabalho à noite não sei se volto pra casa.
Olho pro trânsito, olho o sinal, tá tudo engarrafado,
Vídeo cassete, computadores e homens codificados
(...)
Tô abafado, me dá licença vê se sai da minha frente
Tenho miopia sou hipotenso, meu pé tá sempre dormente
Amsterdã via Paris acho que é nesse que eu vou
Mudei o corte do meu cabelo já nem sei como eu sou.
Não há mais festa nem carnaval
Acho que eu fui enganado
Me diga as horas eu vou embora
Hoje eu tô atrasado. "
(Hoje)

E hoje eu estava atrasada também... pra variar...

Saio correndo de pressa,
cabelo molhado,
maquiando no elevador,
pensando nessa:


"Não me queira solução
Pois eu sou o seu problema
Eu lhe tento, eu lhe amedronto
Eu sou o X do seu dilema
E o calor que me consome
Em cada gesto ou pensamento
É o do fogo do inferno
E não o mormaço de Ipanema
Você é tão previsível
Eu sou o susto e a surpresa
Ao meio-dia você almoça,
Eu já comi sua sobremesa
E é mesmo perigoso,
Não adianta por seu pano quente
Todo ano tentam acabar comigo
Mas eu sou um sobrevivente
(...)
O que eu faço lhe confunde
O meu jeito lhe ofende
Já lhe mostrei minhas entranhas
Mas você não compreende
Que destino não se apaga,
Quando já nasce traçado
Prefiro inteiro arder em chamas,
Do que aos poucos congelado
Baby, baby, baby, se você quiser pagar pra ver
Eu incendeio a sua alma você não vai se arrepender"

(Fogo do Inferno, Marcelo Nova - com pequenas intervenções minhas)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Quanta verdade um homem é capaz de suportar?" - perguntou Nietzsche...

e uma mulher??? - pergunto eu...

Solucionador de problemas

é muito simples!
"Tudo que se eleva acima da sua condição, tanto no bem quanto no mal, expõe-se a represálias dos deuses. Tende, com efeito, a subverter a ordem do mundo, a pôr em perigo a ordem universal e, por isso, tem de ser castigado, se se pretende que o Universo se mantenha como é."

(sobre a inevitável Nêmesis)

mas poderia ser também Alecto, Megaira ou Tisífone... ou todas juntas... a escolher...

owl's dreams

Essa coruja que eu trago nas costas, que me faz alçar lindos vôos, tem me trazido muita coisa... Sempre carreguei ela comigo, e de uns tempos prá cá resolvi estampá-la... e agora acho que ela é quem me carregava, no bico, lá no alto... E vendo tudo pequenininho, lá de cima, descobri que vê-se melhor! Qua as coisas de perto parecem maiores, algumas vezes até únicas... Mas quando vê-se o todo, percebe-se que é nítida a diferença entre o que as coisas são e o que parecem ser. E o que queríamos que fossem... Não, ela não me carrega mais... Aprendi a voar sozinha! Voamos juntas... O mesmo vôo... Eu sei voar! Ela agora é o lado de fora, mas eu sou o dentro... Ela enxerga as coisas no escuro, depois vem, e me conta tudo... E eu acordo sabendo... Não há nada mais que passe por mim sem que eu o saiba. Não há distância que eu não alcance em sonho, numa só batida de asas. Não há um só som que eu não possa identificar, não importa o zunido. Não há ser que se aproxime sem antes eu arrepiar... Não sei se é de todo bom, saber tanta coisa assim... Mas já até me acostumei. Tinha me esquecido de como era fácil! Simples como subir à tona para respirar... É só fechar os olhos e não pensar.... Vem coruja, vem... pia aqui no ombro só pra eu escutar... E depois vai, e voa sozinha... Que agora eu já sei - ninguém vai me alcançar...

o soneto voador

(img: rumen dragostinov)




Vou ter agora com a sorte
deixo o rico, e o que gosta de mim,
desfaço do mais belo e do mais forte
para escolher então assim...

Eu quero hoje o mais à toa,
qualquer um que não me queira tanto...
Qualquer perda que não doa,
para que possa acabar sem pranto.

Quero um que voe bem alto comigo
Nos meus vôos noturnos, ave de rapina
para lembrar que ainda sou menina...

Que seja um homem pássaro, voador!
Que já me cansei desses felinos...
Não sabem ser homens... são apenas meninos...

domingo, 26 de abril de 2009

Ah! Que mulher é bicho estranho, ora...
Estando lá, queria ir embora;
porque então quer voltar, agora?

[sem título]

............................................
............................................
............................................
............................................

E não sou de ninguém... Quem me quiser
Há de ser luz do sol em tardes quentes,
Nos olhos de água clara há de trazer
As fúlgidas pupilas da vidente!

Há de ser seiva no botão repleto
Voz no murmúrio do pequeno insecto,
Vento que enfuna as velas sobre os mastros!...

Há de ser Outro e Outro num momento!
Força viva, brutal, em movimento,
Astro arrastando catadupas de astros!

