terça-feira, 28 de dezembro de 2010

do Amor

Este estranho, que vivo procurando, tempos afora, noites adentro. Este velho conhecido distante, que eu nunca alcanço, pois estou sempre olhando à frente, enquanto ele me persegue. Acho que é ele, o Amor, que me acorda todas as manhãs com o mesmo encanto da primeira, e ainda serve meu café na cama depois do meio dia. E nas noites muito quietas, quando não durmo, me faz companhia em silêncio. E não enxuga minhas lágrimas nem pede que eu não as derrame. Me aceita, com lágrimas e tudo, de onde quer que elas venham. E de alguma forma, me adormece. Que é tão fácil, que eu descreio, e recuso. E de tão simples, eu torno confuso. O Amor... que eu busco sabendo já me encontrou, que ainda espero que venha seja lá de onde for, e que chegue e se anuncie. Então, quem sabe, eu ainda duvide. E continue minha caçada solitária e sem presa. Na eterna espreita de alvo que queria ser flecha.

que o meu amor não tem tempo
embora às vezes passe da hora

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Canção do Desajuste


E me encontro mais uma vez

Perdida da minha razão

No soberano Reino d'Água

Maré cheia do coração

Mergulho em mistérios fluidos

Procurando minha imagem

No reflexo qualquer

De um espelho náufrago

Que repousa no fundo

Limite da contramão

E volto à tona pra respirar

Por enquanto...

Que ainda não me deixo ancorar

Arrastada pela minha própria correnteza

Que nem eu sei onde vai dar

Espero boiando um cavalo marinho

Que passe e me aponte a direção

Montado por um Príncipe D'Água

Que venha prender meu pé no chão...




(porque hoje tirei um Rei de Copas)


2 X aR²

É isso que faz a lua cheia
Meu corpo todo, líquido, te anseia
Teu silêncio me cala a boca
Tuas não respostas
Me deixam surda a tudo que sobra
E assim eu te sinto só...
E ajo por instinto... só
(sinto muito ter de fazer palavras disso tudo, para tentar explicar o que não tem explicação)
Sinto as gotas gordas de chuva
Caírem pesadas na palma da minha mão
(sinto sempre o teu olhar na minha direção)
É assim quando nem o ar quente da noite
Aquece frio de solidão
Então, não me derreto,
Faço a lua de amuleto
Prendo meu cheiro na tua respiração

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Além da hora / A lenda do agora

Quanto eu não sei de mim? O quanto eu sou esquerda, avessa, contrária e contraditória. Eu podia culpar a lua cheia, as estrelas, a rua, a música, as meninas. Eu podia me desculpar. Eu podia não me culpar também... Mas eu quero tudo e quero mais. Ou mais. E acabo sempre ficando com o "a mais". E tendo cada vez menos. Eu me desfaço, e me recrio. Eu me invento solta... Mas quando tudo acaba, a música pára, a lua se esconde, e a noite esfria, vira madrugada quase dia, a vontade passa, e eu quero o pouco. Aquele pouco que esqueci querendo mais... Quero consistência e calor. Humano. Só. Quero ser levada, se for no colo, melhor. Quero me sentir segura e protegida, para esquecer que sou tão livre assim. Falta que eu me engane um pouco, pro sono poder chegar. Falta que alguém me segure com força, para o mundo parar de rodar. Falta que eu sinta calor, que me desenrosque de quem me abraçar... Para que arrependida, e com frio, eu torne a me enroscar. Mas quero isso sempre, mas sempre pra depois, nunca na minha hora. E o pouco de antes sempre falta. Durmo sem, depois. Quero tudo na hora, mas meu agora vai além. Meu relógio conta um tempo que é só meu, de mais ninguém. E hoje eu acordei pensando...Que eu queria sim, o plano de ontem, só que "embrulhado para viagem..." Pra depois do fim... Ou não...

domingo, 19 de dezembro de 2010

BEL - SAO ( ou "um conto de ar")


