"A falta não tem cura.
Ela é essência.
Logo, some. Porque quem nega, terá que afirmar, hora ou outra."
Ela é essência.
Logo, some. Porque quem nega, terá que afirmar, hora ou outra."
via Giovanny Gerolla
"não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite" (clarice lispector)
“Antes do poema”
I
Quando o luar caiu
e tingiu de magia os verdes da ilhah
cheguei, mas tu já não eras.
Cheguei quando as sombras revelavam
os murmúrios do teu corpo
e não eras.
Cheguei para despojar de limites
o teu nome.
Não eras.
As nuvens estão densas de ti
sustentam a tua ausência
recusam o ocaso do teu corpo
mas não és.
Pedra a pedra encho a noite
do teu rosto sem medida
para te construir convoco os dias
pedra a pedra
no tem que te consome
As pedras crescem como vagas
no silêncio do teu corpo
Jorram e rolam
como flores violentas
no silêncio do teu corpo
E sangram. Como pássaros exaustos.
A noite e o vento se entrelaçam
no vazio que te espera.
II Súbito chegaste quando falsos deuses subornavam o tempo chegaste para despedir a insónia e o frio chegaste sem aviso quando a estrada se abria como um rio chegaste para resgatar sem demora o princípio. Grave o silêncio rodeia o teu corpo hostil o silêncio agarra teu corpo. Mas já tomaste horas e abismos já a espessura do obô resplandece em tua testa. E não bastam pombas em demência no teu rosto não bastam consciências soluçantes em teu rasto não basta o delírio das lágrimas libertas. Eu cantarei em pranto teu regresso sem idade teu retorno do exílio na saudade cantarei sobre a terra teu destino rebelde. Para te saudar no mar e no palmar na manhã do canto sem represas cantarei a praia lisa e o pomar Direi teu nome e tu serás.
(Conceição Lima)
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos."
"senhorita chuva