domingo, 27 de fevereiro de 2011
Como eu, como tu
Ouvindo uma canção que pudesse dizer
Como eu, como tu, como velhos tratantes
Como velhos amigos, como velhos perigos,
Como grandes amantes nos poucos instantes de amor
Eu, outro dia me esqueci lentamente,
Ouvindo a razão na palavra de ordem corrente
E que eu, e que tu, e que todos os passos,
E que todos os beijos, e que os longos abraços,
E que os longos desejos não caiam aos pedaços.
(SECOS E MOLHADOS)
penetra surdamente no reino das palavras
PROCURA DA POESIA
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
(Drummond)
SERENA
que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavi-
dade do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.
E só assim, na levi-
tação da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria,
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria.
(Henriqueta Lisboa)
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
DREAMS
Oh my life
Is changing everyday
Every possible way
Though my dreams
It's never quite as it seems
Never quite as it seems
I know I felt like this before
But now I'm feeling it even more
Because it came from you
And then I open up and see
The person falling here is me
A different way to be
La larara larara larara la
I want more
impossible to ignore
impossible to ignore
They'll come true
impossible not to do
impossible not to do
And now I tell you openly
You have my heart so don't hurt me
You're what I couldn't find
A totally amazing mind
So understanding and so kind
You're everything to me
Oh my lifeIs changing everyday
In every possible way
Though my dreams
It's never quiet as it seems
Cause you're a dream to me
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
equilíbrio em 7 linhas
queria me ver nele
e ele em mim, como ficava
calculista,
queria me saber dele
e sendo assim, ele esperava
opostos e afim - equilibrava
sábado, 19 de fevereiro de 2011
sete e quando
acordei de um sonho para outro!
este, quero que fique sem fim
para todo dia quando despertar
lembrar do bom dia de hoje:
sete e quando ele acordou
pensando em mim...
de sal
mas nem sal de suor
nem sal de lágrima
era sal de mar
pra dissolver tudo
que pudesse fazer
afundar
de agora em diante
só quero saber
de flutuar
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
o mais bonito
um menino de ouro...
fosse do que fosse,
era todo dourado,
e eu me contentaria
em somente contemplá-lo
da primeira luz do dia
até o último raio da tarde
ao menos por uma vez...
e quando enfim a claridade
toda se esvaísse
meu sol da madrugada
sobrasse apenas calor
cinzas à luz de velas...
fosse outra vez meu menino ouro
que sendo metal
quem sabe como um ímã
atraísse meu pé pro chão...
eu, que flutuante
pairo sem direçãoo
e que sendo também água
inundo ao som de trovão
eis, meu sol da meia noite!
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
"C'est beau ses rides autour des yeux..."
Des vies qu'il a perdues de vue
Lui au moins il n'a rien à perdre
Alors que moi je n'ai rien vu"
pacto para estarmos quites
não fico mais para trás!
O céu ganhou uma estrela
e eu ganhei mais um anjo!
Meu anjo ganhou asas
e toda a eternidade...
A morte não me assusta mais!
Mesmo que sempre vença,
e ainda que tanto me doa,
aprendi a dançar com ela
com minhas facas e punhais.
Então, estamos quites
e eu espero por ela em paz.
Memória
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(Drummond)
uma semana sem o Pit... meu amor infinito...
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
"pra viagem"
queria guardar teus poucos, em potes,
para quando estás longe:
pouco do teu cheiro d'água,
tanto do teu toque de vento,
leve como brisa de madrugada...
muito do meu gosto na tua língua,
mais dos teus olhos acesos nos meus,
e da tua voz quente a falar de mim...
e até um tanto da noite
que acabou ficando sem fim...
domingo, 13 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
um aperto no peito...
