terça-feira, 16 de novembro de 2010

Elegia para o Gato Morto

Com os olhos pregados no infinito,
no mais fundo de si, já revirados,
e os bigodes suspensos pelo grito
que alvoroça as pombas nos telhados,

e com o céu da boca, se aflito,
mesmo à beira do fim, agoniado,
e o pêlo sedoso, tão esquisito,
de súbito a ficar amarrotado,

na procura apressada de outra vida
renascida das sete que viveu,
que não vê, não encontra, pois perdida
como alma penada lá no céu

dos gatos: foi assim, quase descrente,
que vi o gato morto, de repente.


(Domingos da Mota)

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