sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Negra Fúria

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fúria Ciúme.

Sobre um sólio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fúria Ciúme.

Crespas víboras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fúria Ciúme.

Arrancando à Morte a fouce
De buído, ervado gume,
Vem retalhar corações
A negra fúria Ciúme.

Ao cruel sócio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fúria Ciúme.

Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrível dos monstros,
A negra fúria Ciúme.

Amor inda é mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fúria Ciúme.

Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao áureo cume,
Porém de lá nos arroja
A negra fúria Ciúme.

Do férreo cálix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n'alma
A negra fúria Ciúme.

Do escuro seio dos fados
Saltam males em cardume:
O pior é o que eu sofro,
A negra fúria Ciúme.

Dos imutáveis destinos
Se lê no idoso volume
Quantos estragos tem feito
A negra fúria Ciúme.

Amor inda brilha menos
Do que sutil vagalume,
Por entre as sombras que espalha
A negra fúria Ciúme.


(Bocage, in 'Quadras')

terça-feira, 21 de junho de 2011

Anoitecer

É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo

É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.

É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.

Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Quase Azulão

Sobre minhas rendas brancas
caíram umas flores azulão
se ajeitaram nas minhas ancas
e me prenderam ao chão

Eu No Sol

Fiquei distante. Estava no Sol...
Se era manhãzinha, eu de olhos entreabertos, absorvia a luz, e tudo que eu via eram os cílios dourados do Sol roçando os meus. Bom dia. Assim, de um sonho para outro. Logo estava quente. E os dias eram quentes, todos...

terça-feira, 31 de maio de 2011

segunda-feira, 2 de maio de 2011

'Para entrar no mundo sem estações'

“Quando o amor vos chamar, segui-o,

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;

E quando ele vos envolver em suas asas, cedei-lhe,

Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;

E quando ele vos falar, acreditai nele.


Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que ele contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda”.

(...)

Todavia, se no vosso temor procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,

Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonassem a eira do amor.

Para entrar no mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio, e nada recebe senão de si próprio.

O amor não possui e não deixa de possuir.

Pois o amor basta-se a si mesmo.

Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no coração de Deus”.

E não imaginareis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.

O amor não tem outro desejo, senão o de atingir sua plenitude.

Se, contudo, amardes e precisardes de desejos, sejam estes vossos desejos:

“De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;

De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;

De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;

E de sangrardes de boa vontade e com alegria;

De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;

De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor;

De voltardes para casa à noite com gratidão;

E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança”.


Khalil Gibran

O amor é finalmente

um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

(Gregório de Matos)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Amor...

É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!

(Cecília Meireles)

domingo, 24 de abril de 2011

AlQuímica

Se é só química eu não sei. É, para mim, antes, mágico. Alquímico talvez...Bruto, diamante. Bruto, de amante...

terça-feira, 19 de abril de 2011

'to love one another'

Vibração

pés descalços para sentir o chão
olhos fechados para ver além
tudo agora é vibração
e eu sou essa energia também

sexta-feira, 15 de abril de 2011

chão que me dá força

tempo tempo tempo tempo

chão que me dá luz

tempo tempo tempo tempo

pó de versos

quinta-feira, 14 de abril de 2011

de noite

É noite.
Naturalmente, escuro.
É claro,
não tenho sono.
Madrugada,
só mais tarde
é que é tempo de sonho.

atrás do Tempo

'Fim'

Alma, enfim descansa
Na desesperança.

Alma, esquece e passa:
Dorme, enfim segura
Dessa última graça
Que é toda a ventura.

E à Saudade em flor
Que o teu sonho lindo
Perfumou de amor,
Diz-lhe adeus, sorrindo…

Que Ela há-de escutar-te,
Pálida, a entender-te!
E, no espanto enorme,
Sonhando envolver-te,
Triste, há-de embalar-te
– «Dorme… dorme… dorme…» –
Como a adormecer-te.

(Guilherme de Faria)

Ah! Bruta flor do querer...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

'O Louco'

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!" Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!". Olhei para cima, pra vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, bendito os ladrões que roubaram minhas máscaras!" Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. (Gibran Kahlil Gibran)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

- Well I, I wanna be your lover...

por falar neles...