Avião sempre me deixa estranha. Viagem sempre me deixa estranha, qualquer coisa que se mova demais comigo dentro... Enfim... Estava me acostumando com a iminente estranhez, e me distraindo do vôo (ou tentando). A viagem tinha sido incrível, ainda podia sentir o cheiro de mato em mim. Viajei comigo mesma, e mais, viajei para dentro de mim mesma. Cansada, voltar de madrugada, fila, check-in, fila... "Vou despachar essa malas e comprar alguma(s) coisa(s) passar o tempo..." E falando sozinha, pensando alto (alto demais, talvez) sinto aquele arrepio, quase um frio, que agente sente quando alguém está olhando. E certeira, olho para trás, e encaro os olhos que me fitam. E o frio corre a espinha, frio² agora. Gelado. E então, todo sangue esquenta, de um só jorro, de uma só vez. Talvez, só as mulheres entendam esse sentimento, que está mais para sensação, do que sentimento propriamente. Esse sentir com o corpo... Esqueci que ia voar, esqueci o quanto odeio fila, e esqueci que qeria sair dali. Eu não queria definitivamente sair dali. Nunca mais. Queria ficar ali, segurando aquele olhar para sempre. E vendo tudo ao redor, sem tirar a mira. Eu vi cada detalhe daquele homem que me olhava olhando apenas em seus olhos. Por alguns poucos segundos. E outros que vieram a se repetir depois, incessantemente... Acabou minha fila, chegou minha vez. Rápido. E sem olhar para trás, fui fazer compras! Mulherzinha... Devo ter entrado em todas as lojas do aeroporto, e na última, estou escolhendo uma blusa, distraída, de repente: "- Essa cor fica ótima em você" - Era ele! Nem precisei me virar para saber, outra vez, o saber do corpo. E "ele" era o homem mais bonito que eu já vi. Porque eu já vi muitos meninos bonitos... Mas ele era Homem. Ele era O Homem. Parecia um deus, que não sei qual, ele parecia de sonho, nem parecia real... Ele era diferente, por isso, eu nunca vou me esquecer dele: alto, bem alto, muito forte e moreno. Tatuado. A parte dos braços que ficava à mostra era coberta por tatuagens, que faziam limites com as piores cicatrizes que eu já vi também. Que iam até as mãos. E as mãos eram lindas, e grandes. Impossível não olhar, impossível não encarar. Eu nem tentei... Não me lembro de ter dito alguma coisa. Penso que não. Não me lembro nem de ter sorrido sequer, estava em choque. Não pelas cicatrizes, mas por ele. Por todo ele, com tatuagem, voz grossa, cicatriz, músculos. Pela presença e pela densidade do ar quando ele estava perto. Ele saiu da loja, e as vendedoras comentaram sobre ele, sobre as cicatrizes. "- ...Né?" disse uma delas. Concordei com a cabeça. Eu não conseguia pensar em outra coisa, mal ouvi o que elas disseram. Ele estava no meu vôo. E sobre as cicatrizes, eu só tentava imaginar como ele teria as conseguido. Nas mãoes dele, e aos meus olhos, elas eram um troféu. E se ele era de São Paulo, e estava voltando, ou se era de lá, e estava chegando... E para onde iria, e o que faria, e se teria alguém esperando por ele (eu tinha) e se, e se, e se... Sala de embarque. Café. Ele lia. E agora eu estava nervosa. Voltei para o vôo, e para minha estranhez. Mas agora tinha a estranhez dele. E a "estranhez" da situação, dele me ajudando com as malas, enquanto eu, hipnotizada, fitava sem parar os braços daquele homem, tatuados, marcados, fortes. Agradeci, com a pressão baixa, e provavelmente pálida, e me sentei. Ele, simples, sem malas, sentou também. Na fileira oposta, uma ou duas poltronas atrás. Com a minha poltrona reclinada, havia uma linha reta entre nossos olhares. Tudo que eu quis foi que nesso vôo, sobrassem lugares. Não sobraram. Viemos nos fitando, por essa linha imaginária, cruzando os olhares, como numa encruzilhada. Da qual ninguém quis sair "todos os caminhos, nenhum caminho..." Horas a fio... Não dormimos, não falamos, não nos levantamos. Apenas nos olhamos. A madrugada virou dia, virou o amanhecer mais lindo que eu já vi também... O universo concordava comigo. Ele era, era ele... O avião pousou, e saímos, um para cada lado. E meu olhar perdeu para sempre a melhor visão de todas, a melhor troca. Inconformado, procurava aflito. Eu via, no chão, todas as pessoas que estavam no avião. Menos "ele". Chovia, fino e gelado. Entrei no carro, e voltei à vida. Foi sonho? Não sei... Não sei o nome dele, e muito menos se algum dia, outra vez o verei... Diz que o mundo é pequeno... Do que eu conheço é bem grande... Quem sabe? Que importa? Eu não esquecerei... E, tomara, sonharei! Grande ou pequeno, sei que o mundo gira... Talvez outra hora, ele volte para minha mira...

