Deve ser amor... esse vazio que consome. Essa espera que as horas insistem em disfarçar, mesmo sabendo que talvez, há de não chegar. Deve ser amor... o frio que corre a espinha toda vez que um pensamento corta a idéia, sem olhar para os dois lados antes de atravessar, como quem se afoga, encantado pelas ondas, deixando-se levar. Mas antes, deve ser mesmo, porque não tem fim... Porque passa, ou faz que passa, e depois volta. Pior. E também porque no fundo eu sempre soube que era... Sempre acreditei que "todo amor é eterno, e se acaba, não era amor". Só não sabia como seria, se viria, e como o amor se apresentaria... Na verdade, não se apresentou. O amor dispensa apresentações. Ele simplesmente é. No começo, pode até ser confundido com outras paixões. Mas a paixão tem prazo de validade, começo meio e fim. Um dia você acorda e já acabou... O amor não tem pé nem cabeça, motivo, nem explicação. Acontece sozinho. Quando dado se multiplica, e se transforma em outras coisas; quando guardado só se transforma em outras coisas. E quando falta, aí é nada... um nada enorme... um nada tão grande, que incomoda. Mas nunca deixa de ser amor. O infinito amor... O incondicional amor... O indescritível, o maior de todos os sentimentos humanos, que de tão imenso chega a ser divino! Há quem acredite que amor se constrói, eu inclusive já disse algumas vezes, acreditando, e hoje me contradigo. Não se constrói coisa nenhuma. Pode-se "construir" carinho, um relacionamento, respeito, admiração, apego, dependência. Não amor. Ou ele é ou não é. Sem meios termos. Não se ama só um pouco, nem se ama demais - todo amor é um exagero! O amor é além da conta. Você flutua, mas não um suave pairar - é sentir-se despencar... e perde a fome e o sono, e o sentido e o prumo... E só descobre que encontrou o amor quando se perde... quando ele chega e ocupa todo o espaço, e toma inclusive o seu espaço, e todo o resto some...
É... então, penso que deve ser amor, isso em que esbarrei... porque já faz muito tempo, e ainda não me livrei...
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