(Florbela Espanca) ela voltou - estou lendo o Vol. II...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Simone de Beauvoir...

segui o conselho da maricota, e fui ler Simone de Beauvoir... francesa, muito louca, escritora, filósofa, existencialista, viveu com Sartre (ele mesmo, o Jean Paul) uma espécie de "relacionamento aberto"... e olha o que ela me disse:

"(...) Entretanto, não se deve acreditar que todas as dificulades se atenuem nas mulheres de temperamento ardente. Ao contrário, podem exasperar-se. A pertubação feminina pode atingir uma intensidade que o homem não conhece. (...) Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher... Hoje cedo desejei ardentemente ser a garota que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena... No entanto, não quero acreditar: um ato de fé é o ato mais desesperado que existe e quero que meu desespero pelo menos conserve sua lucidez. Não quero mentir para mim mesma."


estou achando que a Simone sabia das coisas... extremista, claro... adoro... ("sans un peu d'extrême, est inacceptable")

quem tiver um livro dela que me empreste... fiquei sem palavras hoje... gostaria de usar umas dela talvez... já que as minhas ficaram indecisas, não conseguiram se arrumar para sair, e decidiram não ir!
Diabo!
Foi ele mesmo
Que me deu o toque...

Enquanto Freud
Explica as coisas
O diabo fica dando toque...

(Rock do Diabo - raul, claro)
choveu
molhou o esquema

Disquisição na insônia

Que é loucura: ser cavaleiro andante
ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, acordado, sonha doidamente?
O que, mesmo vendado,
vê o real e segue o sonho
de um doido pelas bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o único maluco,
e me sabendo tal, sem grão de siso,
sou — que doideira — um louco de juízo.

(Carlos Drummond de Andrade, em "Impurezas do Branco" de 1973)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Arte de Amar

(Toulouse Lautrec, "The Kiss" 1892)

"Mais violentamente o Amor me transpasse, mais violentamente ele me abrase, melhor saberei me vingar das feridas que ele me fez."

...esse é o Ovídio, que já citei aqui, dentro de uma outra citação... e agora citarei por mim mesma... os meus preferidos! Tão antigo, tão atual, tão espiral, infinito...


"Nada é tão bom quanto o que é vergonhoso; cada um só pensa em seu prazer, e até aquele que procura fazer o outro sofrer tem seu charme. Que escândalo!"

"Frequentemente, com a aproximação do outono, quando o ano está na sua mais bela época, quando as uvas ficam cheias de um suco acobreado, quase vermelho, quando sentimos aos poucos um frio que nos aperta ou um calor que nos distende, esta inconstância de temperatura fatiga o corpo."

"Poucos prazeres e muitas penas, eis o quinhão dos amantes: que eles preparem sua alma para numerosas provas."

"Perigosa é minha empreitada, mas, sem perigo não há mérito."

"Não há amor que ceda lugar a um outo amor que o substitui."

"Há remédios que não podem ser impostos, mas que, quase sempre, tomados por casao podem ser úteis."

"O vinho predispõe nossa alma para o amor, se não o tomarmos demais, e que nossos sentidos, afogados por abundantes libações, não fiquem entorpecidos. O vento alimenta o fogo, o vento o apaga; ligeira, uma brisa alimenta a chama; muito forte, ela a sufoca. Mas nenhuma embriaguez, ou uma embriaguez tal que leve todas as inquietações amorosas; um estado intermediário é perigoso."

(Ovídio - 43 a.C. a 17 d.C. / em "A Arte de Amar" )
Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?

Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.
(...)

(Pessoa, de novo)
Se estou só, quero não estar

Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.

Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis.

A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.

(Pessoa, não sei sob qual pessoa)
"As únicas pessoas pra mim são as loucas;
loucas para viver, loucas para falar, loucas para serem salvas,
que desejam tudo ao mesmo tempo,
que bocejam diante do comum e ardem,
ardem como fabulosos fogos de artifício
que explodem em mil centelhas entre as estrelas."

(Jack Kerouac)

Soneto

Por que me descobriste no abandono?
Com que tortura me arrancaste um beijo?
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono?

Com que mentira abriste meu segredo?
De que romance antigo me roubaste?
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo?

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio?
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio?



(Chico Buarque) adoro quando ele escreve como mulher...
(mc escher - pra mim tá de ponta cabeça...)

Ouvindo a música dos trovões
Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente
Sem que sejam forjados para acontecer
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes
Lentamente deixai que as coisas que lhe circundam
Estejam sempre inertes como móveis
Inofensivos para lhe servir quando for
Preciso e nunca lhe causar danos
Sejam eles morais físicos ou psicológicos

Walking in the morning sun, my pockets are empty now.
I don't have anything, only a little black boots.
And little flower in hand, looking to the city.
Cabs, buildings, people, a rocket on the sky, my mind fliiiieeesss.
Borboletas se equilibram no espaço.
Um muro velho em minha face.
Uma cadeira flutua num espiral.
Flores em minha camisa numa tarde do bairro.
E enquanto caminho pelas ruas da cidade, lembro que uma sobremesa me espera em casaaaa.

Eeeee, uma sobremesaa
Eeeee, uma sobremesaa
Eeeee, uma sobremesaa
Eeeee, uma sobremesaa


Wait,

Yeahhh

(corpo de lama + sobremesa - chico science/nação zumbi) assim do jeito que ouvi agora... ,

a hora do almoço foi mágica... teve sol e chuva, borboletas - muitas borboletas! visita, e o canto dos pássaros...
hoje a pressa me fez sair com uma roupa que não gosto...
"Sou extremista porque quem é moderado na proclamação da verdade, proclama somente a metade da verdade e deixa a outra metade velada por medo do que o mundo dirá."