Vamos embora companheiro, vamos
Eles estão por fora do que eu sinto por você
Me dê sua pata peluda, vamos passear
Sentindo o cheiro da rua
Me lamba o rosto, meu querido, lamba
E diga que também você me ama
Eu quero ver seu rabo abanando
Vamos ficar sem coleira
Vamos ter cinco lindos cachorrinhos
Até que a morte nos separe, meu amor!
‘Só os mortos não morrem’
os que a morte não pode matar mais com seus punhais.
Ao declinar da estrada, no final do dia
em silêncio se acercam, em sossego seguem minha via.
Verdadeiro pacto é o nosso, nó que o tempo não desmente.
Só aquilo que perdi é meu eternamente.
Rahel (Bluwstein), 1890 – 1931.
Epigrama Nº 4
para que a dor transborde e caia.
O choro vem quase chorando
como a onda que toca na praia.
Descem dos céus ordens augustas
e o mar chama a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios,
mas levando náufragos dentro.
(Cecília Meireles)
Meu ser de misericórdia
Hilda Hilst
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
curvilíneo
como um passeio pela tarde...
o sol se pondo entre jardins emaranhados,
quase um labirinto...
para nos perdermos de nós
para ainda não nos termos,
nos acharmos num mundo
que só existe se estamos a sós
onde muito tempo é um segundo
e quase nada é tão veloz...
um poema curvilíneo
indeciso e oscilante
como nós quando muito próximos...
escrevo para quando não me encaras
nestas tardes, que vens fora do tempo
e vais antes da hora
fingindo não ser meu...
um poema meu é muito pouco...
mal cabe tanto encanto
quem sabe um caderno teu
perdido em algum canto
onde eu more nas palavras
que folheias de quando em quando?
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Versos à boca da noite
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva...
Uma aceitação maior de tudo,
e o medo de novas descobertas.
Escreverei sonetos de madureza ?
Darei aos outros a ilusão de calma?
Serei sempre louco? sempre mentiroso ?
Acreditarei em mitos ? Zombarei do mundo ?
Há muito suspeitei o velho em mim.
Ainda criança, já me atormentava.
Hoje estou só. Nenhum menino salta
de minha vida, para restaurá-la.
Mas se eu pudesse recomeçar o dia !
Usar de novo minha adoração,
meu grito, minha fome... Vejo tudo
impossível e nítido, no espaço.
Lá onde não chegou minha ironia,
entre ídolos de rosto carregado,
ficaste, explicação de minha vida,
como os objetos perdidos na rua.
As experiências se multiplicaram:
viagens, furtos, altas solidões,
o desespero, agora cristal frio,
a melancolia, amada e repelida,
e tanta indecisão entre dois mares,
entre duas mulheres, duas roupas.
Toda essa mão para fazer um gesto
que de tão frágil nunca se modela,
e fica inerte, zona de desejo
selada por arbustos agressivos.
(Um homem se contempla sem amor,
se despe sem qualquer curiosidade.)
Mas vêm o tempo e a idéia de passado
visitar-te na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.
E as memórias escorrem do pescoço,
do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sono e te perseguem,
à busca de pupila que as reflita.
E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi.
Esta casa, que miras de passagem,
estará no Acre ? na Argentina ? em ti ?
que palavra escutaste, e onde, quando ?
seria indiferente ou solidária ?
Um pedaço de ti rompe a neblina,
voa talvez para a Bahia e deixa
outros pedaços, dissolvidos no atlas,
em País-do-riso e em tua ama preta.
Que confusão de coisas ao crepúsculo !
Que riqueza ! sem préstimo, é verdade.
Bom seria captá-las e compô-las
num todo sábio, posto que sensível:
uma ordem, uma luz, uma alegria
baixando sobre o peito despojado.
E já não era o furor dos vinte anos
nem a renúncia às coisas que elegeu,
mas a penetração no lenho dócil,
um mergulho em piscina, sem esforço,
um achado sem dor, uma fusão,
tal uma inteligência do universo
comprada em sal, em rugas e cabelo.
(Carlos Drummond de Andrade, 1962)