Donos dos meus sonhos!
Senhores do meu querer!
Um por um, e cada sem igual
Pergunto aos quatro ventos:
ao que me dói hora ou outra
ao que da dor me liberta
ao que me ensina de mim
ao que eu ensino para mim
- Guardião do meu tempo,
sobra sonho em minhas noites?
Sonha tempo para mim?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

domingo, 3 de abril de 2011

3 of swords


"então faremos assim, como os antigos: que a espada seja a representação do falo, do poder masculino, e que ela seja cravada na terra, como sinal de um desejo sendo fecundado do ventre de Gaia. E que este desejo seja bom, puro e em equilíbrio com o Todo. Que possamos manifestar o que há de melhor em nós em todos os momentos. Que assim seja!"

quarta-feira, 30 de março de 2011

às pequenas coisas da vida...

dez

X

(...)É mais. É como um sopro
De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso
É como se a despedida se fizesse o gozo
De saber
Que há no teu todo e no meu, um espaço
Oloroso, onde não vive o adeus.
Não é apenas vaidade de querer
(...)É mais.
E por isso perdoa todo esse amor de mim
E me perdoa de ti a indiferença.

(Hilda Hilst)

oito

VIII

De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura
Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exato.
Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me dêem
Enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando
- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça.

(Hilda Hilst)

WATER

cor de rosa

segunda-feira, 28 de março de 2011

OS LÍRIOS

Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.

Quero saber como crescem
simples e belos — perfeitos! —
ao abandono dos campos.

Antes que o sol apareça
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.

Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.

Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.

Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre os lírios
adormecerei tranqüila.

(Heniqueta Lisboa)

Passagem da Noite

É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.

Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos!
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!

(Drummond)

Stop your messing around

terça-feira, 22 de março de 2011

"Interrogação"


(...)
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minh'alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço
(...)




(Camilo Pessanha, em CLEPSYDRA)

post mabon

ABENÇOADA SEJA A DEUSA DO AMOR, CRIADORA DE TODAS AS COISAS SELVAGENS E LIVRES. O CALOR DO VERÃO DEVE AGORA TERMINAR.
A GRANDE RODA SOLAR GIROU NOVAMENTE.
QUE ASSIM SEJA!
escrever, escrever...
bah! escrever!
escrever é para quando estou triste
ou menstruada...
naturalmente, inspirada...
quando estou feliz?
ah! eu tenho mais o que fazer!

metade

minha ..................sim
saudade. ..............singular.
................minha................meu

................metade........... ...par.

domingo, 20 de março de 2011

quando a cigana se engana

(impossível prever futuro
de amor em cima do muro)

segunda-feira, 14 de março de 2011

VII

Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso.
Distanciado
Dos teus livros políticos?
Na primeira gaveta
Mais próxima à janela?
Tu sorris quando lês
Ou te cansas de ver
Tamanha perdição
Amorável centelha
No meu rosto maduro?
E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?

(Hilda Hilst)

quinta-feira, 10 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

and opening your door...

Dorme Acorda

"– A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda até que dorme e não acorda mais. É portanto um pisca-pisca.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.

– E depois que morre? – perguntou o Visconde.

– Depois que morre vira hipótese. É ou não é?"

("Memórias da Emília", Monteiro Lobato)

soprando brasa

espalhei amor aos quatro ventos
cada um da sua direção
me respondeu soprando
era brasa e acendeu
agora está tudo queimando!

o "Sabe-Tudo"

o sabe-tudo tanto sabe
que pensa que sabe tudo que penso
e sabe tanto, o sabe-tudo
que sabe que sei que tanto é intenso
o sabe-tudo tão quase me sabe
que quando me encosta o ar fica denso

da minha banda

da banda de Seo Tranca Rua
de Seo Sete Encruza
de Seo Calinô
cheguei da banda de lá
molhada de chuva
e trazendo uma flor
vim mordendo um sorriso
sabendo que o mundo
é feito de dor

domingo, 27 de fevereiro de 2011

suave coisa nenhuma

Como eu, como tu

Eu, outro dia me lembrei de você,
Ouvindo uma canção que pudesse dizer
Como eu, como tu, como velhos tratantes
Como velhos amigos, como velhos perigos,
Como grandes amantes nos poucos instantes de amor
Eu, outro dia me esqueci lentamente,
Ouvindo a razão na palavra de ordem corrente
E que eu, e que tu, e que todos os passos,
E que todos os beijos, e que os longos abraços,
E que os longos desejos não caiam aos pedaços.