(também do Gibran)

"Temporais"

Gibran Khalil Gibran foi um poeta Libanês do séc XIX...
Porque ele está aqui: Quando ele tinha oito anos, um dia, viu um temporal. Gibran olha, fascinado, para a natureza em fúria e, estando sua mãe ocupada, abre a porta e sai a correr com os ventos. Quando a mãe, apavorada, o alcança e repreende, ele lhe responde com todo o ardor de suas paixões nascentes: "Mas, mamãe, eu gosto das tempestades. Gosto delas. Gosto!".
Cresceu, e homem feito escreveu em "Temporais":

Poeta

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.

Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.

Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.

(...)

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.

Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.

Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...

Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.

(...)

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria."



quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tempestade!



Amanhã faz um mês o EUNACHUVA, mas eu apressadinha, vou postar agora a poesia, que seria de amanhã, sem métrica nem muita rima, sem parâmetros, meio como estou hoje:


Tempestade!

Choveu!
Choveu e mudou tudo...
De novo, mais uma vez...
Eu que não me acostumo
com esse meu humor de tempestade!
Ora chorando rios (que eu mesma inventei)
ora sorrindo montanhas
mas sempre, sempre passeando...
À beira do absimo!

Choveu!
Mudou tudo...
Molhou o esquema
pensamento, ficou mudo.

Choveu!
Choveu e não parou mais...
E eu fiquei contando gotas,
assistindo relâmpagos,
escutando trovões...

Choveu!
Choveu muito e ainda chove...
Molhou tudo...
E eu, sem guarda-chuva!
Molhada e com frio...
Pensamento foi à mil.

Choveu!
E há de chover mais...
E eu vou pisando nas poças,
sem nem olhar pra trás...

Vou pingando meus versos,
inundando as idéias,
vendo a enchente transbordar...
Esses meus versos feitos de água,
não tarda o sol virá secar.
Versos líquidos, escorregadios
teimam em me escapar...
E eu só de teimosia, escrevo.

Choveu!
Choveu, molhou o asfalto
e eu queria andar de skate...
Sentir o vento no cabelo,
bem forte!
Vento frio, que quase corta
quase incomoda... quase...
E arrasta com ele os meus versos,
fazendo-me livre!
Livre de mim mesma...
Vazia de idéias.
Pelo menos um pouco...
Uma paz efêmera que às vezes falta...

Mas choveu!
Choveu, e não rolou...
E eu bem que gostei:
porque umas coisas a água levou
e as que eu queria segurei...

E não poderia ter sido diferente,
se fosse não era eu.
Não era eu, na chuva!

Pensamento

Pensamento que vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento, dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.

(Arnaldo Antunes)

o último do livro

vou citar a Florbela, o último dela, pelo menos até que eu leia o vol.II...
escolho estas, porque me vejo nelas:

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!"

e encerra-se aqui a participação da Florbela, e dessa vibe spank love dela... ao menos por hora, por agora...
Acordei elétrica hoje...
Acho que foi a "viola elétrica" do John Cale + vocal e guitarra distorcidos do Lou Reed que me acordaram, desafinando, como sempre uma nota abaixo do tom, só porque assim soa mais sexy... Como se precisassem ainda de algo mais sexy do que chamar The Velevt Underground... e de ter Nico Icon em alguns vocais... Docemente triste, fatalmente poético... Fiquei com essa na cabeça:

"There she goes again
She's out on the streets again
She's down on her knees, my friend
But you know she'll never ask you please again

Now take a look, there's no tears in her eyes
She won't take it from just any guy, what can you do
You see her walkin' on down the street
Look at all your friends she's gonna meet
You better hit her

There she goes again
She's knocked out on her feet again
She's down on her knees, my friend
But you know she'll never ask you please again

(...)

She's gonna bawl and shout
She's gonna work it
She's gonna work it out, bye bye
Bye bye baby
All right"



E fiquei também com um zunido, acho que foi da guitarra distorcida!

terça-feira, 21 de abril de 2009

"eu era um enigma, uma interrogação
olha que coisa
mas que coisa à toa, boa, boa, boa, boa, boa
eu tava com graça...
tava por acaso ali, não era nada
(...)
era uma mensagem
lia uma mensagem
parece bobagem mas não era não
eu não decifrava, eu não conseguia
mas aquilo ia, e eu ia, e eu ia, e eu ia, e eu ia
eu me perguntava
(...)
mas via outras coisas: via o moço forte
e a mulher macia den'da escuridão
via o que é visível, via o que não via
e o que poesia e a profecia não vêem
mas vêem, vêem, vêem, vêem, vêem
é o que parecia
que as coisas conversam coisas surpreendentes
fatalmente erram, acham solução
e que o mesmo signo que eu tento ler e ser
é apenas um possível e o impossível
em mim, em mil, em mil, em mil, em mil
e a pergunta vinha"





(Eu sou neguinha? Caetano Veloso)
ah... o amanhecer na Fundação Pedra do Baú! deu uma saudade desse frio...



mais do livro...

