quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Colar

(...)

-Posso...
-Pode, aqui você pode tudo.

Abre uma lata
Tira a camisa
Derruba o cinzeiro
- Ali em cima tem um pronto, só acender...

(tinham conversa pra noite inteira, ninguém pega o cinzeiro)

Ele:
Olha a tela, olha para ela
(pensa: vai ser dela!)

- Vou terminar pra você!
- Sério? ... Então... eu gosto dessa cor, e dessa daqui e mais dessa outra...
- Essa não combina, tem que ser uma vermelha...
- Essa é vermelha.
- Já sei! (usando o vermelho)... vai ser como eu quiser... nao dá pra pintar com você olhando... vou terminar depois na rua! Paro em algum lugar, e termino de pintar, rapidinho... me dá uma semana...
(daria duas)
- Tá, mas então pinta tudo, não deixa nenhum espaço em branco.
- Relaxa, vai ser do jeito que eu fizer... presente é presente...

Liga a TV, põe um filme
Liga a vitrola, trilha sonora
Dança...
Pega um livro

Abre outra lata, enrola mais um

-

Ela:
Olha pela janela...
Olha nos olhos que não desviam o olhar dela...
Desvia...

Volta pro livro
Escolhe uma poesia
- Eu gosto dessa... (um soneto, claro)
- Eu acho que você é assim... você é assim?
- Assim como? Me diz, como é que é ser assim?
- Você se identifica...
- " Fiel a sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo"... acho que sou então... devo ser...

Ele:
-Vem?
(quase...)
- Vem, comigo?
(já estava...)
(já era...)

Sabiam que não havia escolha a ser feita...
Entrega.
(quase...)

Espera...

E o colar?
Bom, o colar não sai do lugar...

(...)


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