quarta-feira, 3 de março de 2010

abrindo a corrente cigana...

O cigano desliza por encima da terra
não podendo acima dela, sobrepairado;
jamais a toca, sequer calçadamente,
senão supercalçado: de cavalo, carro.

O cigano foge da terra, de afagá-la,
dela carne nua ou viva, no esfolado;
lhe repugna, ele que pouco a cultiva,
o hálito sexual da terra sob o arado.

De o­nde, quem sabe, o cigano das covas
dormir na entranha da terra, enfiado;
dentro dela, e nela de corpo inteiro,
dentros mais de ventre que de abraço.
Contudo, dorme na terra uterinamente
dormir de feto, não o dormir de falo;
escavando a cova sempre, para dormir
mais longe da porta, do sexo inevitável.



(João Cabral de Melo Neto - Nas covas de Baza)

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