sexta-feira, 15 de agosto de 2014

"A falta não tem cura.
Ela é essência.
Logo, some. Porque quem nega, terá que afirmar, hora ou outra."
via Giovanny Gerolla

A Mulher Desiludida

"Uma porta fechada, qualquer coisa que espreita, atrás. Ela não se abrirá se eu não me mexer. Não mexer. Jamais. Parar o tempo e a vida. Mas eu sei que me mexerei. A porta se abrirá lentamente e eu verei o que tem detrás. É o futuro. A porta do futuro vai se abrir. Lentamente. Implacavelmente. Estou no limiar. Só existe esta porta e o que espreita atrás dela. Tenho medo. E não posso chamar ninguém por socorro.
Tenho medo"
("A Mulher Desiludida" - Simone de Beauvoir) 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Poema Concreto


O que tu tens e queres saber (porque te dói), não tem nome.
Só tem (mas vazio) o lugar que abriu em tua vida a sua própria falta.
A dor que te dói pelo avesso, perdida nos teus escuros,
É como alguém que come não o pão, mas a fome,
Sofres de não saber o que tens e falta
Num lugar que nem sabes,
Mas que é na tua vida
Quem sabe é em teu amor.
O que tu tens, não tens. 

(Thiago de Mello)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

"dos cadernos de rabiscos meus..."

do ciúme

que eu nem tinha mais espaço pra caber
nem motivo para arder
e ainda me queima, corrói
acende
e eu ardo
do frio de não te ter
febril

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Petición

Vestime de amor
que estoy desnuda;
que estoy como ciudad
-deshabitada-
sorda de ruidos,
tiritando de trinos,
reseca hoja quebradiza de marzo.

Rodéame de gozo
que no nací para estar triste
y la tristeza me queda floja
como ropa que no me pertenece.

Quiero encenderme de nuevo
olvidarme del sabor salado de las lágrimas
-los huecos en los lirios,
la golondrina muerta en el balcón-.

Volver a refrescarme de brisa risa,
reventada ola
mar sobre las peñas de mi infancia,
astro en las manos,
linterna eterna del camino hacia el espejo
donde volver a mirarme
de cuerpo entero,
protegida,
tomada de la mano,
de la luz,
de grama verde y volcanes;
lleno mi pelo de gorriones,
dedos reventando en mariposas,
el aire enredado en mis dientes,
retornando a su orden
de universo habitado por centauros.

Vestime de amor
que estoy desnuda.


 Gioconda Belli

sexta-feira, 11 de julho de 2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

origem

minha alma é a guerra
batalha
peleja
fio de navalha
(cego antes que veja)
e como antes outra vez
linha de frente
nunca talvez

meu espírito, doce
amor, água clara
corrente e correnteza
puro ouro, realeza

meu corpo-flecha
que nunca erra
mira e espreita
o silencio, a hora certa
a coisa feita

meu caminho é o vento
brisa ou vendaval
rodopia e muda a direção
vórtice
o raio, antes do trovão

o trovão, segredo
bruto
que falta e que sou

o que sinto é um exagero
desespero
começo e fim de tudo
ventre do mundo
toda dor e todo amor

e sendo guerra
aprender paz
que uma sem outra
não se faz


quarta-feira, 2 de julho de 2014

depois da perda

eles são meu norte
o alimento da minha alma
meu alento
meu sustento
minha sorte
o meu amor
a cura da minha dor
maior que eu
minha alegria
meu despertar
de cada dia
o meu medo da morte...


(28/01/14)

conserta-se coração partido

a noite, quando quase tudo silencia
eu quase posso ouvir
o descompasso do teu coração
quase sinto o vazio te engolindo...
é isso mesmo,
eu remendo teu coração partido
e em troca, não precisa nada
nem devolver o pedaço do meu...
vem, te achega, aninha em mim
cola aqui teu peito, e cala
escuta...
percebe como bate um coração
cansado, partido, remendado, novo
bate ainda mais forte
funciona direitinho, eu garanto!
e digo mais:
é capaz até, de se deixar despedaçar outra vez
e outras tantas mais!
mas aí não é comigo...
tem aqui um colo e um calor
(e ainda um tanto do meu amor, que é teu)
se quiser...


domingo, 29 de junho de 2014

eles estão acordados

e as palavras chegaram
como se fossem dois convidados
que nunca podem se encontrar
e se encontraram

os sonhos, é deles que elas querem falar
dos sonhos que falam
das pessoas que não conheço
e que são tão famíliares
quando aparecem no sonho

dos novos, de cura
de recordar
reaprender
lembrar

e agora, de novo
não é só a lua quem os traz
as meninas juntas, também o fazem
a erva
a falta dela
parece que tudo quer me fazer sonhar

sonhos em todos os tons de verde
e ruas repletas de ebós
e o velho da árvore...
ah, tanta gente!

tantos sonhos, em tão pouco sono...








quinta-feira, 29 de maio de 2014



Cada Luna Llena mi poder se disuelve, 
se quema, y solo cenizas quedan 

para luego volver a renacer en Luna Nueva.
Yo le temía a las chamanas 
hasta que me di cuenta que era una.