XX

urgência, precipitação...
mais uma vez o ar,
quem me dá a direção
- que veio agora soprar?

e da escrita que urge,
o que cada letra esconde?
cada palavra que surge
e se perde, vai pra onde?

(não importa qual questão
o vento nunca responde:
- vem de sopro a solução)

não mais caio em aflição:
- vento, és meu caminho,
flutuo leve, sem direção!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

pedindo axé (ou 4, 3, 2, 1...)

Oyá - meu caminho, soprou uma nova direção!
Odé, me segura, firma meu pé no chão!

Oraiêiêô Oxum, acalma meu coração!
Patakori Ogum! dai-me força, pra tanta transformação...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

"Sem folha não tem sonho..."

cheiro de chuva e madrugada
silêncio, terra molhada

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

à dor!

tem dias que eu minto
que só eu é que sinto dor
tem dias que a dor
que não dói no mundo
me sente e me segue
e eu a acolho
porque aqui ela cabe
(eu a encolho)
encolhida, ela se enrosca
e dorme...

adormecer toda a dor
que acorda no mundo
nem dói...
fecho os olhos, e choro
deixo as lágrimas que revelem
o que minha dor constrói

sábado, 27 de novembro de 2010

o soneto que não queria ser escrito


O poema que eu guardava no peito

Cujas palavras sempre davam defeito

Que nunca esperava ser escrito

Hoje escapa como que um grito


Os versos que ficavam sem rima

Formaram pares com a linha de cima

Das rosas tirei todos espinhos

E do vento fiz meu caminho


Enquanto cai o fim da tarde

Escorre um verso que me arde


E quando o sol finalmente se deita

Percebo a morte à minha espreita


Mas a lua se levanta

E minha'lma ainda canta...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

XVII

"Sedecim ad numerum sedecim prophetarum"





"A menina realiza sua tarefa com calma, concentrada, observada por uma ave pousada sobre um galho de uma árvore. Está em contato consigo mesma, com sua natureza, com sua vitalidade com um pé no rio e outro na terra, iluminada pela Estrela. O Espírito Sublime que nos guarda; Luz Imaterial que nos cerca; bússola incompreensível para a lógica; mapa para além de todas as fórmulas.
A menina realiza uma Alquimia Espiritual."




quarta-feira, 24 de novembro de 2010


.
.
.
"Adestrei-me com o vento e minha festa é a tempestade."


(Cecília Meireles)
.
.
.
.

'Tão indecente...'

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Brinde no banquete das musas

Poesia, marulho e náusea,
poesia, canção suicida,
poesia, que recomeças
de outro mundo, noutra vida

Deixaste-nos mais famintos,
poesia, comida estranha,
se nenhum pão te equivale:
a mosca deglute a aranha.

Poesia sobre os princípios
e os vagos dons do universo:
em teu regaço incestuoso,
o belo câncer do verso.

Poesia, sobre o telúrio,
reintegra a essência do poeta,
e o que é perdido se salva...
Poesia, morte secreta.

(Drummond)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Eu e Ele

Ele era o espelho da minha alma. Era eu, e meu oposto. Eu se fosse homem, era ele. Que ele fosse mulher, então era eu. Ele trouxe à tona tudo que eu tinha de mais belo, puro e luminoso... Então, diante da luz, percebi a vastidão da minha sombra - na sombra dele. Eu queria, ele fazia. E se eu não queria, aí que ele fazia o dobro. Ele pensava que eu não sentia, e eu não acreditava que o que eu fazia, nele, doía. Eu não sabia. E ele queria, mas eu fingia, e fugia. Quando eu dizia a verdade, era ele quem me mentia. E quando ele chorava, eu - sem graça, ria. Eu quis tudo, e ele me deu pouco. Ele quis pouco. Eu não dei nada. Ele fazia, porque sabia que eu gostava. E ao invés de agradecer, eu reclamava. O começo partiu dele, mas eu deixei que ele acreditasse que foi de mim. Errado. Ele corrigiu, pondo ele mesmo um fim. E sendo igual eu, deixou que eu pensasse que fui eu quem quis assim. Mas foi sem querer, porque eu não queria, e sei que muito menos ele, que tivesse sido assim. Fomos avessos. O errado pra ele, dava certo pra mim. Tão diferentes e tão iguais. Tão opostos. Tão fatais. O que ele chamou de amor, eu conheci por dor. Da roseira onde sangrei nos espinhos, ele - de graça, arrancou a flor.

