quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Roda

Habito numa roda.
Dou-me conta disso
segundo as árvores.
Sempre que olho pela janela
vejo-as:
quando, as folhas no céu,
quando, as folhas na terra.

E segundo os pássaros,
que voam
com uma asa para o sul
e com uma asa para o norte.

E segundo o sol,
que me nasce
hoje no olho esquerdo,
amanhã no direito.

E segundo eu,
que ora sou,
ora não sou mais.

(Marin Sorescu)

A Majestade dos Tronos do Ar


Sendo Rainha, é da Água. Por empunhar a espada, do Ar. Água do Ar. Naturalmente aspectada pelo feminino, desempenha uma função do masculino. Mas não há perfeita interação entre estes elementos mesmo tendo em conta a atração das polaridades opostas.
A Água é substancial enquanto o Ar é abstrato. Sua compatibilidade encontra-se na Umidade. A Água pode tornar o Ar visível: nuvem, bruma, nevoeiro. Em harmonia na umidade, criam o símbolo máximo do sonho e do devaneio. É a soma da memória (Água) e da imaginação (Ar). Contudo, por criarem juntos a matéria dos sonhos, não podem permanecer.
Se o Ar estiver feliz, pode gaseificar a Água. Fazer espuma. Mas não raro se ressente ao ver-se privado de transparência. Distancia-se da matéria aquosa que tudo amálgama. Precisa respirar e mata a Água por expulsão. Não suporta a lamúria da sereia.
E a Água, mesmo que essencialmente rebelde à modelagem, não se contém diante da evasão aérea – fuga, dissipação, inconstância, vacuidade. Mata o Ar por dilúvio.
A Água é fértil, o Ar é estéril. A Água quer unir-se, o Ar quer ser livre. É uma combinação difícil a que preside a Rainha de Espadas.
Tem o apelo aquático na sua essencialidade feminina, mas está orientada pelo Ar. Por isso é de uma dramaticidade gelada. Esconde suas emoções ou as transforma em facas afiadas. É ríspida, fria, uma crítica severa. Sua mobilidade é a do vento, onde opera.
A Rainha de Espadas liquida. Aproxima-se de Atena. De Iansã pela sua assertividade, se esta não fosse tão quente. Usa um adorno vermelho no braço, um presente do fogo. Proteção. Pode então agir no escuro. É hábil. A tática é a estratégia. Razão que esclarece o caos. Nunca subestime sua perspicácia. Ela sempre tem uma carta na manga.
Ganhou o inverno porque conhece os enganos da primavera. Do céu o verão, da folha o outono. Sabe e executa. Articula. Doma pela palavra. Cada letra é um arreio. Sua língua é um punhal. Tem uma dor cravada no peito. Uma armadura para arrancar do centro.
A Rainha de Espadas gosta do branco e do negro. Não é adepta das cores. Em dias mais sensíveis, veste azul. Cinza nas tempestades. Nada da luz fogosa de Bastões e suas cores quentes. É bom não esquecer que é do seu repertório confundir pela aparência de pureza. Dissimulada sim. Mas quem disse que a dissimulação não é uma maneira de se revelar?
Não traduz padrões usuais de beleza e nada tem a ver com a delicadeza de traços de Copas, nem com a explosão de vivacidade de Paus e muito menos com a robustez profícua de Ouros. Há um equilíbrio enigmático em suas formas...
(o texto é daqui)

terça-feira, 29 de junho de 2010

aula de matemática...




"cê já escolheu uma cor pra sua vida?
não?
o arco-íris já passou na sua vida
e cê não escolheu?
ocê tava olhando pro outro lado...
quê que faz agora?
canta mais, pra chover de novo!
cê entendeu? ocê tá entendendo?
tava olhando pro outro lado,
procurando o igual, o 1+1 pra formar 2
tava procurando lá longe
lá no horizonte
o arco-íris tava ali
bem perto, na sua frente
ali, no horizonte
(que tem horizonte pra frente, pros lados, pra trás
pra todo lado tem horizonte)
tava procurando errado
a gente canta pra chover de novo...
procê 1+1 não é 2
é 3! cada um tem um jeito...
o seu, é 3! cê é 3, cê entendeu?
não adianta cê procurar igualdade
nunca ocê vai ficar satisfeita
procê, 1+1 = 3
cê tá entendendo?
sua conta é a diferença
e se alguém falar procê que 1+1 é 2
ou que 1+1 = 3 tá errado,
ocê diz:
cê que pensa..."

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pula fogueira


(mais) Do Vento





1+1 = 3

fique aqui registrado
para nunca mais
eu contar errado
outra vez !

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

(Drummond)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Era outra vez...


(Em noite de lua cheia, meia noite é noite e meia.)


A mesma menina que encarava corujas. E ensonhava noites afora... Muitas vezes, o mesmo sonho sem nome. Vez ou outra um sonho novo. Ia, como ventania, pairando de sonho em sonho. Acordava, n'outro lugar, e pensando não mais sonhar, tornava a acordar. Sempre que fechava os olhos, não sabia onde ia parar...
Era outra vez... Outro sonho.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

repeat please?