... e foi que na chuva, as plantas floresceram! e hoje, levaram-me as palavras, deixaram só aquelas poucas... por isso venho citar mais do livro, que aliás vorazmente, devorei:

"Por mais que fujas sempre, um sonho há de alcançar-te
Se um sonho pode andar por todo o infinito,
De que serve fugir se um sonho há de encontrar-te?!"

(Quem sabe?!...)

[2]
Que filtro embriagante
Me deste tu a beber?
Até me esqueço de mim
E não te posso esquecer!...

(As Quadras D'Ele III)

"Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!"

(Anseios)


-todos dela, da Florbela...

1, 2, 3

Tanto às vezes pode ser tão...
tão, tão, tão?
Nenhum...
Tantas vezes ser tão destes
Outras tantas não ter nem um.
Quantas vezes são necessárias
para só se querer algum?
e, para os dias que acordo carente de palavras, vem o Brad e me empresta as dele:

"Baby if you wanna get on
Oh baby if you wanna get off
It makes no sense at all
I saw red
I saw red, I saw red, one more sacred lover that I shot dead
Everyday I wake up just a little bit more
feelin' like a dog out on the yard
because that's just how we are
Everyday I wonder if it's over
when I wake up realizin' that we hate
and breake down the war
You say it's black, but I can't believe you
And if I say it's white,
you say I'm tryin to deceive you
And I'm aware of the high and the low,
and I'd be waiting for you in the middle but I just lack control
Baby if you wanna get low
Oh baby if you wanna get high
It makes no sense at all
I saw red
I saw red, I saw red, one more sacred lover that I shot dead"



(Saw Red)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

do livro novo que comecei

"Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste
O ecncanto supremo que os ditou?
Acaso quando os leste, imaginaste
Que era teu esse olhar que os inspirou?
Adivinhaste? Eu não posso acreditar
Que adivinhasses, vês? (...)"

(Os Meus Versos, Florbela Espanca em "O Livro D'ele" 1915 - 1917)

Comecei este livrinho hoje... Abre o livro novo, lê a dedicatória, fecha o livro. Abre de novo, para ler um poema ao acaso. O acaso escolhe este. Eu definitivamente não acredito em acasos...

Eu então, escolho este outro:

"Acreditar em mulheres
É coisa que ninguém faz;
Tudo quanto amor constrói
A inconstância desfaz.

Hoje amam, amanhã 'squecem,
Ora dores, ora alegrias;
E o seu eternamente
Dura sempre uns oito dias!..."

(Verdades Cruéis, em "Trocando Olhares" 1915 - 1917)

A Outra

"
(...)
A gente ria tanto desses nossos desencontros
Mas você passou do ponto
e agora eu já não sei mais...
Eu quero paz
Quero dançar com outro par
pra variar, amor
Não dá mais pra fingir que ainda não vi
As cicatrizes que ela fez
Se desta vez
ela é senhora deste amor
Pois vá embora, por favor
Que não demora pra essa dor
sangrar."


(Marcelo Camelo)




- and I saw red...

domingo, 19 de abril de 2009

Os versos da noite sem fim


E foi assim que eles juntaram os astros...


O barulho, atravessando as paredes,
dois corpos ocupando o mesmo espaço.


Ela terá de se acostumar: há de ser sempre forte assim.
Ele terá de de satisfazer: há de nunca chegar o fim.


Ela, só o deixa sair se for para voltar - depressa.
Ele, só dorme se for para ela o acordar - com pressa.


Noite adentro, tão fundo quanto se pode ir...
Tão quente quanto se pode suportar...
Amor bruto, que chega a ferir.
Incandescente, chega a queimar.


Intenso.
O ar, quase palpável, denso.


O sol começa a sair - que dia! Mas a lua insiste em ficar...
A noite, insaciável como os dois, não sabia terminar.


Ela ensaia despertar.
Ele aperta o abraço, não a deixa levantar.


(Fecha os olhos que ainda é noite,
há muito ainda por vir, tão cedo não há de acabar...)



...e com toda urgência agora,
porém sem pressa nenhuma,
ela espera o próximo eclipse...
Escrevo por escrever, para não ser lida, para não ler. As frases que me ocorrem pesam - livro-me delas sem perceber. Vou escrevendo verdades e mentiras, poesia e invenção. Vou juntando as palavras, e as palavras apenas são.

...

Escrevo desde que me dou por gente, desde que aprendi a escrever. E isso foi muito cedo, antes de ir para a escola. Fui "alfabetizada" (odeio essa palavra) em casa, por minha avó, que era professora. Ela me ensinou a "fazer as letras" e a juntá-las, para "fazer palavras". Aprendi a escrever livre, escrever o que eu quisesse, sem ter que copiar da lousa, escrever ditado, sem caderno de caligrafia... E as coisas de criança pequena que eu pensava, com as letras desenhadas (porque era mais desenho que escrita ainda) eu escrevia. E eram coisas bonitas... Minha avó gostava - guardou-as a vida toda, e hoje são minhas de volta. Que saudades... E eu ia desenhando textos, as letras de forma grandes e tortas! Quanto papel eu gastava! E gostava de escrever em outras coisas também: panos, paredes, móveis... Ainda bem que hoje tenho este blog, e uns cadernos...
Ainda bem...