"quero é uma verdade inventada"

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
O que te direi? te direi os instantes. Exorbito-me e só então é que existo e de um modo febril. Que febre: conseguirei um dia parar de viver? ai de mim que tanto morro. Sigo o tortuoso caminho das raízes rebentando a terra, tenho por dom a paixão, na queimada de tronco seco contorço-me às labaredas. À duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.

(Clarice Lispector, em "Água Viva")

O MÍNIMO DO MÁXIMO

Tempo lento,
espaço rápido,
quanto mais penso,
menos capto.
Se não pego isso
que me passa no íntimo,
importa muito?
Rapto o ritmo.
Espaçotempo ávido,
lento espaçodentro,
quando me aproximo,
simplesmente medesfaço,
apenas o mínimo
em matéria de máximo

(Leminski)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

OWLS

tumbalaica

XV


Soneto do gato morto

Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.

(Vinicius de Moraes)

Elegia para o Gato Morto

Com os olhos pregados no infinito,
no mais fundo de si, já revirados,
e os bigodes suspensos pelo grito
que alvoroça as pombas nos telhados,

e com o céu da boca, se aflito,
mesmo à beira do fim, agoniado,
e o pêlo sedoso, tão esquisito,
de súbito a ficar amarrotado,

na procura apressada de outra vida
renascida das sete que viveu,
que não vê, não encontra, pois perdida
como alma penada lá no céu

dos gatos: foi assim, quase descrente,
que vi o gato morto, de repente.


(Domingos da Mota)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ìyá Mi Osorongà



(quem estiver sentado deve-se levantar,
quem estiver de pé fará uma reverência)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

IYAMI AKÒKO



“Oxum, mãe de clareza
Graça clara
Mãe de clareza.
Enfeita seu filho com bronze
Fabrica fortuna na água
Cria crianças no rio.
Brinca com seus braceletes
Colhe e acolhe segredos...
Fêmea força que não se afronta
Fêmea de quem macho foge.
Na água funda se assenta profunda
Na fundura da água que corre.
Oxum do seio cheio
Ora Ieiê, me proteja
És o que tenho
– Me receba”.

(Risério;1996:151)
Concha, mas de orelha;
Água, mas de lágrima;
Ar com sentimento.
- Brisa, viração.
Da asa de uma abelha.

(Manuel Bandeira, sobre
Cecília Meireles e sua poesia).

Canção (outra)

Não sou a das águas vista
nem a dos homens amada;
nem a que sonhava o artista
em cujas mãos fui formada.
Talvez em pensar que exista
vá sendo eu mesma enganada.

Quando o tempo em seu abraço
quebra meu corpo, e tem pena,
quanto mais me despedaço,
mais fico inteira e serena.

Da virtude de estar quieta
componho o meu movimento.
Por indireta e direta,
perturbo estrelas e vento.
Sou a passagem da seta
e a seta, ― em cada momento.

Não digas aos que encontrares
que fui conhecida tua.
Quando houve nos largos mares
desenho certo de rua?
E de teres visto luares,
que ousarás contar da lua?

(Cecília Meireles)

domingo, 7 de novembro de 2010

Adivinhação

"O que é, o que é...
Uma árvore bem frondosa,
Doze galhos, simplesmente,
Cada galho, trinta frutas,
Com vinte e quatro sementes?"


(In Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

da sombra

Odeio fim de ano. Festas, Natal e Ano Novo. Odeio essa época quando as pessoas ficam ainda mais falsas e hipócritas. Odeio ganhar presentes de gente que nem gosta de mim, só porque é Natal. Ou ter que viajar só porque é Reveillon. Odeio pelos animais descartados, jogados fora, porque seus donos saíram de férias. Odeio tanto bicho morto morto nas mesas. Um presépio inteiro para cada refeição. E pinheiros cafonas de mentira, e luzes pisca-pisca... Para mim, todos os dias são iguais e todo dia é dia. E todos os dias são só espaços de claridade entre uma escuridão e outra. Eu não ligo para os dias, aprendi a ver no escuro. Quando todos preferem fechar os olhos, eu arregalo os meus. Eu vivo na sombra.

domingo, 31 de outubro de 2010

Dispor da semente significa ter o acesso à vida. Conhecer os ciclos da semente significa dançar com a vida, dançar com a morte, dançar de volta à vida

clarissa pinkola estés

cruzado (ou "cruzando a linha das senhoras")

então, depois de um sonho, de um transe de sonho, acordo e tenho que agora compreendi a dança das senhoras daquela jurema... uma a uma fomos colocadas em nossos lugares, e naquela formação, era natural que todas soubéssemos o que fazer, embora ninguém nunca tivesse nos ensinado propriamente... éramos um círculo vibratório, seguido por mais um círculo, outra linha, porém, compartilhando os elementos...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

transa...


da carne

VI

O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso
Este novelo liso e convulso
Esta desordem de prazer e atrito
Este caos de dor dobre o pastoso.
A carne. Não sei este Isso.

