sexta-feira, 31 de julho de 2009
Arte de amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
(poesia Manuel Bandeira / imagem Toulouse Lautrec)
Epigrama
Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os prazeres são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisso, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.
(La Fontaine, 1621-1695)
De prazeres que não separo.
A volúpia e os prazeres são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisso, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.
(La Fontaine, 1621-1695)
Carta pluma
" a uma carta pluma
só se responde
com alguma resposta nenhuma
algo assim como se a onda
não acabasse em espuma
assim algo como se amar
fosse mais do que a bruma
uma coisa assim complexa
como se um dia de chuva
fosse uma sombrinha aberta
como se, ai, como se,
de quantos se
se faz essa história
que se chama eu e você"
(Paulo Leminski)
só se responde
com alguma resposta nenhuma
algo assim como se a onda
não acabasse em espuma
assim algo como se amar
fosse mais do que a bruma
uma coisa assim complexa
como se um dia de chuva
fosse uma sombrinha aberta
como se, ai, como se,
de quantos se
se faz essa história
que se chama eu e você"
(Paulo Leminski)
Insuficiência dos ditames da razão contra o poder do amor
"(...)
Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objetos de amor coa idéia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo:
Razão, de que serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro."
(Bocage, em "O Delírio Amoroso e Outros Poemas")
Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objetos de amor coa idéia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo:
Razão, de que serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro."
(Bocage, em "O Delírio Amoroso e Outros Poemas")
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Tenta esquecer-me
Tenta esquecer-me...
Ser lembrado é como evocar
Um fantasma...
Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui, um rio que vai fluindo...
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!
(Mário Quintana)
Ser lembrado é como evocar
Um fantasma...
Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui, um rio que vai fluindo...
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se...
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
As imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!
(Mário Quintana)
"Tenho que escolher o que detesto - ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra."
(Fernando Pessoa)
(Fernando Pessoa)
Esperei, esperei e esperei... sabia que viria, e veio. Mas quando enfim chegou, tive de ir. Uma palavra apenas, uma sílaba só, e ganhei o dia! A noite, aliás, madrugada... e todos os dias, as semanas, os meses de silêncio que esperei. Já não me ponho a procurar. Espero apenas. Em silêncio também, pois sei que que virá. Com a mesma certeza de que morrerei um dia, e com a mesma dúvida: quando? Não importa. É certo, e assim será. Mas só por hoje, contento-me com uma noite de sono sem sonhos... E continuarei esperando. Não fujo mais.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
o outro
Ah... o muro branco outra vez! Ainda branco. Sabe, aquelas flores... bom elas de alguma forma faziam-me acreditar que tudo era real, e não só fantasia. Que ele, mesmo sem saber, era o outro, mas ainda era. Que eu, sabendo-me mais uma, ao menos era também. Que existia, mesmo que só de vez em quando "nós". E eu não me importava em medir palavras, procurando as certas e escondendo as erradas... Mesmo quando não acontecia, e ficávamos mudos, numa espécie de silêncio de cumplicidade, suportando aquela distância tão próxima! Desde o princípio, é isso que fomos. Cúmplices. Nem amigos, nem parceiros, nem amantes. Cúmplices. Dois iguais. Assistindo o tempo passar por nós, sem desviar o olhar. Testando nossos limites e os dos outros, apostando com a sorte, num jogo de azar. Quantas vezes eu menti e deixei ele acreditar?
terça-feira, 28 de julho de 2009
Deve ser amor...