I WANT A LOVER, BUT I CAN'T FIND TIME


terça-feira, 22 de junho de 2010

Instante

Uma semente engravidava a tarde.
Era o dia nascendo, em vez da noite.
Perdia amor seu hálito covarde,
e a vida, corcel rubro, dava um coice,
mas tão delicioso, que a ferida
no peito transtornado, aceso em festa,
acordava, gravura enlouquecida,
sobre o tempo sem caule, uma promessa.
A manhã sempre-sempre, e dociastuto
seus caçadores a correr, e as presas
num feliz entregar-se, entre soluços.
E o que mais, vida eterna, me planejas ?
O que se desatou num só momento
não cabe no infinito, e é fuga e vento.

(Drummond)

Manhã de Inverno

Coroada de névoas, surge a aurora
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça,
Nos olhos da fantástica indolente.

Névoas enchem de um lado e de outro os morros
Tristes como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.

A custo rompe o sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.

Vento frio, mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras úmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.

Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trêmulas a neve;
Galhardo moço, o inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.

Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.

Sobe de todo o pano; eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou co’os sábios olhos
A suprema ciência do empresário.

Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, — a voz serena
Acordo os ecos tímidos do vale;
E a divina comédia invade a cena.

(Machado de Assis, in 'Falenas'
)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Solstício de Inverno




Na noite mais longa do ano
Faço-me semente
Celebrando a nova estação
É findo o Outono
E todo superficial em mim
Morre neste fim
De limpeza e purificação
Dos extremos de frio e calor
Ao som de flautas mágicas
E batidas de tambor
Daqui para frente
Tudo é renovação











Por todas as nossas relações!




.


AHO


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quarta-feira, 16 de junho de 2010

mais do Tempo...

(Gilberto Freyre, no MLP, 2008)

Oh! Djisãs!


Vamos chamar o vento

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"É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz um ninho no enrolar da fúria e voa firme e certa como bala
As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos, passa e vai em frente
Ela não busca a rocha, o cabo, o cais
Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento
Por isso me parece imagem e justa
Para quem vive e canta num mau tempo"



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Eu sou a casa do raio e do vento
Por onde eu passo é zunido, é clarão

EPAHEY OYÁ



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segunda-feira, 14 de junho de 2010

"fu shhhhhhh...

fu shhhhhhh, fu shhhhhhh..."
bóra, não pára, não pára...

vai amigo,
segue em paz tua jornada

bóra amigo...
estes versos são para você!
esteja onde estiver...

e se alguma noite dessas
precisar de colo voltando pra casa
(seja onde for tua nova casa)
conta comigo!
sinto sua falta já, querido...
a amizade é a forma mais sublime do amor!

não me despedi, nem queria...
sei que ainda nos encontraremos!
até um dia...

Love In The Afternoon by Legião Urbana on Grooveshark

"o que que ela tem tem tem tem tem tem tem?
que não fala com ninguém guém guém guém guém guém guém
Ela tá triste triste triste triste triste triste triste..."

domingo, 13 de junho de 2010

trato é trato!




eu vou sabotar!
vou casar com ele...





sexta-feira, 11 de junho de 2010

Eu sou um céu para as tuas tempestades


"Para onde vai a minha vida e quem a leva?
Porque eu faço sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?"


Senhora das nuvens de chumbo

Senhora do mundo dentro de mim

Rainha dos raios, rainha dos raios

Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim

Senhora das chuvas de junho

Senhora de tudo dentro de mim

Rainha dos raios, rainha dos raios

Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim

Eu sou o céu para as tuas tempestades

Um céu partido ao meio no meio da tarde

Eu sou um céu para as tuas tempestades

Deusa pagã dos relâmpagos

Das chuvas de todo ano

Dentro de mim, dentro de mim


(Caetano Veloso - Iansã)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

red rhymes

blood in my rhymes
welcome back to the high times

when the nights are longer

and my words are stronger

Noturno

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tú só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - trsite e lento -
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!

(Antero de Quental)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Presente do Tempo






07 de junho de 2010,




Sinto, no ventre, essa vibração...
O vento!
Vento da minha direção
Meu tempo
Hora de sim, hora de agora não
E hoje esse vento dança,
Na palma da minha mão!




...

domingo, 6 de junho de 2010

Noite Quente, Noite Fria

Doces horas, as nossas...
Doces e longas horas, que nunca cabem dentro da noite...
Tempo de nós. Tempo de dois.
Segundos dos olhos, minutos da pele.
Do cheiro - o meu mais o teu, um novo, um terceiro.
De dormir quando o sol se põe
E acordar com as estrelas...


Noite quente, noite fria...
Tudo o que sobra, é fazer poesia:



LUA ALTA, RUA VAZIA
PORQUE TODA NOITE
INSISTE EM VIRAR DIA?
.

sábado, 5 de junho de 2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010

"Poemas de Junho"



Chegam-me os poemas de Junho devagar
uma letra
depois outra…
Surpreende-me uma vogal
uma vírgula
Sinais de um tempo que se escreve
com palavras frias
mas aconchegantes
Frases inteiras por vezes
outras quebradas
vindas de longe
partidas pela viagem do sol
que deixa os dias mais curtos
são anúncio de um novo ciclo
ensinando a soletrar a vida
Que nos devolve o lugar de um qualquer objecto prosaico
que já teve outros lugares
noutros junhos


Luanda, Junho de 1998

(Manuel Dionísio)