O que é o osso? Este viço luzente
Desejoso de envoltório e terra.
Luzidio rosto.
Ossos. Carne. Dois Issos sem nome.

(Hilda Hilst - Da Noite)

Evolução

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

(Antero de Quental, in "Sonetos")

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

os meninos

O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagebs com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

o menino fazia prodígos.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.



CANÇÃO DO VER

Por viver muitos anos
dentro do mato
Moda ave
O menino pegou
um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava
as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar as pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em um abelha, era só abrir a palavra abelha
e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.

("Poemas Concebidos Sem Pecado - Manoel de Barros)

um shot de absinto



Bahia de Todos os Santos e de Quase Todos os Pecados



Bahia de Todos os Santos (e de quase todos os pecados)
casas trepadas umas por cima das outras
casas, sobrados, igrejas, como gente se espremendo pra sair num retrato de revista ou jornal
(vaidade das vaidades! diz o Eclesiastes)
igrejas gordas (as de Pernambuco são mais magras)
toda a Bahia é uma maternal cidade gorda
como se dos ventres empinados dos seus montes
dos quais saíram tantas cidades do Brasil
inda outras estivessem para sair
ar mole oleoso
cheiro de comida
cheiro de incenso
cheiro de mulata
bafos quentes de sacristias e cozinhas
panelas fervendo
temperos ardendo
o Santíssimo Sacramento se elevando
mulheres parindo
cheiro de alfazema
remédios contra sífilis
letreiros como este:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo
(Para sempre! Amém!)
automóveis a 30$ a hora
e um ford todo osso sobe qualquer ladeira
saltando pulando tilintando
pra depois escorrer sobre o asfalto novo
que branqueja como dentadura postiça em terra encarnada
(a terra encarnada de 1500)
gente da Bahia! preta, parda, roxa, morena
cor dos bons jacarandás de engenho do Brasil
(madeira que cupim não rói)
sem rostos cor de fiambre
nem corpos cor de peru frio
Bahia de cores quentes, carnes morenas, gostos picantes
eu detesto teus oradores, Bahia de Todos os Santos
teus ruisbarbosas, teus otaviosmangabeiras
mas gosto das tuas iaiás, tuas mulatas, teus angus
tabuleiros, flor de papel, candeeirinhos,
tudo à sombra das tuas igrejas
todas cheias de anjinhos bochechudos
sãojões sãojosés meninozinhosdeus
e com senhoras gordas se confessando a frades mais magros do que eu
O padre reprimido que há em mim
se exalta diante de ti Bahia
e perdoa tuas superstições
teu comércio de medidas de Nossa Senhora e de Nossossenhores do Bonfim
e vê no ventre dos teus montes e das tuas mulheres
conservadores da fé uma vez entregue aos santos
multiplicadores de cidades cristãs e de criaturas de Deus
Bahia de Todos os Santos
Salvador
São Salvador
Bahia
Negras velhas da Bahia
vendendo mingau angu acarajé
Negras velhas de xale encarnado
peitos caídos
mães das mulatas mais belas dos Brasis
mulatas de gordo peito em bico como pra dar de mamar a todos os meninos do Brasil.
Mulatas de mãos quase de anjos
mãos agradando ioiôs
criando grandes sinhôs quase iguais aos do Império
penteando iaiás
dando cafuné nas sinhás
enfeitando tabuleiros cabelos santos anjos
lavando o chão de Nosso Senhor do Bonfim
pés dançando nus nas chinelas sem meia
cabeções enfeitados de rendas
estrelas marinhas de prata
tetéias de ouro
balangandãs
presentes de português
óleo de coco
azeite-de-dendê
Bahia
Salvador
São Salvador
Todos os Santos
Tomé de Sousa
Tomés de Sousa
padres, negros, caboclos
Mulatas quadrarunas octorunas
a Primeira Missa
os malês
índias nuas
vergonhas raspadas
candomblés santidades heresias sodomias
quase todos os pecados
ranger de camas-de-vento
corpos ardendo suando de gozo
Todos os Santos
missa das seis
comunhão
gênios de Sergipe
bacharéis de pince-nez
literatos que lêem Menotti del Picchia e Mário Pinto Serpa
mulatos de fala fina
muleques
capoeiras feiticeiras
chapéus-do-chile
Rua Chile
viva J. J. Seabra morra J. J. Seabra
Bahia
Salvador
São Salvador
Todos os Santos
um dia voltarei com vagar ao teu seio moreno brasileiro
às tuas igrejas onde pregou Vieira moreno hoje cheias de frades ruivos e bons
aos teus tabuleiros escancarados em x (êsse x é o futuro do Brasil)
a tuas casas a teus sobrados cheirando a incenso comida alfazema cacau.

