Vou morrer. Acho que não hoje, nem amanhã... não sei quando, e nem por que... Vou morrer... Todos vamos... Mas eu, vou morrer, e penso nisso todos os dias. E penso que vou morrer quase todos os dias. Pensei há muito tempo atrás, que se eu morresse aquela hora, tudo teria acabado do jeito que eu queria. Pensei no mês passado, que se eu morrersse aquele dia, tudo bem. Eu não me arrependeria! Pensei, depois de duvidar, que ele podia me matar... Só se fosse, porque de medo, eu não morreria... No sábado, eu pensei que se eu morresse, seria na volta, no domingo. Domingo, pensei que ia morrer de sono, em cima da árvore talvez. Segunda de manhã pensei em morrer de tédio e achei muito sem graça. À noite, pesnsei morrer na chuva. Mas segunda não morreria. Nem em sonho, porque aquela noite não sonharia. Terça, desatenta, quase morro sem pensar, ouvindo música, ao atravessar. Tão dispersa que estava, de não ouvir nem telefone tocar... Quarta, quase morro, de mentira. Quinta, pensei, pensei, pensei... e não morri de novo. Hoje, sexta, eu ainda espero por ela. Como espero todos os dias da minha vida, pela minha morte, pela minha sorte. Espero sem pesar. Hoje, se eu morrer, que seja depois do cinema.
Lembro de ter sentido a morte perto, algumas vezes. Não a minha. Lembro que ela passa rápido, e quando eu sinto é porque já foi. Lembro que quando ela esteve em casa, o Argos tremeu muito, e se escondeu. Eu não. Eu não sabia, mas agora já sei.
Da minha morte não tenho mais medo. Mas tenho muito da dos outros. A minha, eu espero, apenas. E o que eu penso para quando ela chegar? Que seja rápido e indolor. Mais rápido que indolor. Que eu tenho pressa, mais que medo. E sei me virar com a dor.