(SECOS E MOLHADOS)

penetra surdamente no reino das palavras

PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Drummond)

SERENA

Essa ternura grave
que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavi-
dade do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.

E só assim, na levi-
tação da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria,
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria.

(Henriqueta Lisboa)

cravo

museu da resistência

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

DREAMS




Oh my life
Is changing everyday
Every possible way
Though my dreams
It's never quite as it seems
Never quite as it seems
I know I felt like this before
But now I'm feeling it even more
Because it came from you
And then I open up and see
The person falling here is me
A different way to be
La larara larara larara la
I want more
impossible to ignore
impossible to ignore
They'll come true
impossible not to do
impossible not to do
And now I tell you openly
You have my heart so don't hurt me
You're what I couldn't find
A totally amazing mind
So understanding and so kind
You're everything to me
Oh my lifeIs changing everyday
In every possible way
Though my dreams
It's never quiet as it seems
Cause you're a dream to me

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

amor é água

mata sede
mas também afoga

faro

tateando seu cheiro
enxergo seu gosto
e escuto suas formas
quase que por inteiro

equilíbrio em 7 linhas

hedonista,
queria me ver nele
e ele em mim, como ficava
calculista,
queria me saber dele
e sendo assim, ele esperava
opostos e afim - equilibrava

sábado, 19 de fevereiro de 2011

sete e quando

sete e quando, como quase sempre...
acordei de um sonho para outro!
este, quero que fique sem fim
para todo dia quando despertar
lembrar do bom dia de hoje:
sete e quando ele acordou
pensando em mim...

de sal

era de sal...
mas nem sal de suor
nem sal de lágrima
era sal de mar
pra dissolver tudo
que pudesse fazer
afundar
de agora em diante
só quero saber
de flutuar

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

o mais bonito

era uma vez um menino sol,
um menino de ouro...
fosse do que fosse,
era todo dourado,
e eu me contentaria
em somente contemplá-lo
da primeira luz do dia
até o último raio da tarde
ao menos por uma vez...
e quando enfim a claridade
toda se esvaísse
meu sol da madrugada
sobrasse apenas calor
cinzas à luz de velas...
fosse outra vez meu menino ouro
que sendo metal
quem sabe como um ímã
atraísse meu pé pro chão...
eu, que flutuante
pairo sem direçãoo
e que sendo também água
inundo ao som de trovão

eis, meu sol da meia noite!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"C'est beau ses rides autour des yeux..."

"Et il me parle pendant des heures
Des vies qu'il a perdues de vue
Lui au moins il n'a rien à perdre
Alors que moi je n'ai rien vu"



pacto para estarmos quites

Fiz um pacto com a morte,
não fico mais para trás!
O céu ganhou uma estrela
e eu ganhei mais um anjo!
Meu anjo ganhou asas
e toda a eternidade...
A morte não me assusta mais!
Mesmo que sempre vença,
e ainda que tanto me doa,
aprendi a dançar com ela
com minhas facas e punhais.
Então, estamos quites
e eu espero por ela em paz.

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Drummond)

uma semana sem o Pit... meu amor infinito...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"pra viagem"

minha saudade dos sentidos
queria guardar teus poucos, em potes,
para quando estás longe:
pouco do teu cheiro d'água,
tanto do teu toque de vento,
leve como brisa de madrugada...
muito do meu gosto na tua língua,
mais dos teus olhos acesos nos meus,
e da tua voz quente a falar de mim...
e até um tanto da noite
que acabou ficando sem fim...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Liber AL

"Amor é a lei,
amor sob vontade."

(Crowley)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

um aperto no peito...