(Gilberto Freyre)

Agricultura Celeste

(CALMA)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

fluida

À flor da pele de meus versos correm rios de sangue. Minha rima tem veias, que a fazem viva. Minha prosa tange marés, enchente e vazante, num fluxo cíclico e contínuo. E quando o sangue não mancha palavras, lágrimas umedecem frases, dando liga à poesia. Verso o amor tranquilo, suave feito garoa. À margem da dor transcrevo sons de trovão. Sonho acordada olhando a lua, e mudo com ela a cada nova fase. Fluida, escrevo gotas de luz, para aclarar minhas sombras.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

da noite

"Estou dentro dos grandes sonhos da noite: pois o agora-já é de noite. E canto a passagem do tempo: sou ainda a rainha dos medas e dos persas e sou também a minha lenta evolução que se lança como uma ponte levadiça num futuro cujas névoas leitosas já respiro hoje. Minha aura é mistério de vida. Eu me ultrapasso abdicando de mim e então sou o mundo: sigo a voz do mundo, eu mesma de súbito com voz única."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

do branco

Branco, branco, muito branco, tudo branco.
Agô, que eu vou chegar! Agô, que eu quero entrar!
Do lado de cá é outra história...
Onde fica meu lugar?
Pra onde eu vou quando acabar?
Pronto começou...
Sei tudo sem aprender nada
O corpo age, enquanto a mente cala
Faz frio, e sinto calor
Tudo vibra...
Como a pele do tambor...
Daqui, já não sinto a energia chegar.
Aqui ela é. Aqui ela está.
Aqui eu sou ela. Parte dela.
Daqui, sinto ela passar.
Por mim.
Me atravessar.
Daqui, sinto.
Aqui, nem sou eu.
Nem meu corpo, mais, é meu.
E ainda assim, sinto.
E me entrego.
Assim, crua.
De branco, e pé no chão.

domingo, 17 de outubro de 2010

A UM CARNEIRO MORTO

Misericordiosíssimo carneiro
Esquartejado, a maldição de Pio
Décimo caia em teu algoz sombrio
E em todo aquele que for seu herdeiro!

Maldito seja o mercador vadio
Que te vender as carnes por dinheiro,
Pois, tua lã aquece o mundo inteiro
E guarda as carnes dos que estão com frio!

Quando a faca rangeu no teu pescoço,
Ao monstro que espremeu teu sangue grosso
Teus olhos - fontes de perdão - perdoaram!

Oh! tu que no Perdão eu simbolizo,
Se fosses Deus, no Dia de Juízo,
Talvez perdoasses os que te mataram!

Augusto dos Anjos

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ventania

Aqui a ventania não dorme,

com suas mãos crepitantes,

seus guizos,

seus adereços de campainhas eóleas.

Dia e noite vagueia pelos parques e pelas ruas,

a ventania

Sacode as alvas roupas que os lavadeiros estendem,

inclina as flores,

levantas folhas secas

alisa a poeira amarela,

açula gatos e cães,

revolve os cabelos dos homens,

incha os imensos véus das mulheres de olhos vítreos,

apalpa as areias, as pedras, as sementes caídas,

espia dentros dos ninhos, brune os pequenos ovos,

tufa a penugem dos pássaros,

balança as plantas,

entontece as árvores:

a ventania.

(Meireles, Cecília)

(obscura)

"A tua raça de aventura
quis ter a terra, o céu, o mar.

Na minha, há uma delícia obscura
em não querer, em não ganhar...

A tua raça quer partir,
guerrear, sofrer, vencer, voltar.

A minha não quer ir nem vir.
A minha raça quer passar."

(Epigrama, Cecília Meireles)

5 X olhar





O Circo chegou!