De como ele matou o amor

Não, nem sempre foi assim. Nem sempre fui dele. Só depois dele me roubar para ele. E me guardar a sete chaves, assim como se guarda uma coisa linda e cara, uma coisa especial e rara, que a gente tem só para saber que é nossa e olhar para ela de vez em quando. Uma louça fina que não se usa, por medo de quebrar. No começo, achei bom ser de louça... Achei que era zelo, medo de espatifar. Mas aos poucos fui me cansando do armário, da porta trancada, da chave. Ele, foi esquecendo de me tirar de lá. Esqueceu que a coisa era viva, e precisva ser cuidada, como uma planta que morre se não for regada, como um cachorro que tem de passear... E a culpa também foi minha, porque não pedi para sair de lá. Talvez eu pensasse, mas pensar não faz barulho - ele não poderia adivinhar. E eu sei que ele me ama, mas não bastou, porque ele também esqueceu de demonstrar. Às vezes eu fugia. Mas talvez por medo, talvez por amor (que amar também é se dar) ou até por preguiça... Eu acabava por voltar. Fui indo e vindo, sempre meio dormindo, e ele sem nem notar... Não aguou as plantas, nem levou os cachorros para passear. Não trouxe o café-da-manhã, e no barulho do som dele nem me ouviu chorar. Saiu, bateu a porta, não esperou eu acordar. Pronto! Estava morto - e eu custei a acreditar... Fingi para mim mesma que não queria sair, e até parei de tentar... E por um tempo acreditei. Só que agora eu me cansei - vou sair para arejar! Vou por as plantas para tomar chuva e soltar os cães para cheirarem o ar. Talvez eles não voltem... Se não quiserem não têm de voltar. Que é bom também ser livre. Sei que vou sentir saudades, ficar triste, até chorar... Vou demorar pra acostumar. Vai ser difícil - posso até querer voltar... Mas vou ser minha agora um pouco, ou de quem me souber levar...

c'est fini!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Poética I

"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando."

(Vinícius, do Livro de Sonetos)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) do mundo, mas a poesia (inexplicável) da vida."

(Carlos Drummond de Andrade)

O POEMA SAMBA

O SAMBA...
É O MELHOR AMIGO DA RAPAZIADA
É UMA BOLA DE PÉ EM PÉ NUMA PELADA
E LÁ NA MESA DA SINUCA É A BOLA DA VEZ

E MESMO QUE A MALANDRAGEM
TENHA SE ACABADO
O SAMBA VAI EM FRETE
DANDO SEU RECADO
BOTANDO GALHO DENTRO,
SEM PERDER O REBOLADO
COMO SEMPRE FEZ
SE HOJE, ELE É CHAMADO DE PAGODE,
SAMBALANÇO, SAMBA-DE-RODA
O SAMBA TÁ NA MODA, O SAMBA É NOTA DEZ
PORQUE ELE É UM BOM BRASILEIRO
QUE DANDO TAPA NO PANDEIRO
ENTENDE A SUA GENTE DA CABEÇA AOS PÉS

O SAMBA...
É A FAMÍLIA DE CARLOS CACHAÇA
QUANDO BEBE CAIPIRINHA FICA CHEIO DE GRAÇA
E QUANDO FICA MUITO DOIDO SÓ PENSA EM MULHER
SE ENCANTA, TIRA DA CARTOLA UMA SERENATA
ROSAS QUE EXALAM CHEIRO DE MULATA
FAZENDO POESIA COMO BAUDELAIRE
É NEGRO E CONTA SUA HISTÓRIA SEM SEGREDO
SE TEM BRANCO NO MEIO NÃO TEM PRECONCEITO
PODE SER PROTESTANTE OU DE CANDOMBLÉ

O SAMBA TRAZ NA MEMÓRIA
O MELHOR DA NOSSA HISTÓRIA
SÓ ELE SABE COMO FOI..
SÓ ELE SABE COMO É...

O SAMBA... TÔ FALANDO, FALANDO DO SAMBA
FALANDO, FALANDO, FALANDO DO SAMBA

O SAMBA...
JÁ FOI PROIBIDO NO TERREIRO
FOI COISA DE POBRE, DE MACUMBEIRO
...MAS NUNCA DEIXOU DE SER O QUE ELE É
FOI VALENTE ENFRENTANDO A GULA DO ESTRANGEIRO
COM AQUELA RAÇA DE UM GUERREIRO
QUE SABE CONQUISTAR TUDO QUE QUER

SE HOJE, FREQUENTA A CASA DE BACANA
TIROU O PÉ DA LAMA, GANHOU GRANA
É PORQUE IMPÔS A SUA TRADIÇÃO
É ELE QUE TODO ANO NA AVENIDA,
BATUCANDO PELA VIDA
LEVANTA A ARQUIBANCADA
E FAZ A ALEGRIA DO POVÃO

É ELE, O SAMBA...
EU TÔ FALANDO DE SAMBA...
O SAMBA DA MULTIDÃO!

O SAMBA QUE TÁ NO MARACA,
O SAMBA QUE TÁ NA SELEÇÃO
GALO! BAHIA! CURINGÃO! MENGÃO!
A CARA DO BRASIL COM A BOLA NO PÉ
É LINDO,
VÊ-LO NO GRAMADO DANDO SHOW NO GRINGO
E AO MENINO POBRE A CHANCE DE SER RICO
TIRANDO DA GALERA UM GRITO DE OLÉ!