Deve ser amor... esse vazio que consome. Essa espera que as horas insistem em disfarçar, mesmo sabendo que talvez, há de não chegar. Deve ser amor... o frio que corre a espinha toda vez que um pensamento corta a idéia, sem olhar para os dois lados antes de atravessar, como quem se afoga, encantado pelas ondas, deixando-se levar. Mas antes, deve ser mesmo, porque não tem fim... Porque passa, ou faz que passa, e depois volta. Pior. E também porque no fundo eu sempre soube que era... Sempre acreditei que "todo amor é eterno, e se acaba, não era amor". Só não sabia como seria, se viria, e como o amor se apresentaria... Na verdade, não se apresentou. O amor dispensa apresentações. Ele simplesmente é. No começo, pode até ser confundido com outras paixões. Mas a paixão tem prazo de validade, começo meio e fim. Um dia você acorda e já acabou... O amor não tem pé nem cabeça, motivo, nem explicação. Acontece sozinho. Quando dado se multiplica, e se transforma em outras coisas; quando guardado só se transforma em outras coisas. E quando falta, aí é nada... um nada enorme... um nada tão grande, que incomoda. Mas nunca deixa de ser amor. O infinito amor... O incondicional amor... O indescritível, o maior de todos os sentimentos humanos, que de tão imenso chega a ser divino! Há quem acredite que amor se constrói, eu inclusive já disse algumas vezes, acreditando, e hoje me contradigo. Não se constrói coisa nenhuma. Pode-se "construir" carinho, um relacionamento, respeito, admiração, apego, dependência. Não amor. Ou ele é ou não é. Sem meios termos. Não se ama só um pouco, nem se ama demais - todo amor é um exagero! O amor é além da conta. Você flutua, mas não um suave pairar - é sentir-se despencar... e perde a fome e o sono, e o sentido e o prumo... E só descobre que encontrou o amor quando se perde... quando ele chega e ocupa todo o espaço, e toma inclusive o seu espaço, e todo o resto some...
É... então, penso que deve ser amor, isso em que esbarrei... porque já faz muito tempo, e ainda não me livrei...
É... então, penso que deve ser amor, isso em que esbarrei... porque já faz muito tempo, e ainda não me livrei...
segunda-feira, 27 de julho de 2009
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
– não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contigo
quando negado:
o peso é demasiado
– deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.
(Allen Ginsberg / Canção)
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
– não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contigo
quando negado:
o peso é demasiado
– deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.
(Allen Ginsberg / Canção)
Feminina
Eu queria ser mulher pra me poder estender
Ao lado dos meus amigos, nas banquettes dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés.
Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro -
Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer potins - muito entretida.
Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar -
Eu queria ser mulher pra que me fossem bem estes enleios,
Que num homem, francamente, não se podem desculpar.
Eu queria ser mulher para ter muitos amantes
E enganá-los a todos - mesmo ao predilecto -
Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,
Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...
Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher pra me poder recusar...
Ah, que te esquecesses sempre das horas
Polindo as unhas -
A impaciente das morbidezas louras
Enquanto ao espelho te compunhas...
A da pulseira duvidosa
A dos anéis de jade e enganos -
A dissoluta, a perigosa
A desvirgada aos sete anos...
O teu passado, sigilo morto,
Tu própria quasi o olvidaras -
Em névoa absorto
Tão espessamente o enredaras.
A vagas horas, no entretanto,
Certo sorriso te assomaria
Que em vez de encanto,
Medo faria.
E em teu pescoço
- Mel e alabastro -
Sombrio punhal deixara rasto
Num traço grosso.
A sonhadora arrependida
De que passados malefícios -
A mentirosa, a embebida
Em mil feitiços
(Mário de Sá Carneiro)
Ao lado dos meus amigos, nas banquettes dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés.
Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro -
Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer potins - muito entretida.
Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar -
Eu queria ser mulher pra que me fossem bem estes enleios,
Que num homem, francamente, não se podem desculpar.
Eu queria ser mulher para ter muitos amantes
E enganá-los a todos - mesmo ao predilecto -
Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,
Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...
Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher pra me poder recusar...
Ah, que te esquecesses sempre das horas
Polindo as unhas -
A impaciente das morbidezas louras
Enquanto ao espelho te compunhas...
A da pulseira duvidosa
A dos anéis de jade e enganos -
A dissoluta, a perigosa
A desvirgada aos sete anos...
O teu passado, sigilo morto,
Tu própria quasi o olvidaras -
Em névoa absorto
Tão espessamente o enredaras.
A vagas horas, no entretanto,
Certo sorriso te assomaria
Que em vez de encanto,
Medo faria.
E em teu pescoço
- Mel e alabastro -
Sombrio punhal deixara rasto
Num traço grosso.