(CIRCO ZANNI)

drink de aniversário!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

do Destino:

" - O curso do destino de um guerreiro é inalterável. O desafio é o quão longe ele pode ir dentro desses limites rígidos, o quão impecável ele pode ser dentro desses limites rígidos. Se há obstáculos no seu caminho, o guerreiro luta impecavelmente para ultrapassá-los. Se acha dificuldades e dores insuportáveis no seu caminho ele chora, mas todas as suas lágrimas juntas não movem a linha do destino nem um milímetro."

(Don Juan matus, em "O Presente da Águia - de Carlos Castaneda)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Demora-te sobre a minha hora.

Antes de me tomar, demora.

Que tu me percorras cuidadosa, etérea

Que eu te conheça lícita, terrena



Duas fortes mulheres

Na sua dura hora.



Que me tomes sem pena

Mas voluptuosa, eterna

Como as fêmeas da Terra.



E a ti, te conhecendo

Que eu me faça carne

E posse

Como fazem os homens.



(Hilda Hilst, Da morte. Odes mínimas, 1980)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

sem dúvida...

entre o sim e o não
sinto
sem se nem senão

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

awake ghost song

Is everybody in?
Is everybody in?
Is everybody in?
The ceremony is about to begin.

Wake up!

You cant remember where it was
Had this dream stopped?

Awake

Shake dreams from your hair
My pretty child, my sweet one.
Choose the day and choose the sign of your day
The days divinity
First thing you see.

A vast radiant beach in a cool jeweled moon
Couples naked race down by its quiet side
And we laugh like soft, mad children
Smug in the wooly cotton brains of infancy
The music and voices are all around us.
Choose they croon the ancient ones
The time has come again
Choose now, they croon
Beneath the moon
Beside an ancient lake
Enter again the sweet forest
Enter the hot dream
Come with us
Everything is broken up and dances.



(Jim Morrison)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Cosme e Damião, cadê Doum?


- Doum foi passear no cavalo de Ogum!

O Segundo Casamento

"O 10 de Copas, também chamado no Tarot Mitológico de segundo casamento, vem falar do amor maduro, harmonioso, equilibrado e alquímico. No primeiro casamento, o 3 de Copas, Psiquê se une a Eros de olhos vendados, ela realmente não sabe com quem está se casando. Será necessário passar por muitos desafios: ser vítima da inveja e fofoca alheia, perder o seu amor agora revelado, submeter-se às mais duras provas, descendo ao Reino de Hades e enfrentando o risco da morte, para então compreender o que é o amor. "

(o texto veio daqui)



Salve Jorge!










quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Manhãs de Setembro,

aragem fresca

construindo sonhos,

teias de gotas

enfeitando os matos,

perfume verde

a seguir meus passos,

lírios roxos

ponteando as margens

do fio de água

que escorre manso.

E tu E eu!

E a erva tombada

pelos corpos,

os lírios violados

na paixão.

E o céu!

Esse céu azul

sem limite.

O nosso limite.

A nossa eternidade!

(Helena Guimarães)

tempo de lua (cheia)

quase lua cheia
e todo meu corpo anseia por ela
cresce lua, muda
que o gato já mia na rua
eu, de minha, viro tua
clareia lua, a noite escura
que no teu tempo
processo minha cura
ilumina, lua
torna-me pura
miro a ti, minha'lma nua

"uma linda noite para morrer"


morrer, para renascer!



MITAKUyE OyASIN

.
.
.

puta que pariu

só consigo parir versos
ainda assim, quadras...
(pensamentos dispersos
mal formam palavras!)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dona do Ouro


"na cachoeira
toda dourada
toda faceira
toda enfeitada

Oraieieo!
salve o tesouro
Oraieieo!
dona do ouro

olha que dengo
olha que calma
Oxum me entende
Oxum me acalma"

domingo, 12 de setembro de 2010

Primavera

Primavera gentil dos meus amores,
- Arca cerúlea de ilusões etéreas,
Chova-te o Céu cintilações sidéreas
E a terra chova no teu seio flores!

Esplende, Primavera, os teus fulgores,
Na auréola azul, dos dias teus risonhos,
Tu que sorveste o fel das minhas dores
E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!

Cedo virá, porém, o triste outono,
Os dias voltarão a ser tristonhos
E tu hás de dormir o eterno sono,

Num sepulcro de rosas e de flores,
Arca sagrada de cerúleos sonhos,
Primavera gentil dos meus amores!