Vamos embora companheiro, vamos
Eles estão por fora do que eu sinto por você

Me dê sua pata peluda, vamos passear
Sentindo o cheiro da rua

Me lamba o rosto, meu querido, lamba
E diga que também você me ama

Eu quero ver seu rabo abanando
Vamos ficar sem coleira

Vamos ter cinco lindos cachorrinhos
Até que a morte nos separe, meu amor!

‘Só os mortos não morrem’

Só eles a mim me restam, são tranquilos e leais
os que a morte não pode matar mais com seus punhais.

Ao declinar da estrada, no final do dia
em silêncio se acercam, em sossego seguem minha via.

Verdadeiro pacto é o nosso, nó que o tempo não desmente.
Só aquilo que perdi é meu eternamente.

Rahel (Bluwstein), 1890 – 1931.

Epigrama Nº 4

O choro vem perto dos olhos
para que a dor transborde e caia.
O choro vem quase chorando
como a onda que toca na praia.

Descem dos céus ordens augustas
e o mar chama a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios,
mas levando náufragos dentro.

(Cecília Meireles)

Meu ser de misericórdia

Com meus olhos de cão paro diante do mar. Trêmulo e doente. Arcado, magro, farejo um peixe entre madeiras. Espinha. Cauda. Olho o mar mas não lhe sei o nome. Fico parado em pé, torto, e o que sinto também não tem nome. Sinto meu corpo de cão. Não sei o mundo nem o mar a minha frente. Deito-me porque meu corpo de cão ordena. Há um latido na minha garganta, um urro manso. Tento expulsá-lo mas homem-cão sei que estou morrendo e que jamais serei ouvido.

Hilda Hilst

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

meu anjo ganhou asas...




E AS PALAVRAS NÃO BASTAM HOJE

"Nobre Tempo estarás ao meu alcance

Nobre Tempo estarás em minha Alma
Nobre Tempo..."

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

curvilíneo

um poema sinuoso, curvo,
como um passeio pela tarde...
o sol se pondo entre jardins emaranhados,
quase um labirinto...
para nos perdermos de nós
para ainda não nos termos,
nos acharmos num mundo
que só existe se estamos a sós
onde muito tempo é um segundo
e quase nada é tão veloz...
um poema curvilíneo
indeciso e oscilante
como nós quando muito próximos...
escrevo para quando não me encaras
nestas tardes, que vens fora do tempo
e vais antes da hora
fingindo não ser meu...
um poema meu é muito pouco...
mal cabe tanto encanto
quem sabe um caderno teu
perdido em algum canto
onde eu more nas palavras
que folheias de quando em quando?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Oruyá!

Versos à boca da noite

Sinto que o tempo sobre mim abate
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva...
Uma aceitação maior de tudo,
e o medo de novas descobertas.

Escreverei sonetos de madureza ?
Darei aos outros a ilusão de calma?
Serei sempre louco? sempre mentiroso ?
Acreditarei em mitos ? Zombarei do mundo ?

Há muito suspeitei o velho em mim.
Ainda criança, já me atormentava.
Hoje estou só. Nenhum menino salta
de minha vida, para restaurá-la.

Mas se eu pudesse recomeçar o dia !
Usar de novo minha adoração,
meu grito, minha fome... Vejo tudo
impossível e nítido, no espaço.

Lá onde não chegou minha ironia,
entre ídolos de rosto carregado,
ficaste, explicação de minha vida,
como os objetos perdidos na rua.

As experiências se multiplicaram:
viagens, furtos, altas solidões,
o desespero, agora cristal frio,
a melancolia, amada e repelida,

e tanta indecisão entre dois mares,
entre duas mulheres, duas roupas.
Toda essa mão para fazer um gesto
que de tão frágil nunca se modela,

e fica inerte, zona de desejo
selada por arbustos agressivos.
(Um homem se contempla sem amor,
se despe sem qualquer curiosidade.)

Mas vêm o tempo e a idéia de passado
visitar-te na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.

E as memórias escorrem do pescoço,
do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sono e te perseguem,
à busca de pupila que as reflita.

E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi.

Esta casa, que miras de passagem,
estará no Acre ? na Argentina ? em ti ?
que palavra escutaste, e onde, quando ?
seria indiferente ou solidária ?