OLHA, QUE ISSO NÃO É BRINCADEIRA
ESSA PÁTRIA QUANDO VESTE CHUTEIRA...
É ZICO, É DIDI, É ROMÁRIO, RONALDO, RONALDINHO...
É TUDO MANÉ!

E O SAMBA É BOM DE BOLA
DO DRIBLE DE GARRINCHA INVENTOU A BOSSA NOVA
E DEU PRA TOM JOBIM UM PASSE DE PELÉ
É PASSE DE PELÉ...

É SAMBA...
SAMBA CONTENTE...
SAMBA MINHA GENTE MESMO NÃO SENDO CARNAVAL!
SAMBA...
SAMBA COM A GENTE
O SAMBA TÁ LÁ NO FUNDO DO NOSSO QUINTAL!

O SAMBA... O SAMBA...
O SAMBA... DIZEM NASCEU LÁ NA BAHIA,
NINGUÉM SABE, NINGUÉM VIU...
O SAMBA... CHEGOU NO RIO DE JANEIRO
E A PARTIR DO RIO, INVENTOU O BRASIL...

BRASIL É SAMBA... SAMBA, BRASIL
BRASIL É SAMBA... SAMBA, BRASIL

SAMBA LELÊ, SAMBA LELÊ, SAMBA LELÊ , CAMARÁ...
SAMBA BRASIL... SAMBA BRASIL... SAMBA BRASIL!
BRASIL... BRASIL... BRASIL...


quarta-feira, 15 de abril de 2009

suave que nem garoa / forte que nem trovão


que será isso
que me toma de repente
e me acende
me transcende
que me faz dizer sim quando deveria ser não
que esconde meu juízo
e engole minha razão?

que será isso
que me faz enlouquecer
pelo sim e pelo não
me arranha até quase doer
e mergulha no fundo de mim sem direção?
suave que nem garoa...
forte que nem trovão...

que será isso?
que há de ser isso então?



(a foto é do Jason Taylor, tem mais aqui http://entretenimento.uol.com.br/album/bbc/jason_taylor_album.jhtm)

terça-feira, 14 de abril de 2009


"Os cães são o nosso elo com o Paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz."

(Milan Kundera)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Poucas coisas me fazem tão bem quanto caminhar na chuva... Qualquer outra pessoa, hoje, no meu lugar diria o contrário: até o Pessoa - "Pensar incomoda como andar à chuva".
Eu também acho que pensar incomoda. Mas, já que é para pensar, que seja então na chuva de uma vez...
Um barco navega, sonhando, contente,
Na tarde de julho - e o sol, complacente,
O mar ilumina em fulgor resplendente...

Crianças felizes, na praia abrigadas,
Num grupo de três, a escutar, encantadas,
Um simples relato de lendas douradas...

Desbotam memórias a cada arrebol
Dos ecos arcanos de antigo farol -
As geadas do inverno mataram o sol!...

O fantasma de Alice assombra-me ainda,
Debaixo dos céus se movendo - tão linda!
Na terra invisível de sonhos infinda...

Somente crianças, ao ouvirem a história,
Com olhos ansiosos, atentos à glória,
Percebem o ouro no meio da escória...

E fazem seus ninhos na Terra Encantada,
Sonhando de dia e na noite estrelada
Com mortos verões transformados em nada...

E ao serem jogadas na estranha corrida
É a mensagem dourada afinal pecebida:
Que a vida é um sonho e que o sonho é a vida!...

(essa poesia fecha "Alice no País do Espelho" de Lewis Carroll, 1871)

sábado, 11 de abril de 2009


Eu sempre achei que o Bradley Nowell era um poeta, antes de qualquer coisa...




"and if rhymes were valiums i would be comfortably numb cause...


(...)


If I had a shotgun, you know what I'd do?


I'd point that shit straight at the sky


And shoot heaven on down for you


Because the bars are always open


And the time is always right


and if gods good word goes unspoken


the music goes all night


and it goes...


I want a lover but I can't find the time


I want a reason but can't find a rhyme


I want to start some static but I cant afford


To get slammed to the ground like I fell off my skateboard


Nowadays is clear as you please

Strap with protection or struck with disease..."


(Don't Push)





E agora me aparece o Sublime com um novo vocalista... um tal de Rome... nada contra a pessoa dele, mas a favor do Brad... agora gente, dá licença que eu vou chorar no cantinho, enquanto o Brad se debate no túmulo... acho que até o Louie Dog se debate em sua vala coletiva para animais ou seja lá onde for (para onde vão os bichos que morrem mesmo?) nesse momento...
RIP Brad... se vc ainda puder...




beijotchau

Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.

"
Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.
Sim: existo dentro do meu corpo.
Não trago o sol nem a lua na algibeira.
Não quero conquistar mundos porque dormi mal,
Nem almoçar o mundo por causa do estômago.
Indiferente?
Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,
Um momento no ar que não é para nós,
E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,
Traz! na realidade que não falta! Não tenho pressa.
Pressa de quê? Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega
Nem um centímetro mais longe.
Toco só aonde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E somos vadios do nosso corpo.
E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.