(via Mujer Arbol )

terça-feira, 27 de maio de 2014

aceso III

escuro
negro
e aceso ainda
aceso sempre
aos olhos meus
que não te miram
só te sonham
silhueta
sempre, sempre, acesa
quente, febril
escuro
obscuro
te sonho
em mim
aceso


(eu gosto)

Gosto de mulher de verdade, mulher com cheiro, mulher com pelos, mulher com gosto, mulher com curvas ou de ossos aparentes.. descabeladas, suadas, cansadas, de sorriso sincero e olhar profundo...
mulher com leite no peito, filho no colo, dança no pé, balanço no quadril, de vestido solto, de pé sujo, de unha curta pra massagear sem doer...

Gosto de mulher que gosta de sexo, que fala de sexo, que gosta de andar sem roupa por ai... gosto de mulher que sabe de temperos, que sabe de poesia, que sabe de dar amor...
Eu gosto de mulher que gosta de mulher, que pára de competir, falar mal, criticar, julgar, comparar e coisa e tal, e se junta de coração à suas irmãs...
Gosto de mulher que conta história, que ri de si mesma, que aprende com os erros, que cresce, que brinca, que dá gargalhada de doer a barriga...
Gosto de mulher que bota cheirinho no lençol, que sara com homeopatia, que seduz com óleo essencial, que conhece seu ciclo, sua lua...gosto de mulher pari, que come placenta, que inventa, que pinta...
Eu gosto de mulher que canta com o coração, que canta com o útero...
Gosto de mulher que toca tambor, que tem braço forte, que sabe fechar os olhos para ver, pra rezar, pra dançar...
Gosto de mulher bonita, naturalmente bonita, de mulher colorida
Gosto de mulher malandra, de mulher esperta, de mulher macho, de mulher loba, de mulher amante, mulher mãe, de mulher anciã, de menina-mulher...
Eu gosto de mulher que assume seus cabelos brancos, seus defeitos, seus medos, seus sofrimentos....
Eu gosto de mulher que gosta de água fria, de escalda-pés, de fogueira, de cachoeira, de Iemanjá e de Oxum...
Ah, como eu gosto de mulher!!!!!
- por mim mesma, a mulher que eu mais gosto neste mundo todo!
(Morena Cardoso)

terça-feira, 8 de abril de 2014

Enséñame Cómo Amar.


Madre, enséñame como amar,
más allá de mi humano temor:
Enséñame todas las alegrías de la vida
Detrás del velo de lágrimas.
Déjame encontrar el placer de
Las manos gentiles de un amante:
Dejame conocer la sabiduría del
Respeto sin demandas
Oh, guardiana del Perdón,
Enséñame como ver
Más allá de los juicios futiles
Apoyando a la dignidad humana.
Aprenderé tu medicina
De Madre, amante, amiga,
Enseñándo a otros como amar
Y a los corazones rotos a enmendar.
Madre, enséñame como curar
Los sentimientos dentro de mí:
Enséñame como respetar toda vida
Con floreciente humildad.
Muéstrame el camino que se aleja del abuso,
Donde todo canta a la vida,
Donde el dolor del corazón es sólo un recuerdo
De antiguas luchas humanas.
Deja que mi espíritu sane
Hasta que morir no sea temer
Donde bienvenido es renacer
Trayéndome alegres lágrimas
Estas son las cosas que deseo,
Porque en verdad quiero conocer
Los senderos de sanación
A través de la noche oscura del alma.
(Jamie Sams)

domingo, 23 de março de 2014

nagual

ou tonal
outonal

domingo, 16 de março de 2014

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

"O Útero da Casa"

“Antes do poema”

I
Quando o luar caiu
e tingiu de magia os verdes da ilhah
cheguei, mas tu já não eras.
Cheguei quando as sombras revelavam
os murmúrios do teu corpo
e não eras.
Cheguei para despojar de limites
o teu nome.
Não eras.
As nuvens estão densas de ti
sustentam a tua ausência
recusam o ocaso do teu corpo
mas não és.
Pedra a pedra encho a noite
do teu rosto sem medida
para te construir convoco os dias
pedra a pedra
no tem que te consome
As pedras crescem como vagas
no silêncio do teu corpo
Jorram e rolam
como flores violentas
no silêncio do teu corpo
E sangram. Como pássaros exaustos.
A noite e o vento se entrelaçam
no vazio que te espera.
             

II
Súbito chegaste
quando falsos deuses subornavam
o tempo
chegaste para despedir
a insónia e o frio
chegaste sem aviso
quando a estrada se abria
como um rio
chegaste para resgatar
sem demora o princípio.

Grave o silêncio rodeia o teu corpo
hostil o silêncio agarra teu corpo.
Mas já tomaste horas e abismos
já a espessura do obô
resplandece em tua testa.
E não bastam pombas em demência
no teu rosto
não bastam consciências soluçantes
em teu rasto
não basta o delírio das lágrimas libertas.

Eu cantarei em pranto
teu regresso sem idade
teu retorno do exílio na saudade
cantarei sobre a terra
teu destino rebelde.

Para te saudar no mar e no palmar
na manhã do canto sem represas
cantarei a praia lisa e o pomar

Direi teu nome e tu serás.

(Conceição Lima)