Um pedaço de ti rompe a neblina,
voa talvez para a Bahia e deixa
outros pedaços, dissolvidos no atlas,
em País-do-riso e em tua ama preta.

Que confusão de coisas ao crepúsculo !
Que riqueza ! sem préstimo, é verdade.
Bom seria captá-las e compô-las
num todo sábio, posto que sensível:

uma ordem, uma luz, uma alegria
baixando sobre o peito despojado.
E já não era o furor dos vinte anos
nem a renúncia às coisas que elegeu,

mas a penetração no lenho dócil,
um mergulho em piscina, sem esforço,
um achado sem dor, uma fusão,
tal uma inteligência do universo

comprada em sal, em rugas e cabelo.


(Carlos Drummond de Andrade, 1962)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

sonhei ladeiras
subidas sem fim
que eu sonho alto
sorte de mim!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Minha medida? Amor.

E tua boca na minha
Imerecida.
Minha vergonha? O verso
Ardente. E o meu rosto
Reverso de quem sonha."


(Hilda Hilst)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011




(feche os olhos para ver)




"owl my god"

lusco fusco

Agora, escuridão. É o que tem para hoje, a noite. E não há melhor hora para enxergar as coisas da sombra, que a claridade teimou em esconder. Coisas que tentaram fugir com o dia, camufladas no lusco fusco... (como se eu nao soubesse do poder dessa hora - e dessa outra, agora...) nesses raros instantes, diários, de tempo quase suspenso, entre dia e noite, sendo nem um nem outro. Não sendo. E quase ninguém percebe...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

à superfície

poesia rasa,
nao afunda!
- flutua,
deixa-te levar,
pra qualquer vazio...

"de quando falta poesia enquanto sobra sonho"



tanto sonho sobra,
que dobra
tivesse mais poesia,
eu fazia



e quando enfim o asfalto seca...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

'Ele tem a qualidade de seus defeitos...'

(VERGER, 2000:36).


"Claro. Exu é todos os meus momentos, meu momento de ira, meu momento de alegria, o qual estou amando, o qual eu não amo ninguém, Exu é minha queixa, Exu é minha dor, minha lágrima e é meus amores, todos os amores. Pra mim Exu é o todo, Exu não se divide.”
(Mãe Beata de Iemanja)



LAROYÊ!

domingo, 16 de janeiro de 2011

entre(tempo(rais)

um sol suave,
quase fresco...

asfalto quente,
e enfim, seco!

silêncio duro
feito o chão

feito o tempo
no corpo que muda
numa folha que cai

assim, quase úmida,
outra tarde se vai...

Owl Night Time

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Chovem duas chuvas

Chovem duas chuvas:
de água e de jasmins
por estes jardins
de flores e de nuvens.

Sobem dois perfumes
por estes jardins:
de terra e jasmins,
de flores e chuvas.

E os jasmins são chuvas
e as chuvas, jasmins,
por estes jardins
de perfume e nuvens

(Cecília Meireles)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

repetida, mas colorida

FATAL


"Os moços tão bonitos me doem,
impertinentes como limões novos.
Eu pareço uma atriz em decadência,
mas, como sei disso, o que sou
é uma mulher com um radar poderoso.
Por isso, quando eles não me vêem
como se dissessem: acomoda-te no teu galho,
eu penso: bonitos como potros. Não me servem.
Vou esperar que ganhem indecisão. E espero.
Quando cuidam que não,
estão todos no meu bolso."


(Adélia Luzia Prado Freitas)

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.


(Adélia Prado in "Bagagem")

Da Morte

Se eu soubesse
Teu nome verdadeiro

Te tomaria
Úmida, tênue

E então descansarias.

Se sussurrares
Teu nome secreto
Nos meus caminhos
Entre a vida e o sono

Te prometo, morte,
A vida de um poeta.
A minha: Palavras vivas, fogo, fonte.

Se me tocares,
Amantíssima, branda
Como fui tocada pelos homens

Ao invés de Morte
Te chamo
Poesia
Fogo, Fonte, Palavra viva
Sorte.

(Hilda Hilst)