A sonhadora arrependida
De que passados malefícios -
A mentirosa, a embebida
Em mil feitiços
(Mário de Sá Carneiro)
"O amor só é bom se doer..."
O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!...
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...
Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer...
(Canto de Ossanha / Vinicius de Moraes e Baden Powell)
Vai ver que é assim mesmo,
e eles têm razão...
Mas se for,
então não quero mais,
não quero mais o amor...
Que fique aqui registrado
para eu não me esquecer depois!
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!...
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...
Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer...
(Canto de Ossanha / Vinicius de Moraes e Baden Powell)
Vai ver que é assim mesmo,
e eles têm razão...
Mas se for,
então não quero mais,
não quero mais o amor...
Que fique aqui registrado
para eu não me esquecer depois!
sexta-feira, 24 de julho de 2009
And, just for tonight...
Yes,
we can waste time...
And just for tonight
you can be Sartre
and I would be Madame Beauvoir
meanwhile we listen to the raindrops falling
and you bring me another bowl of red wine...
We can waste time until the end of the rain...
And so, after all,
when at last we rest,
you can tell me stories from the books you've been reading...
Stories about strange people,
stranger than us,
but not as free as enough
not too free as i want to be
not too free as you seem to me
just for tonight's storm...
And, just for tonight...
we can waste time...
And just for tonight
you can be Sartre
and I would be Madame Beauvoir
meanwhile we listen to the raindrops falling
and you bring me another bowl of red wine...
We can waste time until the end of the rain...
And so, after all,
when at last we rest,
you can tell me stories from the books you've been reading...
Stories about strange people,
stranger than us,
but not as free as enough
not too free as i want to be
not too free as you seem to me
just for tonight's storm...
And, just for tonight...
segunda-feira, 20 de julho de 2009
do vento - mas poderia ser do frio...
"o ipê-roxo de novo floriu!
lindas flores cor-de-rosa
que o vento levou e ele não viu...
depois ventou e soprou a vela
do veleiro ainda vazio...
e foi ventando só para ela
e ensaiando um assovio,
a rimar com verso em prosa
que ela fez, mas ele não ouviu"
lindas flores cor-de-rosa
que o vento levou e ele não viu...
depois ventou e soprou a vela
do veleiro ainda vazio...
e foi ventando só para ela
e ensaiando um assovio,
a rimar com verso em prosa
que ela fez, mas ele não ouviu"
Lua Adversa
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
(Cecília Meireles)
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
(Cecília Meireles)
domingo, 19 de julho de 2009
Além do Tempo
Esse amor sem fim, onde andará?
Que eu busco tanto e nunca está
E não me sai do pensamento
Sempre, sempre longe
Esse amor tão lindo que se esconde
Nos confins do não sei onde
Vive em mim além do tempo
Longe, longe, onde?
Por que não me surges nessa hora
Como um sol
Como o sol no mar
Quando vem a aurora
Esse amor que o amor me prometeu
E que até hoje não me deu
Por que não está ao lado meu?
Esse amor sem fim, onde andará?
Esse amor, meu amor,
Onde andará?
(Vinícius de Moraes / Edu Lobo)
sexta-feira, 17 de julho de 2009
enquanto sonho / quarto de dormir
no meu sono, enquanto sonho,
oito tigres me guardam:
um par em cada canto,
vigiam todas as direções
cercados por todos os lados
de elefantes enfeitados
que bailam, desfiando em círculos,
um lilás entardecer
no vale de tons azulados
e um lagarto observa tudo
à espreita, do outro lado
oito tigres me guardam:
um par em cada canto,
vigiam todas as direções
cercados por todos os lados
de elefantes enfeitados
que bailam, desfiando em círculos,
um lilás entardecer
no vale de tons azulados
e um lagarto observa tudo
à espreita, do outro lado
quinta-feira, 16 de julho de 2009
switchstance
Well, I asked for a flyer one,
and i got a peacock - a beautiful one!
In his deep shades of blue,
shining, asking for a long look from my eyes,
waiting for my words, and laying in my time.
Searching for my answers, to the questions he won't did,
looking for a space between the phrases in my lips.