"

(alberto caeiro)
E foi assim que a princesa acordou presa, na torre do castelo. Despertou de um sono profundo, que já devia durar muito tempo.
Sentou-se então, e escreveu umas poucas palavras manchadas de vinho da noite anterior.
Era como se organizasse as palavras, para parecerem bonitas ao olhar. Como fazer um arranjo de flores, ou pintar uma parede, dispor as coisas numa ordem para exaltar sua beleza - há também uma arte em dispor palavras, além das rimas. Permaneceu, brincando de frases, trocando-as de lugar, girando, sem pressa.
Começou a achar que não era de todo ruim estar ali, presa. Era belo o canto dos pássaros, e era bela a imagem que se formava da fumaça branca ao sol. E havia um perfume...
Arranjou mais algumas frases, trocou-as de lugar, e então voltou a dormir.
E lá de cima, vendo tudo com mais beleza, percebeu que não era pricesa, nem tampouco havia castelo. E que a torre era ela mesma.
E só por hoje decidiu ficar presa.


///


"Não há cavalo, nem moço,
nem torre, príncipe, nada
porque tudo foi sonhado...
porque tudo foi sonhado...
Estranho é tudo o que vejo...
Tudo que sinto e respiro...
É espanto o que admiro...
é tanto que já não creio...
(...)
Não sonho? Ou sim? É Engano.
Bem sei que estou acordado.
(...)
Céu... o que é que foi mudado?
Que fez minha fantasia?
O que fizeram de mim?
O que houve enquanto eu dormia?
Isto que eu sou terá fim?
Não sei... não posso saber...
Já não quero discutir...
Melhor deixar-me servir...
E seja o que há de ser."

(Pedro Calderón de La Barca, en La Vida Es Sueño, 1635)

"¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño :
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son."

quinta-feira, 9 de abril de 2009

High paradise II

(Kaliandra - Alto Paraíso/GO)


"Música é dança entre o Som e o Silêncio. O Som pertence à Terra, e o Silêncio ao Divino"


(estava escrito lá na porta)

L'excessive

Je n'ai pas d'excuse,
C'est inexplicable,
Même inexorable,
C'est pas pour l'extase, c'est que l'existence,
Sans un peu d'extrême, est inacceptable,

Je suis excessive,
J'aime quand ça désaxe,
Quand tout accélère,
Moi je reste relaxe
Je suis excessive,
Quand tout explose,
Quand la vie s'exhibe,
C'est une transe exquise

Y'en a que ça excède, d'autres que ça vexe,
Y'en a qui exigent que je revienne dans l'axe,
Y'en a qui s'exclament que c'est un complexe,
Y'en a qui s'excitent avec tous ces "X" dans le texte

Je suis excessive,
J'aime quand ça désaxe,
Quand tout accélère,
Moi je reste relaxe
Je suis excessive,
Quand tout explose,
Quand la vie s'exhibe,
C'est une transe exquise, (ouais).

Je suis excessive,
J'aime quand ça désaxe,
Quand tout exagère,
Moi je reste relaxe
Je suis excessive,
Excessivement gaie, excessivement triste,
C'est là que j'existe.
Mmmm, pas d'excuse ! Pas d'excuse !

Enivrez-vous

"Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."

(Baudelaire, "Petites Poèmes en Prose", 1862)

quarta-feira, 8 de abril de 2009


Sob o abajour de lírios, de onde vêm todos os devaneios, ela achava que sabia de tudo que queria.
Agora ela quer o que não sabe. E nem sabe por que quer tanto... E nem quer saber...
À meia luz do fim da tarde, ela só sabe querer.

4º motivo da rosa

"Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim."


(Cecília Meireles)


"Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas pro ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono."

(Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos VII")
(aquarela: Antoine de Saint Exupéry)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Eis que ela sonhou de novo!
Incrível, o mesmo sonho,
a mesma pouca luz, azulada,
os mesmos olhos de perto,
a mesma voz de longe,
o mesmo lugar...
E quem é ele?
Ela não sabe.
Sempre acorda antes de saber.
Procura...
Às vezes pensa que acha.
Engana-se.
Procura...
Não acha.
Pensa que achou sem procurar...
Confunde-se.
Talvez, e somente talvez, ele não exista.
Talvez, ela o inventara, para este sonho.
Procura então em outro sonho...
Não acha.
Procura, à noite, por este sonho.
Não aparece...
Se cansa.
Esquece.
Esquecido.
Sonha de novo...

Os Degraus


Não desças os degraus do sonho

Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde

Os deuses, por trás das suas máscaras,

Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!

E é um sonho louco este nosso mundo...


(Mario Quintana, em Baú de Espantos)

a foto é da Pri...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Vertigem II / Menina no Balanço



Menina no Balanço

A calcinha (que é calça) de morim cambraia,
nada transparente, de babados,
deve chegar até quase os joelhos.
A gente espera, a gente fica prelibando,
mas nem isto se vê
na rapidez do balanço que só revela em primeiro plano
a imensidão instantânea da sola dos sapatinhos brancos.

(Carlos Drummond de Andrade)



o poema que eu lembrei...

é esse:


"Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto."

(Pablo Neruda, "Veinte Poemas de Amor")

pura conveniência

Acontece que agora eu me lembrei...
que essa minha memória, ocorre por conveniência!
Hoje, me convém lembrar um poema.
Ontem, esquecer um aniversário - ou inventar que esqueci...