(Augusto dos Anjos)

A Primavera


sábado, 11 de setembro de 2010

"De repente já estou no fim dos 20

e não tenho nada do que as pessoas costumam ter nessa idade. Tenho planos, claro (todo mundo tem). Mas objetivamente estou sem nada aqui à minha frente. O momento futuro é uma incógnita absoluta. Eu não posso pensar ‘não, daqui a um ano eu vou pro campo ou eu caso ou eu me formo ou eu vou à Europa’. Eu não sei. Fico esperando que pinte alguma coisa, naturalmente. E essa falta de ação me esmaga um pouco."


(Caio Fernando Abreu)
´Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco-sem-saída.´

(lispector, clarice)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...


Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

(...)

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade
.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.
E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mimé a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja precisomais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silênciome fale cada vez mais.

Porque metade de mimé abrigo,
mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também...



(Ferreira Gullar)

psych owl delia

lavanda e hortelã

não vou me preocupar....


a morte não existe...

"Um herói nasce quando inimigo vacila. Quando ele comete o maior dos erros: achar que pode acabar com tudo. Mas é nessa hora que ele acaba de fazer tudo começar"

(do filme "BESOURO")

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quando setembro chegar...

Quando setembro chegar o inverno terá acabado e o amanhecer virá me acordar, apressado.
Não mais haverá folhas secas caídas ao chão, pois as cores, antes tímidas, voltarão em puro êxtase, bailando num festival deliciosamente provocante.

Quando setembro chegar o sol estará pleno, iluminando os mares do meu mundo.
Uma brisa suave teimará em bater de leve em meu rosto, desajeitando meus cabelos úmidos e pesados. Um aroma antigo se fará presente, trazendo consigo a quietude do meu ser.

Quando setembro chegar serei embalada por uma música e por alguns instantes deixarei de respirar. Em órbita, minha razão terá sido arrancada de mim por algo que não pretendo explicar.
Teremos tempestade. Ventania.
Um doce fechar de olhos.
Um meio sorriso preso nos lábios.

Quando setembro chegar correrei ao encontro dos sentidos. Ao abrir uma janela descobriria um novo cheiro, ao escancarar uma porta um novo gosto. Na intimidade de um toque, desvendaria um olhar.
Uma onda de felicidade atingirá todo meu corpo. Alegria em forma de espuma nos pés, contentamento em forma de grãos de areia nas mãos. Não haverá nuvens no meu céu.

Quando setembro chegar eu serei todas as estações do ano…

.

(Ludmila Guarçoni)

"A moça que sonha, a louca."


terça-feira, 31 de agosto de 2010

azulão

Custou acreditar, quando viu a menina entrar, e sentar - suave e doce - quando antes, lá fora, sentia que havia um guerreiro. Foi jogando, interessado. E dizendo tudo que via, enquanto ela, só ouvia.... Mas quando ela pergunta, tímida, a concha cai certeira. Diz que pode ser só por agora, mas era ele, o que vem primeiro.
Na gira, quando ela chega, mandam chamar o vento - ora pra soprar pra longe, ora pra ser brisa leve. E quando chega muito aflita, cantam logo o Tempo, pra curar outra interpérie... Tempo, Tempo, Tempo, Tempo... Vez ou outra pra chover de novo, fazer arco-íris, para ela escolher uma cor... Gira ela para um lado, gira para o outro... Ensina a contar certo, sem tropeçar nas vírgulas... Banho de ervas, flores, moedas, búzios, pedrinhas... presentes do Tempo...
Dançam com ela.
Por fora, o que se vê, é só o que o espelho que ela carrega reflete. Assim, doce mesmo...
Por trás da suavidade é que habita o cavaleiro. Com o reflexo do espelho, dissimula o alfange na outra mão. Como que na espreita, de tocaia. E que ninguém acenda sua fúria! Infantaria, linha de frente. Venha o que vier, ele já espera, quente.
O colar dele é o primeiro, e vai cruzado. Depois vem os outros. Os dela, de sempre, e essa noite, escondido, o emprestado. O pano da costa, um dia, também vai atravessado. É dele.
Ela é dele. Está mais que confirmado.
É da guerra por excelência, nunca soube o que era paz. E quando não há motivo, inventa um, tanto faz.

domingo, 29 de agosto de 2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

do sal

vou pro mar...
levo minhas lágrimas:
7, contadas,
quero vê-las todas
uma por uma
cair dos meus olhos
e afundar

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

costas quentes dentes acesos olhos de espelho cabeça de leão


.

dançando o perigo na ponta do enfeite

estica o caminho quem manda no chão