Pretending he doesn't care, and that I don't know about your wish,
so clearly expressed, in your moves, in your voice, in your tricks...
He come when I wasn't waiting
and without know what to say
just smiled me, showing his colors...
And i just smile him back too,
wondering if he also knows
the intentions hidden in my silence,
the meaning behind the empty words
that were coming out of my mouth...
Just me... always full of words,
of right words to wrong situations.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Os Sapatinhos Vermelhos
"Dançarás - disse o anjo
Dançarás com teus sapatos vermelhos
Dançarás de porta em porta
Dançarás, dançarás sempre."
Dançarás com teus sapatos vermelhos
Dançarás de porta em porta
Dançarás, dançarás sempre."
Hans Christian Andersen "Os Sapatinhos Vermelhos"
dá para ler o conto completo aqui:
"Os Sapatinhos Vermelhos"
dá para ler o conto completo aqui:
"Os Sapatinhos Vermelhos"
" noite de não dormir "
"E de longe eu sentia,
que assim como eu,
ele também não dormia...
Sem dúvida eu sabia
que no escuro da noite,
ele também escrevia."
E a madrugada sempre acaba por nos recompensar... Ele, mais com música... com certeza. Eu, mais com palavras - sempre mais palavras, como se eu tivesse que me entender com poucas já... E como se me bastassem! Como se me esquentassem. Como ele, febril, o faz. Fazia, não já faz mais.
"É inverno já, e nem parece.
Porque só eu lembro, enquanto ele esquece?"
Do que um dia eu escrevi, para ele dormir... Do que um dia ele cantou, para meu sono chamar... De tudo o que não foi... Quando é que será? De toda a perfeição que eu vejo e ele não sente, de toda a sincronicidade, da próxima coincidência iminente... Do medo de acabar. Das palavras mutuamente omitidas, por medo de começar.
"que toda história um dia termina, enfim
mas para isso, antes há de começar
e essa nossa tem de ser assim:
mal contada e secreta
sem começo, meio, fim
eu, indo me aquecer na tua febre
e você, voltando a se refrescar em mim"
E que a gente se deite enquanto amanhece, dormindo então nosso sono tardio. Sem sonho. Que eu acorde bem depois, com o som do teu violão vadio... Ou você, com a minha urgência, de fêmea no cio. E façamos de novo nos adormecer...
Fiquemos então assim.
Já que eu não sei por que você veio... Nem você sabe o que quer de mim...
que assim como eu,
ele também não dormia...
Sem dúvida eu sabia
que no escuro da noite,
ele também escrevia."
E a madrugada sempre acaba por nos recompensar... Ele, mais com música... com certeza. Eu, mais com palavras - sempre mais palavras, como se eu tivesse que me entender com poucas já... E como se me bastassem! Como se me esquentassem. Como ele, febril, o faz. Fazia, não já faz mais.
"É inverno já, e nem parece.
Porque só eu lembro, enquanto ele esquece?"
Do que um dia eu escrevi, para ele dormir... Do que um dia ele cantou, para meu sono chamar... De tudo o que não foi... Quando é que será? De toda a perfeição que eu vejo e ele não sente, de toda a sincronicidade, da próxima coincidência iminente... Do medo de acabar. Das palavras mutuamente omitidas, por medo de começar.
"que toda história um dia termina, enfim
mas para isso, antes há de começar
e essa nossa tem de ser assim:
mal contada e secreta
sem começo, meio, fim
eu, indo me aquecer na tua febre
e você, voltando a se refrescar em mim"
E que a gente se deite enquanto amanhece, dormindo então nosso sono tardio. Sem sonho. Que eu acorde bem depois, com o som do teu violão vadio... Ou você, com a minha urgência, de fêmea no cio. E façamos de novo nos adormecer...
Fiquemos então assim.