Seletiva memória minha,
permita-me esquecer todas as desculpas,
e lembrar todos os eu nuncas...

Que eu nunca esqueça o que não li
e que sempre não lembre o que escrevi.
Que eu acredite no acaso
e insista, nesse caso...

Já que me canso, mas depois esqueço,
que então dessa vez seja logo o avesso:
Que ele faça as regras, eu desobedeço.


...


"lembro quase tudo que sei, e organizando as idéias, lembro que esqueci de tudo"
(saudoso Chico Science)

Reconhecimento à Loucura

"Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar a quem tas vier buscar"

(Almada Negreiros)





e o "Soneto" de Ângelo de Lima, com o cavalo, para os curiosos:

"Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora."

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

(Florbela Espanca)

Segunda-feira de chuva do jeito que eu gosto!

Não, não gosto só de chuva, gosto de outros tempos também, mas a chuva em especial me agrada. Gosto do cheiro molhado que vem da rua, e do barulho das gotas caindo. E da "falta de pressa" de quando chove. A paisagem úmida acalma meus pensamentos, o tom acinzentado do dia contrasta com as flores roxas e laranjas que vejo da minha janela, e faz com que fiquem ainda mais vivas. É como se tudo que tem cor ficasse mais bonito, mais colorido perto do cinza.


Sinto o cheiro da chuva de longe, quando ela ainda não veio, mas está a caminho...

domingo, 5 de abril de 2009








ssssmooth...........

Em Obras


.
"(...)Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
(...)
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça
O que é bonito... "
(Lenine, "O que é bonito?)

sábado, 4 de abril de 2009

UP





não teria nome melhor que Universo Paralello...


/
"ai que saudade eu tenho da bahia"

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Acerca de mis (en)sueños


O título em espanhol, eu explico: é que a palavra "ensueño" não tem tradução em português (apesar de alguns citarem, e eu escrever por vezes ensonho). Mas é a palavra específica que descreve o processo de sonhar, em espanhol. Porém ensueño não é o processo de qualquer sonhar. Alguns descrevem o ensueño como o "sonho lúcido", que é quando o sonhador percebe-se sonhando. Acontece quando no meio de um sonho, nota-se que o que está sendo vivido não faz parte da realidade física, e sim de um sonho. À partir daí, existem diversos estudos sobre o sonho lúcido, e várias técnicas para ter o controle dos sonhos, uma vez que o sonhador sabe estar sonhando, e não há nada de extraordinário nisso, qualquer um é capaz de fazer, mas não é sobre isso que venho falar, já que acredito que o ensueño faça parte do incognoscível*.

O ensueño é mais que um sonho lúcido... O ensueño é também quando você sabe (de alguma forma) que o sonho da noite passada não foi só mais um sonho... Ele aconteceu (em algum lugar) de verdade.

O ensueño é para mim a única explicação para alguns sonhos que eu tenho desde criança... É muito estranho, por exemplo, quando você chega num lugar onde certamente nunca esteve, e se lembra dele. E não é uma lembrança vaga, ou uma semelhança com qualquer coisa.E é aquele lugar, daquele sonho. Pior ainda, é quando você conhece uma pessoa, e se lembra também que já a conhecia, de outro sonho!

Sei que muita gente vai se estranhar, outros vão achar que é mentira, mas isso acontece muito comigo! Desde criança... mais com lugares do que com pessoas... mas é fato, eu me lembro de coisas que não vivi propriamente, mas que (en)sonhei. Que eu acreditava que existirem somente nos sonhos, mas que existiram na vida... Eu mesma me assustava um pouco no começo, mas devido a frequência estou me acostumando a essa sensação. Mas ainda me corre um frio na espinha qunado "re-conheço" algum lugar... E confesso que quando acontece com pessoas ainda me assusta muito... Como é que pode? Não sei; mas pode!

Não sei se essas pessoas também se lembram de mim, acredito que não. E vou continuar sem saber, tenho vergonha de perguntar. Tenho vergonha de (en)sonhar. Tenho vergonha de dizer algo que não saberei explicar. Não gosto da cara me olham quando eu falo disso. Talvez seja por isso que eu estou escrevendo, já que sinto uma imensa necessidade de compartilhar essa estranheza, ao menos aqui, as pessoas vão ler, pensar o que quiserem e eu não precisarei ver suas expressões...

E apesar de tudo eu gosto de (en)sonhar...
Ps: o ensueño pode ser intencional, mas não é o meu caso... De propósito, eu nunca consegui...


*O desconhecido torna-se o conhecido em um dado momento. O incognoscível, por outro lado, é o indescritível, o impensável, o inconcebível, é algo que jamais será conhecido por nós, e ainda assim está ali, fascinando e ao mesmo tempo horrorizando em sua vastidão. As possibilidades humanas pertencem ao desconhecido. Não são aquilo que somos capazes de escolher, mas aquilo que temos capacidade de atingir. "

(me utilizei da descrição de Don Juan Matus para o nagual**, em "O Fogo Interior" de Carlos Castaneda, para brevemente explicar o incognoscível)


Estamos cercados pelo infinito!


** outro dia escrevo ou cito alguma coisa sobre o nagual e o tonal

Vertigem



"O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida? Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados."
(adivinha... Milan Kundera de novo...)