Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... — enquanto consente
Deus que a noite seja andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar — somente.
Não necessita de nada.
(mais de Vaga Música, de 1942, da Cecília Meireles)
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