Já que eu não sei por que você veio... Nem você sabe o que quer de mim...
terça-feira, 7 de julho de 2009
Sob Medida
Se você crê em Deus
Erga as mão para os céus
E agradeça
Quando me cobiçou
Sem querer acertou
Na cabeça
Eu sou sua alma gêmea
Sou sua fêmea
Seu par, sua irmã
Eu sou seu incesto
Sou igual a você
Eu nasci pra você
Eu não presto
Eu não presto
Traiçoeira e vulgar
Sou sem nome e sem lar
Sou aquela
Eu sou filha da rua
Eu sou cria da sua costela
Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos seus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus
Se você crê em Deus
Encaminhe pros céus
Uma prece
E agraceça ao Senhor
Você tem o amor
Que merece
(Chico Buarque)
sempre tem uma do Chico sob medida...
Erga as mão para os céus
E agradeça
Quando me cobiçou
Sem querer acertou
Na cabeça
Eu sou sua alma gêmea
Sou sua fêmea
Seu par, sua irmã
Eu sou seu incesto
Sou igual a você
Eu nasci pra você
Eu não presto
Eu não presto
Traiçoeira e vulgar
Sou sem nome e sem lar
Sou aquela
Eu sou filha da rua
Eu sou cria da sua costela
Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos seus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus
Se você crê em Deus
Encaminhe pros céus
Uma prece
E agraceça ao Senhor
Você tem o amor
Que merece
(Chico Buarque)
sempre tem uma do Chico sob medida...
todos - ou nenhum!
Sabe quando lasca o esmalte de uma unha só, e você está no caminho da festa... Pois é. É assim que me sinto agora - e não é porque o esmalte lascou. Daí você vai arrancando os pedacinhos, um por um, e sobra uma única unha, linda, intacta! De que vale só uma boa? Tanto quanto uma só estragada. Ou seja: NADA! Ou se tem todas boas, ou não se tem nenhuma. É que nem comer 1 bombom da caixa. Prefiro não comer nenhum, se eu só puder comer um... Um só, só serve para dar mais vontade. E se não vai ser possível saciar, melhor nem começar. É a velha história do "pouco não me serve, metade não me satisfaz..." Que eu sou exagerada que nem Cazuza, "pra mim é tudo ou nunca mais"... E também, pra quem não quer tem muito... Eu invento as coisas à minha maneira. E fico, por assim dizer, querendo e gostando muito delas. Mas eu enjôo. Me canso. Sei lá o que. E aí fico sem saber o que fazer com elas... e elas sem saber o que fazer comigo. E eu sem saber o que esperar de mim. Porque é tanta coisa, que não cabe em "um só"... Eu gosto das escolhas feitas, dos números primos, das coisas que não me deixam confundir com meus pensamentos dualísticos...
quinta-feira, 2 de julho de 2009
the owl in my low
"Os contos de fadas são assim:
Uma manhã, a gente acorda
E diz 'Era só um conto de fadas...'
E a gente sorri de si mesmo.
Mas, no fundo, não estamos sorrindo.
Sabemos muito bem que os contos
de fada são a única verdade na vida."
(O Amor do Pequeno Príncipe / Cartas a uma desconhecida - Antoine de Saint-Exupéry)
Uma manhã, a gente acorda
E diz 'Era só um conto de fadas...'
E a gente sorri de si mesmo.
Mas, no fundo, não estamos sorrindo.
Sabemos muito bem que os contos
de fada são a única verdade na vida."
(O Amor do Pequeno Príncipe / Cartas a uma desconhecida - Antoine de Saint-Exupéry)
tinha, mas tá em falta
Há tempos que faltam palavras minhas aqui... Não que estejam me faltando, pois aqui, como já diz o nome, o "brainstorm" é constante... Falta que eu escreva, que eu registre os últimos devaneios. Que nao têm sido poucos... Falta mesmo, antes que eu escreva, que eu os organize... por cores talvez...
Mas, enquanto isso, vou destilando umas poucas linhas... e algumas dos outros... Eu, que sou de escrever tanto, em linhas e entrelinhas, agora estou de frases curtas.
Mas, enquanto isso, vou destilando umas poucas linhas... e algumas dos outros... Eu, que sou de escrever tanto, em linhas e entrelinhas, agora estou de frases curtas.
Não tenho pressa
Não tão depressa
Então se apressa
Que eu vou nessa
....e desapareça.
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