Poeta não é apenas o ser raro que faz versos. É alguém diferente da média, por isso em constante tentativa (frustrada) de se ajustar. É o vibrar de uma sensibilidade extra, que se julga privilegiada conquanto tida como defeituosa, subjetiva e inadaptada pela média das pessoas. O poeta é quem está nos lugares sem ficar, jamais, por inteiro. Acompanha os demais sem, porém, a entrega total com a qual estes se dedicam (e assim se distraem) ao trabalho, jogo ou conversa; é o mais ausente dos presentes, sem que lhe notem a evasão.
Por não estar inteiro nas atividades que encantam e ocupam os demais, o poeta sofre duplamente. Primeiro, por sua incapacidade de plena entrega aos assuntos médios. Segundo, porque vai ficando à margem dos acontecimentos, trocando-os por uma entrada em si mesmo e no universo interior dos sons e palavras.
Nos dias em que sua sensibilidade acorda aguçada, o poeta é o mais bendito dos trapaceiros. Realiza – escondendo o tédio – as tarefas corriqueiras de sua vida e trabalho, pode até assinar decisivos acordos internacionais, programar foguetes voadores, legislar ou realizar vultosas operações financeiras, sem a ninguém transmitir as emoções internas em turbilhão ou borbulha. É como se fosse um receptor de rádio AM/FM. Se está no AM ouve a FM. Se ouve a FM precisa é se concentrar no AM.
Farsante angelical, finge participar da vida dos homens quando, apesar de prestar alguma esforçada atenção ao que faz, a cada respiração ou espaço silencioso, até mesmo quando vai ao banheiro, mas sempre que se percebe sozinho – ainda que por segundos – habita-se por fantasias inenarráveis, memórias teimosas, riquíssimas sensações não verbais, gotas ou litros de depressão e um sentimento inenarrável do mundo.
Não há confidente para este sentimento. Só o verso.
O poeta é diletante onde os vorazes são especialistas, é amador onde se entredevoram os profissionais. Especialista e profissional, o poeta só é de si mesmo; quando solitário, a escrever, ou quando a dois, a amar.
O poeta é o mais sublime dos desastrados. Fica aquém para ver além. Quem o compreenderá?
(Artur da Távola)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário